quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL A TODOS E UM MARAVILHOSO 2011!!!

Meus queridos amigos, este ano foi punk! Achei que não fosse chegar ao fim dele. Sem contar a exagerada quantidade de trabalho que tenho na escola onde trabalho, sem ter direito a fins de semana há anos, etc, ainda inventei de começar uma faculdade. O primeiro ano acabou de acabar e agora estou de férias até 17 de janeiro.

Mal vou conseguir escrever por aqui porque estarei viajando por 30 dias, mas queria agradecer a todos que aqui compareceram mais este ano e que deixaram tantas mensagens de carinho e apoio nos comentários. Ano que vem tem mais, se Deus quiser.

Queria dizer a Cel, que me deixou uma mensagem linda, que fiquei muito lisonjeado com as coisas que ela me disse em seu e-mail. Sabe Cel, minha saúde está boa, os remédios têm surtido efeito e me sinto bem fisicamente, mas nem de longe sou esse super herói que posso transparecer ser em meu livro. Fiquei emocionado com sua narrativa e por perceber que minhas experiências de certa forma podem servir a outras pessoas, mas a vida é um curso que nunca termina, e ainda tenho que passar por muitas provas como todos nós. No momento estou aprendendo a repensar meus valores e as pessoas em minha vida.

A vida toda eu fiz tudo pensando nos outros e em vez de ajudar acho que só estraguei as pessoas ao meu redor, e pior, quando precisei delas elas só pensaram foi nelas mesmo. Bem, a minha ficha demorou, mas caiu e to trabalhando duro pra mudar as coisas. É pra isso que servem as experiências na vida, não é? Pra aprendermos, e eu tenho aprendido diariamente.

À Marina de Morais fica aqui meu agradecimento quanto ao convite para fazer uma reportagem comigo. Infelizmente não poderia dar uma entrevista, mostrar meu rosto, porque o preconceito ainda é imenso e trabalho em uma escola, somente por isso.

Ao Marcílio gostaria de dizer que espero que minha resposta ao seu e-mail tenha de alguma forma ajudado. Estou torcendo por você, Marcílio. Mande notícias quando puder.

Queria agradecer também ao Evandro Oliveira pelo recado carinhoso e dizer a ele que visitei seu blog e gostei muito, viu? Gosto muito de Clarice Lispector, fiz um trabalho sobre ela na faculdade este semestre e fiquei muito feliz em conhecer melhor sua obra.

A todos os Anônimos que me escreveram durante o ano de 2010 fica aqui também meu muito obrigado. Seus nomes não têm nenhuma importância, o que realmente importa são suas histórias e experiências e a confiança que depositam em mim quando me contam sobre suas vidas e experiências. E é isso que vamos levar desse mundo, nossas experiências e atitudes. O dinheiro, o carro, o plano de saúde caríssimo, o apartamento, nada disso vamos levar.

Minha meta pra 2011 é continuar sem fumar. Parei de fumar em 29 de junho último e to agüentando firme! Tenho também que perder peso, pois ganhei 12 quilos por ter parado de fumar. Agora tenho 86 quilos em um corpo de 1,78 metros e não estou muito feliz com isso.

Em quase 24 anos de infecção pelo HIV descobri que as doenças vêm até nós pra nos ensinar algo. Também aprendi que o pior HIV positivo é aquele que tem pena de si mesmo, ou até mesmo o pior diabético ou depressivo, não importa. As doenças estão aí pra aprendermos com elas, não pra nos vitimizarmos através delas. Não se esqueçam disso. O que te faz mal não é a doença, é a forma como você lida com ela.

Grande abraço a todos!

Anderson Ferreira

domingo, 24 de outubro de 2010

Se soubéssemos...


