domingo, 9 de março de 2008

Os jovens de ontem e hoje



Dia destes eu estava dando uma aula e me peguei falando algo que quase me fez dizer a todos coisas que não deveria ter dito. Tive vontade de dizer: Sabe, gente, eu sou seu professor, amo o que eu faço, sou soropositivo e gostaria muito que vocês soubessem de minha condição...sei lá entende...tipo assim (rs...)...acho muito importante que vocês todos tão jovens se cuidem, cuidem de sua saúde e se protejam desse maldito vírus HIV. Porque vocês têm toda a informação que eu não tive, a ciência evoluiu muito desde que eu descobri minha condição em 1987, mas ainda é muito difícil ser soropositivo neste país.
Estava lá eu falando de ícones da sociedade de todos os tempos e de repente apareceu a figura de James Dean entre todos os outros. Muitos poucos sabiam quem ele era, acho mesmo que dentre os 20 alunos somente 2 haviam falado do grande astro do cinema que morreu em um acidente automobilístico na metade da década de 50.
Percebi alguns risinhos quando comecei a falar sobre James Dean.

Não sei se foi paranóia da minha parte, mas era algo do tipo: esse professor tá mesmo véio, conhece até esse cara aí dos anos 50!
Confesso que fiquei um pouco bravo e tive vontade de dizer a eles que se sei das coisas é porque leio, me informo, etc...etc...mas isto só me tornaria um velho rabugento e não era essa minha intenção naquele momento...rs...
O engraçado é que dentre os ícones ali discutidos estava também um outro que dizia uma frase do tipo (a frase original era inglês, matéria que eu leciono): "A gente vive somente uma vez, e do jeito que vivo, uma vez é suficiente".
Como a atividade era descobrir qual daquelas pessoas famosas havia dito as frases, imediatamente a moçada a associou a James Dean. E estavam errados, quem havia dito tal frase havia sido Frank Sinatra.
Foi quando me peguei dizendo a eles que estavam errados, que James Dean jamais havia dito tal frase. Que mesmo tendo morrido aos 24 anos porque abusava da velocidade ao volante, ele muito provavelmente jamais havia achado que morreria em um acidente. E continuei...disse que quando somos jovens nos achamos imortais, sabemos, temos plena certeza que jamais morreremos antes de ficarmos bem velhinhos.
É como se tivéssemos um pacto com o cara lá em cima que nos protegesse em todas as situações. É por isso que nos arriscamos tanto quando somos jovens, vocês concordam? - perguntei a eles - e eles assentiram em uníssono.
Foi então que pensei em abrir o jogo e dizer a eles que comigo havia acontecido a mesma coisa quando tinha 19 anos. E no meu caso, só Deus sabe por quê, parece que o pacto havia funcionado, pois ainda estou aqui para contar as minhas histórias. Mesmo tendo adquirido um vírus mortal há 21 anos.
Depois me peguei pensando se eu me achava mesmo um super herói imortal quando tinha a idade deles. E a resposta veio como um relâmpago: sim.
Na verdade em 1987 se falava muito pouco em AIDS no Brasil, mas eu já havia ouvido falar a respeito, e podia ter me resguardado mais, mas não o fiz...justamente porque achei que comigo não aconteceria.
Em meu livro narro uma passagem triste, foi a perda de meu melhor amigo à época. Morreu em um acidente de carro na Via Dutra aos 18 anos de idade. Ele sequer sabia dirigir, nem sei bem como aconteceu o acidente, mas fico agora pensando se o amigo dele que estava ao volante sofria da mesma síndrome da juventude imortal da qual todos nós um dia já sofremos.

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