quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Carta de um leitor

Oi, pessoal!

A vida anda tão corrida e eu tenho tão pouco escrito por aqui, mas não me esqueço de vocês! Dia destes recebi um e-mail de uma leitora me perguntando se eu acreditava mesmo nestas notícias que andam aí pelos jornais dizendo que a cura está próxima ou se achava que aquilo tudo era balela. Me senti tão lisonjeado com a pergunta dela, me senti como se eu fosse um destes experts em um assunto que são entrevistados em rede nacional...kkkkk....quando na verdade sou tão leigo para falar sobre o assunto quanto cada um de vocês, meus queridos leitores do blog e do meu livro querido. Sim, meu livro querido, porque ele é como um filho que eu criei durante 3 anos, que eu alimentei em momentos tristes, difíceis e felizes também. E aí um dia ele estava pronto e eu tinha que decidir entre batalhar uma editora ou disponibilizá-lo na rede como optei por fazer ao final do história. 

Não me arrependo nem um pouco de não tê-lo publicado, muito pelo contrário, acho que ele tem maior valor do que se eu tivesse feito algum dinheiro com ele. Pra ser sincero gastei uma boa grana pra tê-lo revisado, pois queria que ele saísse da melhor forma para as pessoas que o lessem. Só aqui do blog sei que mais de 1000 pessoas já o leram. Estou pensando em publicá-lo em uma destas editoras online que estão disponíveis agora, só mesmo como uma forma de ampliar seus horizontes e fazê-lo chegar às pessoas mais facilmente. Na época que terminei de escrevê-lo, em meados de 2002, ainda não havia esta possibilidade.

O que eu queria dizer com este pequeno texto antes de publicar o e-mail ao qual o título desta postagem se refere é que cada um de vocês que leu o livro e o elogiaram, ou até mesmo os que o criticaram, que graças a Deus foram apenas 3 pessoas até agora...rs...cada um de vocês, fez, faz, e sempre farão valer a pena cada minuto gasto para escrevê-lo. Cada fim de semana, cada hora difícil e dolorida pela qual tive que passar rebuscando minhas memórias para escrevê-lo. Eu não sou expert em coisa alguma, muito menos no que se refere à cura da Aids ou não, mas minha opinião sincera é que acredito sim que a cura está muito, muito próxima mesmo. E querem saber o que eu acho disso? Não acha nada, absolutamente, nada. É verdade, hoje, pra mim, ser ou não ser soropositivo já não importa mais. A cada dia que passa em minha vida só posso dizer que me tornei um ser humano melhor graças ao resultado do que me ocorreu naquela fatídica sexta feira 13 de março de 1987. 
Hoje já tenho 46 anos e não sou mais aquele Anderson bonito que descobriu que era HIV positivo. Também não sou feio, sou maduro, isso sim eu sou, mas não me arrependo do fundo do meu coração de nada, absolutamente nada do que tenha feito em minha vida antes, durante e depois daquele dia. Eu quero muito, muito mesmo que a cura da Aids se torne uma realidade para que os milhões que sofrem com essa doença deixem de sofrer, para que as famílias deixem de ser dizimadas e destruídas ainda nos dias de hoje pelos efeitos do vírus HIV no organismo das pessoas, principalmente nos países onde o tratamento não é gratuito como no Brasil. Quero que os órfãos da Aids deixem de existir, quero que os adolescentes deixem de sofrer preconceito, quero que as esposas indefesas deixem de ser infectadas pelos seus maridos infiéis e vice-versa em uma proporção menor, infelizmente. Sim, o número de mulheres infectadas por maridos infiéis que eu tenho conhecimento é terrivelmente menor do que o número de maridos infectados por esposas infiéis. 
Eu sinceramente já estou no lucro, mas infelizmente nem todo mundo teve ou tem a benção que eu tenho, de viver tantos anos assim como eu vivo com este vírus. É por estas pessoas que eu torço, e é claro, não estou dizendo que não quero ser negativado também, mas o que eu quero dizer com isto é que eu nunca imaginei que isto fosse acontecer, do fundo do meu coração, sempre achei que morreria vítima de uma infecção oportunista causada pela Aids, e ainda posso morrer é claro, mas se morrer, acreditem, morro feliz pela vida que tive.
Ainda tenho vários planos e algo me diz que ainda vou realizá-los. Quero escrever mais livros, talvez para o público adolescente. Sou professor, trabalho com adolescentes e sou apaixonado por esta fase complicada da vida daquelas cabecinhas por quem tanto carinho eu tenho. Já me formei em Letras, ano passado, e agora me sinto mais capacitado ainda para me definir um escritor. Não que eu não acreditasse em meu talento para escrever quando escrevi o Harte, mas agora, com o diploma, me sinto mais creditado, se é que me entendem...rs.
Bem, é isto, meus queridos leitores. Li o e-mail abaixo em meu celular quando terminei de dar minha última aula às 22 horas. Cheguei em casa e nem jantei, subi ao meu quarto e resolvi escrever esta postagem. Estou separado pela enésima vez e parece que desta vez é pra valer, depois de 10 anos de tentativas e tentativas e mais tentativas. Agora sinto que o ciclo terminou mesmo, mas estou bem, estou feliz, feliz comigo mesmo, feliz com minhas decisões e feliz com minhas certezas. Dia destes disse a um amigo que não estou sozinho, só não estou namorando mais, sozinho eu estava antes quando estava em uma relação que já não existia há muito tempo e eu insistia em não dar um fim a ela. Minha saúde está muito bem, graças a Deus. Minha carga viral continua indetectável e meu CD4 na última contagem de 12 de junho é de 784. Dá pra reclamar? Não, não dá pra reclamar, só dá pra agradecer. Tenho um emprego de professor que amo de paixão, uma mãe maravilhosa que é mais do que mãe, é amiga e companheira sempre que eu preciso, a doce Mariana que muitos de vocês leitores conhecem. Ela tem hoje 64 anos, divorciou-se de meu pai, Eduardo, no ano 2000 e ele faleceu em novembro de 2004. Infelizmente ele nunca aceitou a separação, deixou-se consumir pelo ódio e ressentimento e seu corpo não aguentou, faleceu de um derrame cerebral.
Bem, é a vida, meus amigos. E ela continua independente de nós, os dias continuam independentemente de fazermos parte deles ou não, não é verdade?
Segue abaixo o e-mail do querido leitor que me inspirou a escrever tudo isso que aqui termino de escrever.
Grande abraço a todos!
Anderson