Às vezes achamos mesmo que sabemos. Que sabemos o que é certo e o que é errado. Que sabemos o que vai nos acontecer. Que sabemos o que é melhor para nós. Que sabemos que sabíamos exatamente o que iria nos acontecer.
Aceitamos isso tudo que nos é fadado acontecer diante da possibilidade de evolução. Sabemos que os momentos bons nos servirão de alento às nossas lamúrias. Que as crises, os momentos ruins, nos servirão como experiência e nova oportunidade de nos redimirmos de nossas faltas cometidas no passado esquecido. Sabemos que nos esquecemos para o nosso bem.
Ah...como eu queria! Como eu queria só uma vezinha infringir as regras e não me esquecer de lembrar...de lembrar. Lembrar de tudo que fiz, que prometi que não faria novamente, que me dediquei a consertar em meu caráter e que agora, agora, infelizmente não me lembro.
Tenho uma vaga idéia do que seja, e até me permito confessar que tenho a fantasia de que já tenha me redimido. Mas se era só isto por que então ainda continuo aqui? É por isso que tenho certeza que de algo me esqueci. Só queria mesmo me lembrar na ânsia de fazê-lo melhor.
Achamos que sabemos como devemos nos comportar. Que sabemos a roupa que devemos usar naquela ocasião. Que sabemos o que dizer à pessoa amiga nos momentos de tragédia, de desilusão e abandono. Será que sabemos? Soubéssemos nós não cometeríamos tantas gafes e injustiças. Perdoaríamos de primeiro momento aquele que nos ofende, aquele que nos deve, que nos fere e que nos faz sofrer.
Seria tão mais fácil se soubéssemos o que dizer e o que não dizer. Evitaríamos tantas mágoas e desentendimentos. Se soubéssemos o que nos permitir ouvir, saberíamos decerto quando interromper o diálogo.
Se soubéssemos...



Anderson Ferreira

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Técnica mata células infectadas pelo HIV-1

Uma pesquisa divulgada ontem na revista especializada Aids Research and Therapy traz uma nova esperança na busca por um tratamento mais efetivo contra o HIV, vírus que causa a Aids. Cientistas da Universidade Hebraica de Jerusalém conseguiram eliminar completamente as células doentes, ao injetar nas estruturas uma dose de DNA viral, o que faz com que elas morram.

De acordo com os pesquisadores, somente as células doentes são destruídas. “Aparentemente, a morte ocorre apenas nas células infectadas. Em nossa opinião, esse trabalho sugere uma nova abordagem para promover especificamente a morte de células atingidas pelo HIV-1 (tipo mais comum do vírus da Aids), o que pode, eventualmente, nos levar a desenvolver uma nova terapia antirretroviral”, afirmam os cientistas, na introdução do estudo.

Atualmente, os medicamentos de ponta utilizados no combate à Aids impedem que as células se multipliquem, mas nenhum remédio ou vacina é capaz de matar a infecção. A esperança dos pesquisadores é que uma nova terapia, baseada na autodestruição das células deflagrada pelo DNA viral, possa significar a verdadeira cura para a doença.

No artigo, eles alertam, porém, que a pesquisa está em estágio embrionário. Foram poucas as células utilizadas na pesquisa, o que significa que em um modelo mais complexo, como o organismo, a técnica pode não funcionar. “A abordagem que descrevemos está apenas em seus passos iniciais e mais pesquisas precisam ser feitas”, lembram, na conclusão do estudo.

Sêmen

Um outro estudo sobre a Aids publicado ontem na revista científica PLoS Pathogens mostrou que o HIV-1 pode sofrer mutações no trato genital e tornar-se diferente, no sêmen, do vírus que está presente no sangue do paciente infectado. A pesquisa foi liderada pela Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

Segundo os cientistas, a descoberta é significativa porque a maioria dos casos de transmissão do HIV-1 é por meio de contato sexual. Por isso, é importante entender a natureza do HIV-1 no trato genital, o que permitirá uma compreensão melhor do processo de transmissão e poderá, até mesmo, levar ao desenvolvimento futuro de uma vacina ou um medicamento antimicrobiano que bloqueie a passagem do vírus no momento do ato sexual.

