quinta-feira, 29 de abril de 2010

Mensagem de um leitor do blog

olá anderson!



tudo bem?


bom, primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo seu blog, com certeza deve ajudar muitas pessoas que assim como eu estão passando por um momento delicado.


eu tenho 22 anos, sou universitário, trabalho, moro longe sozinho, sou homossexual e descobri hoje que sou soropositivo.


recebi meu 1° exame que foi para confirmação e as chances são cerca de 10% de ter dado errado.


eu não quero criar falsas esperanças e me agarrar nesta chance pequena de não ser e depois me decepcionar.


eu peço desculpas, mas este endereço de e-mail é falso, mas a minha história é verdadeira. eu não consegui falar com minha família sobre o assunto, pois sei que não entenderiam, eu ia sofrer preconceito (como já sofro por ser gay).


eu imagino que pra você não tenha sido nada fácil encarar isto tudo. mas pela maneira que você escreve passa uma segurança enorme, que eu quero um dia poder ter.


eu criei coragem e contei para um amigo, à poucas horas, e ele foi muito acolhedor, como eu imaginava.


eu estava ciente dos riscos quando me relacionei sem proteção, mas mesmo assim aconteceu.


eu não assimilei tudo sabe. passo horas pensando nisso, em como vai ser daqui pra frente, como meus amigos vão encarar, como minha família vai encarar, se eu vou sofrer? se vai doer? cheguei a pensar em tirar minha vida, mas vi que seria uma bobagem imensa e uma covardia. nossa é um turbilhão de coisas que passa pela minha cabeça.


eu não sei como agir. tô tão confuso.


só queria saber se é normal. se vai demorar pra passar. existe uma fomra de encarar melhor esta situação?


me desculpe se estou sendo inconveniente, mas eu acho que isso pode me ajudar.






um abraço.






um amigo.

Minha resposta:
Oi, Felipe, tudo bem? Nossa! Não acredito mesmo em acasos, cara! Minha vida é uma doideira só, e pra melhorar um pouco mais resolvi fazer faculdade de manhã, ou seja, acordo todos os dias às 6 e meia da manhã e vou dormir à meia-noite, Hoje, como estava ocupado aqui com umas pesquisas pra faculdade deixei o e-mail aberto e há pouco recebi sua mensagem.



Bem, o que eu posso lhe dizer? Ah, me esqueci, e ainda sofro de depressão....rs...o que torna às vezes minha vida um pouco mais difícil...rs..mas como pode ver tenho muito bom humor.


Voltando a você, tem 22 anos, está na flor da idade, quando eu descobri que era soropositivo tinha 19 anos e recebi uma sentença de morte, ou melhor, o médico me disse que provavelmente eu não passaria dos 22...rs..e aqui estou com 43 anos, fiz em fevereiro passado. Eu lhe digo, meu amigo, com conhecimento de causa, siga em frente...não desista nunca...não vai doer nada não...tive minha primeira infecção causada pela baixa dos linfócitos em 1998, quando comecei a tomar os medicamentos que tomo até hoje. A vida como soropositivo não é fácil, mas a vida não é fácil de forma alguma, meu amigo, nada tem a ver com se ser bonito, rico, pobre, burro, inteligente, homossexual, hétero ou qualquer outra coisa, tem a ver com ser vida, eu acredito piamente que isso aqui é uma escola, e aqui estamos para aprender. Algumas pessoas aprendem através da vida, outras repetem, mas voltam e voltam, e retornam até aprenderem, é só uma questão de tempo, de mais nada...


O que mais posso lhe dizer? Posso lhe dizer que você é jovem e vai ficar bem, que tem sorte porque hoje existem inúmeras drogas que vão lhe ajudar a lidar com este vírus que adquiriu. A culpa não foi sua, nem tampouco de quem lhe transmitiu, não existe culpa, o que existe, para mim, é aprendizado, nada mais além disso.


Quanto à tentativa de suicídio, de abreviar "o sofrimento" da vida, tentei nesta minha trajetória algumas vezes fazê-lo, mas graças a Deus não fui bem sucedido....rs...tentei aos 15 anos (graças à depressão), depois aos 18 (também por causa dela) e na última vez foi em 2003. Foi a única vez que tentei suicídio depois de ter descoberto ser HIV+, mas nada tinha a ver com esse detalhe, tinha sim, a ver, com a bendita depressão. A tentativa de 2003 foi a qual mais vergonha me deu, uma vez que eu já era esse herói que voz fala....rs...mas sou humano, e você também é humano, sendo assim, é natural que nos desesperemos, que soframos diante das dificuldades da vida.