Tive contato com seu livro,a HartedevIVer há alguns anos atrás,não sei mais precisar o tempo,pois a memória não tem ajudado muito.Mas lembro-me perfeitamente o quanto aquela história me emocionou,o quanto chorei.Lembro-me de vários trechos em que fui o próprio Anderson.Era uma outra época,vivia cheio de dúvidas,não havia "saído do armário" , não sabia que rumo minha vida teria.

Passados alguns anos,descubro-me lendo o blog de um soropositivo,onde o autor se identificava como Anderson.Mais uma vez me apaixonei pelo estilo literário,pelas informações ali contidas,pelos esclarecimentos sobre viagens para um soropositivo,dentre tantas outras experiencias divididas com tanto carinho conosco.

Mas o tempo passou.Entre minhas diversas crises de depressão e bipolaridade,milhares de vezes exclui meus históricos do PC,sumi de todas as redes sociais,me isolei do mundo,como se isso fosse resolver tudo aquilo que eu achava que eram problemas.

Mas o destino mais uma vez me levou ao seu blog,onde,desta vez,li mais calmamente,de forma mais apurada,com outro olhar,e encontro o link para seu livro.Livro este que,consegui,pela segunda vez me apaixonar.

Mas aquela narrativa estava muito próxima de mim,como se eu já tivesse lido anteriormente. Eis o X da questão:Assim como nascer e morrer são coisas certas em nossa caminhada,o Anderson do livro que li anos atrás e o Anderson do blog são a mesma pessoa.

Hoje,depois de tantas coisas que aconteceram em minha vida,o abandono de um casamento,as várias vezes que me apaixonei,achando que havia encontrado meu príncipe encantado,a descoberta das baladas GLS, das saunas e nos últimos 3 anos o HIV,senti-me muito tocado mesmo pela sua história.

Não sei se "PARABÉNS"´é o termo correto,mas a sua luta,a forma como você encarou tanta coisa,os seus 26 anos de soropositividade,me dão força para continuar lutando com integridade pela minha vida,indo em busca de meus sonhos(ainda que para isso um pequeno empréstimo bancário seja necessário).Hoje me permito dizer que o fato de amar e dormir com outro homem não me torna menos homem,sou apenas um ser humano que ama outros.

Obrigado

Leitor,36 anos,homem,pai,filho,guerreiro,carente,FELIZ.

4 comentários:

  1. Anderson atualmente vc toma quantos comprimidos por dia? muitos efeitos colaterais? vida normal? Desculpa por essas perguntas me descobri soro e estou com medo da TARV... pode me responder essas perguntas? Fico grato!

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  2. Olá, Anônimo, me desculpe a ignorância, mas o que é TARV? Eu comecei a tomar medicações em 1998, 11 anos após ter descoberto que era HIV+. Nestes 15 anos devo ter trocado de terapia umas 4 ou 5 vezes, não sei ao certo. Houve um momento, acho que em 2003 ou 2004, que meu organismo ficou resistente a todas as drogas e foi muito complicado, aí meu médico resolveu que eu deveria parar de tomar tudo para ver o que aconteceria, e como por milagre a resistência cessou e ficou tudo bem. Hoje, acho que há 5 anos mais ou menos, tomo um total de 7 comprimidos ao dia divididos em duas doses diárias. Por volta de meio-dia tomo 2 kaletra, 1 lamivudina e 1 tenofovir. À noite, por volta de meia-noite, tomo 2 kaletra e 1 lamivudina. É tudo que tomo no momento, amigo. Cada combinação de droga, em diferentes fases da vida, teve seus efeitos colaterais, atualmente o efeito que sofro é o aumento dos triglicérides que combato com exercícios físicos. Eu tinha um belo par de coxas que foram levadas pela perda de gordura excessiva nos membros inferiores, pernas e coxas, nada horripilante, quem não me conheceu no passado não nota, mas eu percebo. Um certo acúmulo de gordura na parte das costas atrás do pescoço também que eu sei que está lá por causa das medicações. Já tive no passado perda de pelos no corpo e alisamento excessivo dos cabelos, mas depois os pelos voltaram com troca de terapia. Acho que é isso, espero ter respondido sua pergunta, ok? Com todos esses probleminhas só posso te dizer que não há nada que valha minha vida, não me apego a estes efeitos, já tenho 46 anos e fui muito bonito, não me importo com o processo de envelhecimento normal pelo qual eu passo, faz parte da vida com ou sem os remédios. ;-)

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    1. Hahaha...mais óbvio impossível, né? TARV...claro! 7 anos depois vi sua risada...e ri também...antes tarde do que nunca, né? Grande abraço!

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  3. Essa foi pra rir professor... Vamos lá... TerapiaAntiRetroViral... hahaha

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