Para chegar à conclusão sobre a mutação do vírus, a equipe do pesquisador Ronald Swanstrom comparou populações virais do HIV-1 no sangue e no sêmen de 16 homens com infecção crônica. Usando a técnica de sequenciamento genético, eles analisaram o código dos genes de ambas as amostras e descobriram que eram diferentes.
Notícia veiculada no site do Correio Braziliense em 20/08/2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A fome de Marina Silva

Oi pessoal, já faz algum tempo que não passo por aqui pra dar notícias. Está tudo bem comigo, na contagem regressiva pro final do semestre e pro descanso merecido de um mês longe da faculdade pra recarregar as baterias. Estou gostando muito da faculdade, mas estou exausto tentando conciliar o meu trabalho como professor de idiomas e o curso de Letras pela manhã. Estou correndo atrás de mais um sonho meu e não me arrependo nenhum pouco. A Aids está quietinha, graças a Deus. Há dois meses tive que trocar um medicamento do meu coquetel, o Abacavir (que vergonhosamente falta nas farmácias dos Postos de Saúde que distribuem o coquetel anti-HIV) pela Lamivudina. Não posso reclamar, a carga viral ainda continua indetectável e o CD4 também está por volta de 800 se não me engano. Bem, mas não foi pra falar de doença que vim aqui. Vim aqui pra dar um paste desse e-mail que recebi de uma amiga. Sempre fui admirador de Marina Silva, pra mim ela é tão sobrevivente como eu que convivo com o HIV há 24 anos. Não estou postando o e-mail no intuito de angariar votos ou discutir política, mas sim pra propagandear o ser humano que merece todo meu respeito.
Bjos a todos,
Anderson



A FOME DE MARINA


Por José Ribamar Bessa Freire*

Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”.

Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.

Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana.

Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.

Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados.

De um lado, reforçam a ideia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.

A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.“Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel…/ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!”.

Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.

A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?

O mapa da fome

A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.

Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.

Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.

A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever.

Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.

Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.

Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco , quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.

Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal.

Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.

Tudo vira bosta

Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que - na voz de Rita Lee - a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, “o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta”.

Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música - ‘Se Manca’ - dizendo a ela: “Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca”.

Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas - ‘Você vem’ - ela faz autocrítica antecipada, confessando: “Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem… e faz piada”. Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: “Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você”.

A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, “ela tem cara de professora de matemática e mete medo”. Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.

Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?

Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, “il péte de santé”.

O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil…

Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.

Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.

(*) Professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ)e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Mensagem de um leitor do blog

olá anderson!



tudo bem?


bom, primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo seu blog, com certeza deve ajudar muitas pessoas que assim como eu estão passando por um momento delicado.


eu tenho 22 anos, sou universitário, trabalho, moro longe sozinho, sou homossexual e descobri hoje que sou soropositivo.


recebi meu 1° exame que foi para confirmação e as chances são cerca de 10% de ter dado errado.


eu não quero criar falsas esperanças e me agarrar nesta chance pequena de não ser e depois me decepcionar.


eu peço desculpas, mas este endereço de e-mail é falso, mas a minha história é verdadeira. eu não consegui falar com minha família sobre o assunto, pois sei que não entenderiam, eu ia sofrer preconceito (como já sofro por ser gay).


eu imagino que pra você não tenha sido nada fácil encarar isto tudo. mas pela maneira que você escreve passa uma segurança enorme, que eu quero um dia poder ter.


eu criei coragem e contei para um amigo, à poucas horas, e ele foi muito acolhedor, como eu imaginava.


eu estava ciente dos riscos quando me relacionei sem proteção, mas mesmo assim aconteceu.


eu não assimilei tudo sabe. passo horas pensando nisso, em como vai ser daqui pra frente, como meus amigos vão encarar, como minha família vai encarar, se eu vou sofrer? se vai doer? cheguei a pensar em tirar minha vida, mas vi que seria uma bobagem imensa e uma covardia. nossa é um turbilhão de coisas que passa pela minha cabeça.


eu não sei como agir. tô tão confuso.


só queria saber se é normal. se vai demorar pra passar. existe uma fomra de encarar melhor esta situação?


me desculpe se estou sendo inconveniente, mas eu acho que isso pode me ajudar.






um abraço.






um amigo.

Minha resposta:
Oi, Felipe, tudo bem? Nossa! Não acredito mesmo em acasos, cara! Minha vida é uma doideira só, e pra melhorar um pouco mais resolvi fazer faculdade de manhã, ou seja, acordo todos os dias às 6 e meia da manhã e vou dormir à meia-noite, Hoje, como estava ocupado aqui com umas pesquisas pra faculdade deixei o e-mail aberto e há pouco recebi sua mensagem.