Tem gente neste mundo que me admira muito pelo que sou em relação à AIDS, tem gente que leu meu livro (leia-o se tiver interesse) e depois me agradeceu muito por tê-lo escrito e tem gente que não gosta de mim porque acha que eu só tenho esta força porque não passo dificuldades causadas pela AIDS, porque não fiquei cego, nem aleijado, nem outra coisa ruim dessas que a AIDS causava no passado quando ainda não haviam medicações. Estes que me criticam são os voodoos da AIDS, gente que adora se lamuriar e pedir dinheiro no farol dizendo que é coitado porque tem AIDS. Eu tomei a iniciativa, meu amigo, de não sofrer por causa disso. Estou sempre lutando por algo novo, por isso iniciei uma faculdade aos 43 anos de idade mesmo sabendo que a qualquer momento posso morrer. Mas quem não pode morrer a qualquer momento nesse nosso mundo, meu amigo? Resposta: ninguém.


Continue sua faculdade, selecione a quem deseja contar esse novo detalhe sobre sua vida, namore, passeie, aprenda com o HIV e com as limitações que ele pode vir a lhe trazer na vida, mas não desista nunca, porque ele não veio à sua vida para que você desista, mas sim, para que você o utilize como objeto de força, como alavanca pra uma vida melhor e nada medíocre. Vai dar tudo certo, só depende de você.


Bem, espero ter ajudado com estas minhas palavras. Peço licença desde já para colocar seu e-mail no blog, já que o motivo de ele existir é exatamente esse: transmitir nossas experiências às pessoas. Só posso lhe dizer uma coisa neste momento em que estou aqui caindo de sono...rs...sou HIV+ já há 24 anos, já estou envelhecendo com ele, e digo do alto de minha idade, com ele ou sem ele, não acho que minha vida teria sido mais ou menos difícil. Do fundo do meu coração não me sinto nem um pouco coitado por causa disso, pelo contrário, aprendi muito com a convivência com ele, e não troco minha visão de vida tendo tido ele como co-autor de minha vida...rs...por nada neste mundo.


Algumas pessoas têm câncer, outras sofrem de cegueira, surdez, tornam-se paraplégicos, tetraplégicos, atores famosos, milionários da megasena, ilustres desconhecidos, felizes garis, executivos infelizes e vice-versa. Cada qual tem sua história nessa vida, meu amigo. Não questione demais a sua, não corra o risco de perder muito tempo em sua vida, que pode ser longa, ou pode se curta, não interessa, mas é sua vida, e faça dela o melhor que puder sendo alguém que pode fazer alguma diferença nesse planeta em que vivemos. E quando eu digo fazer diferença não me refiro a ser um famoso astronauta, ou um astrônomo que descobre uma nova estrela, me refiro a ser útil a si mesmo e a um outra qualquer, carimbando documentos dia após dia em um cartório de registros ou salvando vidas em uma sala de cirurgia. Todos nós temos um papel aqui, e ninguém é melhor ou pior do que o outro, só é diferente...e se você for soropositivo confirmado pelo exame só será um pouco diferente dos outros, mas mesmo assim ainda será um ser humano especial mandado a este mundo por Alguém que acredita em você, não se esqueça disso.


Grande abraço,


Anderson

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  2. O comentário foi apagado porque quem a postou me solicitou que a apagasse para que seu e-mail não ficasse exposto aqui no blog.
    Abraços a todos!

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  3. Estive na prática da homossexualidade, acreditei ter nascido assim quando vi meu desejo sexual e meus sentimentos voltados á pessoas do mesmo sexo. O último relacionamento que tive durou 5 anos e até foi cogitada a hipótese de uma amiga lésbia engravidar de um de nós para sermos pais...No ano de 2000 deixei para trás este relacionamento e tudo e todos que me ligavam ao meio gay. As frustrações da vida gay me levaram ao fundo do poço emocional. tudo lá era muito inconstante. Hoje, após ter entrado num processo de bsuca ao meu verdadeiro ser, homem heterossexual que sou, percebo as raízes emocionais que me aprisionaram na homossexualidade. Quando passei a tratar (não a homossexualidade) mas sim os abusos que sofri durante infãncia e adolescência a minha sexualidade foi tomando o sentido verdadeiro. O desconforto de me relacionar com o sexo oposto foi vencido a cada passo da caminhada na busca de um sentido de vida. Quando olho para trás eu vejo que as raízes que me fizeram pensar ter nascido gay foram tratadas na sua profundidade. Para você que se diz gay, ou sofre com estes desejos pelo mesmo sexo eu deixo uma palavra: a homossexualidade não é o problema central, mas sim todas as raízes/marcas que te fizeram duvidar da sua masculinidade ou feminilidade. É possível deixar a homossexualidade, não é algo tão impossível como se prega por aí. Olhe para sua história, identifique estas marcas/ raízes que te colocaram dúvidas quanto à sua sexualidade e deixe o bálsamo que vem de Deus tratar cada área. Abraços, Saulo.Contatos: afontedejaco@gmail.com

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