sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Os Homo Viator da Aids.




E lá na faculdade neste meu último semestre do curso de Letras estamos estudando na área de Literatura a chamada literatura de viagem. É aquela parte da literatura que estuda o deslocamento das personagens nas estórias, ou no vocabulário contemporâneo, as histórias dos escritores, narradores e Eu líricos por aí espalhados por nossa vasta literatura brasileira. Pois bem, e dentro deste campo estudamos também o Homo Viator, em poucas palavras o homem viajante, que somos todos nós, ontem, hoje e amanhã. Quem de nós não viaja por esse mundo afora? Se não fisicamente por motivos que podem ser inúmeros, viajamos certamente mentalmente, através dos livros, dos nossos próprios textos e também, por que não? Por este nosso companheiro incansável que é nosso pensamento. Pois bem, há alguns anos publiquei aqui mesmo neste blog um texto que falava sobre minhas inquietações com relação a uma viagem minha aos Emirados Árabes, mais precisamente no final do ano de 2008.

Desde então tenho recebido inúmeros e-mails de leitores nossos, estes também viajantes, que têm lá como eu tinha várias dúvidas quanto ao que fazer com relação às benditas pílulas que tomamos, nós portadores do vírus HIV, para nos mantermos vivos de forma decente e digna neste teatro nosso de todos os dias que chamamos de vida. Todos eles têm a mesma inquietação sobre o que fazer para entrar nos países visitados carregando estas pílulas mágicas que nos mantêm vivos, mas que ao mesmo tempo entregam sem dó nossa condição de culpados portadores de um vírus que não pedimos para ter em nossas correntes sanguíneas. E estamos preocupados porque podemos ser rechaçados de qualquer área fronteiriça como personas non gratas em um país antes mesmo de lá pisarmos nossos pezinhos.

Temo informá-los, queridos leitores, que não possuo fórmula que resolva tais questões. Tudo que posso dizer é que continuo viajando, sempre que minha condição financeira me permite, e aonde quer que eu vá eu levo meus medicamentos porque embora até queira não posso deixar de tomá-los, sob pena de me quedar doente e dar vazão às temidas infecções oportunistas que podem marcar presença em meu corpinho já cansado de 45 primaveras que teima em sobreviver a estes virusinhos já há 25 anos desde que comecei a contar o período inicial de infecção em 13 de março de 1987.

Há exatamente um mês fui à Nova Iorque, passei só 3 dias por lá, cheguei em 09 de outubro e voltei ao Brasil no dia 12 de outubro. Fui ver o show daquela mulher por cuja voz me apaixonei na década de 80 quando eu contava ainda meus 13 anos: Barbra Streisand. Valeu a pena o sacrifício principalmente financeiro para tal façanha. Foi um momento inesquecível em minha vida, mesmo tendo visto minha deusa da uma distância imensa do palco, foi no Barclays Center, estádio de beisebol no bairro do Brooklyn em Nova York. Eu estava em um lugar bem alto, paguei US$ 600 pelo ingresso, nada barato para meus parco salário de professor, mas ao menos estava de frente para o palco, uns pobres coitados, ainda menos sortudos do que eu compraram ingressos e sentaram-se em cadeiras que estavam situadas às costas de nossa deusa Barbra. E ela, como de costume, humildemente se desculpava e de quando em vez dava lá uma olhadela para os menos favorecidos localizados às suas costas e perguntava se eles podiam vê-la pelo telão. Eu não entendi direito a razão de se construir assentos às costas do palco, mas depois caí na real e entendi que aquele estádio foi construído para se assistir partidas de hockey no gelo e beisebol, e que para tais eventos não existe palco, aquele palco ali estava só para aquela ocasião, o show Back to Brooklyn de Barbra Streisand que ali cantou maviosamente do alto de seus 70 anos, dignamente, não menos estrela do que foi nas vezes que subiu ao palco nas noites de Grammy e Oscar a que fez jus em sua vida de estrela.

Voltando ao assunto, eu admito que pensei em não levar medicamentos para me sentir livre de quaisquer embaraços na alfândega, principalmente porque havia lido sei lá onde que os Estados Unidos barravam portadores do vírus na alfândega. Tá aqui o link: http://forum.viagem.blog.uol.com.br/arch2008-07-13_2008-07-19.html#2008_07-18_13_40_46-8953204-0 . Na verdade o artigo diz que eles iriam passar a aceitar, na época fiquei muito p*** da vida porque tenho certeza que a nacionalidade do vírus que trago aqui comigo desde os meus 19 anos e que adquiri em terras brasileiras provavelmente é norte americana, uma vez que na época as infecções eram em sua maioria trazidas de lá por pessoas que haviam viajado para lá. Bem, deixa prá lá, de onde veio, para onde foi, para onde vai, isto não importa, a questão é: temos o direito de viajar, as fronteiras são invenção do homem, se elas tivessem que existir a natureza disso teria se encarregado. Como fez o mar para separar os continentes, mas não há mesmo nada que nos impeça de ir e vir, mais dia menos dia, lá chegamos se quisermos. E foi isso que eu fiz nesta minha trajetória de vida, e é isso que vou continuar a fazer, seguir meu caminho até que a natureza, ou Deus, ou Jeová, ou Alá, ou chamem do que quiser, achar que é hora de eu parar. E nem assim vou parar, porque aí, acredito eu, vou poder volitar, como espírito que eu serei...risos...aí sim é que ninguém vai me segurar...hahahaha!

Bem, meus queridos leitores, vou parar por aqui porque já passam de 900 palavras este meu relatozinho que decidi escrever. Para encerrar, queria pedir àqueles que me escreveram nestes últimos 4 anos me perguntando sobre as viagens e pedindo dicas, que me mandem e-mail relatando como foram suas experiências.

Tenho certeza que todos foram e voltaram sem maiores contratempos, tendo tomado os devidos cuidados, é claro, e acredito que seus relatos positivos podem ser muito úteis aos homo viators ainda inseguros de abrirem suas asas hivadas mar afora por este nosso mundão de meu Deus!! ;-)

Grande abraço a todos!

Anderson Ferreira – 09 de novembro de 2012