Bem, o que eu posso lhe dizer? Ah, me esqueci, e ainda sofro de depressão....rs...o que torna às vezes minha vida um pouco mais difícil...rs..mas como pode ver tenho muito bom humor.


Voltando a você, tem 22 anos, está na flor da idade, quando eu descobri que era soropositivo tinha 19 anos e recebi uma sentença de morte, ou melhor, o médico me disse que provavelmente eu não passaria dos 22...rs..e aqui estou com 43 anos, fiz em fevereiro passado. Eu lhe digo, meu amigo, com conhecimento de causa, siga em frente...não desista nunca...não vai doer nada não...tive minha primeira infecção causada pela baixa dos linfócitos em 1998, quando comecei a tomar os medicamentos que tomo até hoje. A vida como soropositivo não é fácil, mas a vida não é fácil de forma alguma, meu amigo, nada tem a ver com se ser bonito, rico, pobre, burro, inteligente, homossexual, hétero ou qualquer outra coisa, tem a ver com ser vida, eu acredito piamente que isso aqui é uma escola, e aqui estamos para aprender. Algumas pessoas aprendem através da vida, outras repetem, mas voltam e voltam, e retornam até aprenderem, é só uma questão de tempo, de mais nada...


O que mais posso lhe dizer? Posso lhe dizer que você é jovem e vai ficar bem, que tem sorte porque hoje existem inúmeras drogas que vão lhe ajudar a lidar com este vírus que adquiriu. A culpa não foi sua, nem tampouco de quem lhe transmitiu, não existe culpa, o que existe, para mim, é aprendizado, nada mais além disso.


Quanto à tentativa de suicídio, de abreviar "o sofrimento" da vida, tentei nesta minha trajetória algumas vezes fazê-lo, mas graças a Deus não fui bem sucedido....rs...tentei aos 15 anos (graças à depressão), depois aos 18 (também por causa dela) e na última vez foi em 2003. Foi a única vez que tentei suicídio depois de ter descoberto ser HIV+, mas nada tinha a ver com esse detalhe, tinha sim, a ver, com a bendita depressão. A tentativa de 2003 foi a qual mais vergonha me deu, uma vez que eu já era esse herói que voz fala....rs...mas sou humano, e você também é humano, sendo assim, é natural que nos desesperemos, que soframos diante das dificuldades da vida.


Tem gente neste mundo que me admira muito pelo que sou em relação à AIDS, tem gente que leu meu livro (leia-o se tiver interesse) e depois me agradeceu muito por tê-lo escrito e tem gente que não gosta de mim porque acha que eu só tenho esta força porque não passo dificuldades causadas pela AIDS, porque não fiquei cego, nem aleijado, nem outra coisa ruim dessas que a AIDS causava no passado quando ainda não haviam medicações. Estes que me criticam são os voodoos da AIDS, gente que adora se lamuriar e pedir dinheiro no farol dizendo que é coitado porque tem AIDS. Eu tomei a iniciativa, meu amigo, de não sofrer por causa disso. Estou sempre lutando por algo novo, por isso iniciei uma faculdade aos 43 anos de idade mesmo sabendo que a qualquer momento posso morrer. Mas quem não pode morrer a qualquer momento nesse nosso mundo, meu amigo? Resposta: ninguém.


Continue sua faculdade, selecione a quem deseja contar esse novo detalhe sobre sua vida, namore, passeie, aprenda com o HIV e com as limitações que ele pode vir a lhe trazer na vida, mas não desista nunca, porque ele não veio à sua vida para que você desista, mas sim, para que você o utilize como objeto de força, como alavanca pra uma vida melhor e nada medíocre. Vai dar tudo certo, só depende de você.


Bem, espero ter ajudado com estas minhas palavras. Peço licença desde já para colocar seu e-mail no blog, já que o motivo de ele existir é exatamente esse: transmitir nossas experiências às pessoas. Só posso lhe dizer uma coisa neste momento em que estou aqui caindo de sono...rs...sou HIV+ já há 24 anos, já estou envelhecendo com ele, e digo do alto de minha idade, com ele ou sem ele, não acho que minha vida teria sido mais ou menos difícil. Do fundo do meu coração não me sinto nem um pouco coitado por causa disso, pelo contrário, aprendi muito com a convivência com ele, e não troco minha visão de vida tendo tido ele como co-autor de minha vida...rs...por nada neste mundo.


Algumas pessoas têm câncer, outras sofrem de cegueira, surdez, tornam-se paraplégicos, tetraplégicos, atores famosos, milionários da megasena, ilustres desconhecidos, felizes garis, executivos infelizes e vice-versa. Cada qual tem sua história nessa vida, meu amigo. Não questione demais a sua, não corra o risco de perder muito tempo em sua vida, que pode ser longa, ou pode se curta, não interessa, mas é sua vida, e faça dela o melhor que puder sendo alguém que pode fazer alguma diferença nesse planeta em que vivemos. E quando eu digo fazer diferença não me refiro a ser um famoso astronauta, ou um astrônomo que descobre uma nova estrela, me refiro a ser útil a si mesmo e a um outra qualquer, carimbando documentos dia após dia em um cartório de registros ou salvando vidas em uma sala de cirurgia. Todos nós temos um papel aqui, e ninguém é melhor ou pior do que o outro, só é diferente...e se você for soropositivo confirmado pelo exame só será um pouco diferente dos outros, mas mesmo assim ainda será um ser humano especial mandado a este mundo por Alguém que acredita em você, não se esqueça disso.


Grande abraço,


Anderson

sábado, 13 de março de 2010

Feliz aniversário, HIV!!!

Hoje é sábado, 13 de março de 2010. Há exatos 23 anos, em uma sexta-feira 13 do mês de março de 1987 eu recebia meu exames Anti-HTLV III (era assim que se chamava à época) e junto com ele a sentença de morte.
Eu estou super híper cansado hoje, saí de casa às 6:30 da manhã, dei aula até meio-dia e depois fiquei fazendo trabalhos chatos e administrativos até às 16:30, mas não podia deixar de dar uma passadinha aqui e demarcar esta data.
Esta semana foi uma semana muito triste. Dois colegas de trabalho faleceram pela mesma razão em contextos diferentes. Um ainda estava empregado na empresa onde trabalho, e aos 32 anos se despediu desse mundo vítima de uma pneumonia que o levou após 10 dias de internação. O outro provavelmente tinha minha idade, ou poucos anos a menos, e tambéms se despediu por causa de uma pneumonia. Já havia saído da empresa onde trabalho, mas traçava uma carreira de sucesso e a teve abreviada por uma bactéria que o levou à morte.
Eu não sou muito de ficar chorando o leite derramado, mas tinha que comentar isso aqui. Sequer sei se eles eram soropositivos como eu, mas e se não fossem? E se fossem? O que importa? O que importa é que de acordo com minhas crenças aqui já não mais se encontram, estão do lado de lá tentando entender provavelmente o que lhes aconteceu.
A efemeridade da vida teima em bater à minha porta dia após dia, e eu fico pensando: será que tem um recado pra mim nisso tudo? Aí penso também: deixa de ser o centro do mundo, Anderson! Você é você, os outros são os outros!
Bem, eu sinto imensamente pelos colegas que já não estão mais aqui, e mais ainda por suas famílias que ficaram. Porque quem morre, muda de endereço, volta (de acordo com MINHAS crenças) ao mundo de onde veio e faz um balanço do que tinha a melhorar e quanto já melhorou e também do que ainda há por se fazer, mas quem fica, quem fica fica com a tristeza, com o vazio, com os senões, com as dúvidas, com a saudade...e com a obrigação de continuar neste mundo cada dia mais quente e abafado no hemisfério sul nesta época do ano.
Bem, eu não ia escrever pra reclamar, muito pelo contrário, tenho mesmo é que festejar por ter emprego, família, amigos, estar fazendo faculdade, blábláblá...mas to chateado e pronto e não sou celebridade, não tenho que sorrir pras câmeras ao mesmo tempo em que me sinto triste. Deus sabe mesmo o que faz, por mais que a gente ache que Ele não sabe...imagine...eu queria ser ator! Já pensou se eu tivesse me tornado ator e famoso? Seria o cara mais mal-humorado do mundo já que detesto ser observado pelas pessoas...rs...ainda bem que virei professor...rs..sou feliz sendo professor. Mas nestas horas, nas horas destes acontecimentos, nas horas em que o Abacavir falta na prateleira do Posto de Saúde e eu estou tendo que tomar Zidovudina no lugar dele, é que penso...que droga! Será que eu to com medo dessa tal bactéria devastadora que levou estes dois colegas de trabalho? Acho que não...acho que sim...acho que não to não, porque não tenho medo de morrer. Acho que to sim, porque como há 23 anos volto a pensar e dizer ao Homem lá de cima: agora, já que eu cheguei até aqui, tenho que terminar a faculdade, são só mais 5 semestres, Moço...deixa eu ficar mais um pouquinho, vai? Ah...e também quero ir à Austrália...e também quero viver um grande amor, daqueles que a gente tira o pé do chão por algumas horas só pra pensar na pessoa, daqueles que fazem a gente perder o chão de felicidade. Ainda quero escrever um livro, quem sabe ainda escrevo uma ficção na qual tudo que eu queria que me acontecesse aconteceria nela? Não sei...só sei que agradeço a Deus por tudo todos os dias...por estar bem de saúde e ter energia pra me levantar todos os dias e começar um novo dia...é pra isso que serve a vida, né?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

FALTA ABACAVIR EM SÃO PAULO

Querido leitor, falta Abacavir (Ziagen) nas prateleiras de medicamentos dos centros de distribuição de medicamentos do Estado e da Prefeitura na cidade de São Paulo.

O Abacavir é um nucleosídeo análogo e faz parte dos medicamentos que deveriam ser distribuídos gratuitamente pelo Estado. Eu tomo 3 medicamentos: Kaletra, Abacavir e Tenofovir. Infelizmente a retirada de um deles do meu "coquetel" pode resultar em resistência do vírus HIV e posterior aumento de carga viral e queda de células CD4 (são elas que protegem meu organismo contra a ação do HIV e das infecções oportunistas).

Pois é, emprestamos dinheiro ao FMI mas a saúde pública continua sendo deixada de lado. Procurei pela internet de cabo a rabo pra ver se achava alguma notícia consistente ou reveladora sobre este assunto, mas tudo que encontrei foram notícias de que o medicamento iria faltar e ponto final. Ou seja: se virem soropositivos, está em falta e ponto final.

Isso é no mínimo revoltante! Sou cidadão brasileiro como todos vocês, leitores, e fico indignado quando estas coisas acontecem! Desde dezembro que o C. R. Penha na zona leste de São Paulo onde me consulto com médico infectologista me informa que o medicamento está em falta e não há previsão para chegada antes da segunda quinzena de fevereiro. Pois bem, hoje já é 18 de fevereiro e nada!!!!

Vocês devem estar se perguntando como posso ter ficado sem um medicamento que mantém vivo desde dezembro do ano passado. E já que estamos falando de descaso no país da corrupção vai aí outra notícia:
Os medicamentos do coquetel anti-HIV não são vendidos em farmácias ou em laboratórios no Brasil, eles são somente para distribuição gratuita pela rede pública. Acontece que há cerca de 1 ano e pouco outro medicamento que tomo, o Kaletra, também estava em falta e um paciente no Hospital Heliópolis (destes conhecidos de fila que fazemos em consultórios médicos) me forneceu um telefone de uma "enfermeira" que tinha acesso aos medicamentos e poderia me arrumar o medicamento em falta por uma pequena colaboração que à época me custou cerca de R$ 300. Não sei como se fez o esquema, mas ela me disse que não poderia me trazer somente o medicamento que estava em falta, que precisava do nome de todos os medicamentos que eu tomava e me traria os 3 de uma vez. Graças a esta "senhora" que me entregou os medicamentos em uma estação do metrô eu fiquei com a dose correta do Kaletra até que a distribuição fosse devidamente normalizada na rede pública.
Isso aconteceu comigo porque tive a sorte de ter o dinheiro na hora e poder "pagar" pela medicação que na rede pública havia desaparecido.
Com certeza essas pessoas não compraram o medicamento do laboratório, uma vez que a comercialização é proibida em território nacional. Mas devido às falhas na distribuição algum lugar bem sabido por ela tinha o medicamento. Algum médico aviou uma receita com os medicamentos que tomo e ele foi retirado em algum lugar. Isso não é uma vergonha? Tenho certeza que Boris Kasoy há de concordar comigo.

Errei em não denunciá-la? Acredito que não, uma vez que utilizei o serviço no intuito de me manter vivo e sadio. Há erro na ação desta pessoa? É claro que há, no país da corrupção esta e outras falcatruas deveriam ser inexistentes, mas o tal mercado paralelo não deixará de existir enquanto o descaso das autoridades continuar com a saúde pública.

Eu tive a sorte de ter encontrado esta pessoa que me forneceu o tal telefone (já o joguei fora e sequer me lembro do nome da tal enfermeira) através do qual consegui o medicamento na época. Graças a isso fiquei com doses extras do medicamento desaparecido das prateleiras do Centro de Referência desde dezembro de 2009. Mas e daí? O medicamento está acabando, tenho mais 10 doses...e depois, o que faço? O que é que os Josés, as Marias e os Joãos desse país farão sem o Abacavir? Sem o Kaletra e sem mais sei lá o quê?

Há alguns meses vi na TV que a farmácia de um hospital referência em tratamento de Aids havia sido assaltada. Imediatamente me lembrei da tal enfermeira. Ela é culpada? Com certeza é, mas tenho a dizer que este mercado paralelo só existirá enquanto o descaso conosco prosseguir nas farmácias públicas de nosso país.

Eu farei o que de legal houver a meu alcance para obter o Abacavir do Estado. Acho que é possível mover uma ação no Juizado de Pequenas Causas para a obtenção do remédio, vou me informar a respeito.

O Abacavir, pelo que sei, é uma medicação que a maioria das pessoas que o toma o faz porque apresentou falhas na terapia anteriormente, ou seja, quem toma Abacavir só o toma porque já é resistente a outras medicações anteriormente tomadas. Ao menos é o meu caso, em 2003 ou 2004 minha carga viral começou a subir e meu CD4 começou a baixar: os medicamentos que tomava não estavam mais fazendo efeito.
Fiz um exame chamado genotipagem que comprovou que eu era resistente a todas as medicações existentes no mercado. Minha morte era certa em pouco tempo porque eu não tinha mais o que tomar.

Quis Deus, assim permitiu Ele, que eu ficasse alguns meses sem tomar nada e na realização do exame de genotipagem feito após as "férias" uma nova terapia fosse introduzida com o coquetel que tomo atualmente. Eu já vi outras pessoas morrerem por falta de medicação que fizesse efeito, mais uma vez tive sorte e isto não aconteceu comigo. Mas será que outros tiveram a mesma sorte que eu ou terão ao terem o Abacavir retirado de suas terapias? Só Deus é quem sabe.

A funcionária da farmácia em sua santa ignorância me disse hoje calmamente que a minha médica estava substituindo o Abacavir pela Estavudina. Eu já tomei Estavudina durante anos (sou soropositivo desde 1987) e minha carga viral só subia depois de pouco mais de um ano com aquela terapia. E ela ainda me deu de presente uma sensação de dormência no pé direito chamada de neurite periférica, muito comum quando da ingestão desse medicamento por algumas pessoas.

Bem, é isso, vamos ver que fim isso tudo vai ter. É bom o meu relato para as pessoas que acham que hoje em dia não devem se preocupar em fazer sexo seguro porque a Aids é perfeitamente tratável e alguns comprimidinhos diários podem resolver o problema. Se elas soubessem...

Se algum leitor tiver o Abacavir em seu armário porque mudou de medicação e não o devolveu ao Posto de Saúde, por favor entre em contato comigo, ok?

E pensando nisso me veio uma idéia. Vou abrir um blog

que pode ser acessado pelas pessoas que têm medicamentos que não utilizam mais e que podem ser utilizados por quem os necessita, não é uma boa idéia. Mãos à obra!!!

Abraços a todos!

Anderson

PS: se você não tem o Abacavir e tem dinheiro para comprá-lo, encontrei esta farmácia no exterior que vende cada comprimido por US$ 13,04 (R$ 23,77), ou seja, a dose para um mês sai pela bagatela de R$ 1426,20 no câmbio de hoje. E vamos pagando impostos!!!

http://pharmacy-bestsellers.net/comprar-ziagen-brazil.html