sábado, 10 de dezembro de 2011

E-mails de leitores

Como faço às vezes, torno público aqui e-mails de leitores porque acredito que nada há de mais importante para todos nós do que a convivência entre as pessoas e a troca de experiências. Aprendo muito com os e-mails que recebo e tento também passar um pouco do que eu sei. A indentidade das pessoas, desnecessário dizer, é completamente protegida.
Abraços a todos,
Anderson


 Salam Waleikum,

E-mail 1

Me chamo ........, vi seu blog e achei muito interresante sou mulçumano mas sou brasileiro, tenho 19 anos, conseguir um bolsa de estudos pra um a univercidade no iran foi tudo uma festa... o engraçado foi que chegando lah depois de dois meses fui fazer o exame de sangue pra aceitaçao da univercidade e descobrir que sou soro possitivo fui, expulso da univercidade e do país meus sonhos foram pro buraco, mas a vida é assim, me fale como sonseguiu lidar com a situaçao quando vc descobriu que é soro possitivo, vc contou pra sua familia? pois eu nao posso contar pra minha familia nem amigo... e fora que se contar na mesquita onde frequento serei expulso tambem... moro em SP onde tem hospitais que posso fazer tratamento especializado... e como é o inicio do tratamento???
se cuide, espero receber uma resposta
Abraço.

Salam Waleikum, amigo,
Desculpe pela demora na resposta, mas estava com problemas para receber as mensagens. Estive no Egito em janeiro de 2010 e janeiro de 2011 e passei 4 vezes por Dubai...há no meu blog uns posts que eu fiz comentando sobre a época e minha experiência. Eu entendo a barra que deve estar sendo pelo fato de ser muçulmano e ter que lidar com o preconceito, mas esta é a realidade com que terá que lidar, infelizmente, ou felizmente, porque se tem apenas 19 anos muitas mudanças ainda vai poder fazer em sua vida, como eu fiz em minha vida quando descobri que era soropositivo.
Eu tinha sua idade e hoje tenho 44 anos, completo 45 anos em fevereiro de 2012 e posso lhe garantir que com preconceito ou sem preconceitos cheguei aqui e não estou parado não...levo uma vida ativa, social (não muito porque faço faculdade e trabalho, mas não é por causa do vírus), sexual (xiiiii...piorou...rs...mas também nada tem a ver com o vírus HIV...rs...) e profissional (esta eu levo bem ativa, trabalho como um louco, mas amo o que eu faço e não me arrependo de nada. Ultimamente ando cansado das pessoas no meu trabalho que fazem tudo por interesse em se promover, mas isso nada tem a ver com o amor que tenho pela sala de aula e pelo ato de ensinar).
Eu não vou lhe contar aqui a história da minha vida porque ela é longa e está em um livro escrito por mim chamado “a Harte de vIVer. Como minha intenção com o livro nunca foi de ganhar dinheiro, etc...ele está disponível gratuitamente na internet no google docs. O link está no meu blog em
Eu não acho, meu amigo, que deva contar isso a ninguém porque simplesmente não é necessário. Ah...outra coisa...cuidado com os melhores amigos também...se puder evitar a decepção de ser traído por alguém que vá contar seu segredo a outras pessoas, melhor será. Não conte isso a ninguém que você não tenha plena certeza que não irá passar a notícia adiante. Um segredo deixa de ser segredo quando contamos a alguém, ok?
O melhor a fazer é procurar grupos de apoio onde as pessoas estão no mesmo barco, e mesmo assim não significa que o fato de alguém ter o vírus HIV+ como você e eu e tantas outras pessoas têm, faça delas pessoas dignas de confiança. O vírus pode estar com qualquer um, bom, mau, rico, pobre, muçulmano, católico, espírita, hétero, homossexual, etc. Participei por algum tempo de grupos de convivência e descobri que o fato de termos o vírus não nos faz pessoas iguais. Tinha a fantasia por exemplo, de achar que ter um namorado HIV+ seria a solução para meus problemas, pura besteira de minha parte, nestes 25 anos já tive relacionamentos com soropositivos e negativos, e nenhum relacionamento foi perfeito ou eterno porque o parceiro tinha o vírus ou não tinha o vírus. Somos todos humanos, não somos um vírus, entende? Quem precisa saber de sua condição no momento é somente seu médico e você, procure por grupos de auto-ajuda na internet, frequente a sala HIV do bate-papo UOL, lá tem gente muito legal, mas tem muito louco e mau caráter também, como em todo lugar da Internet. Há mais ou menos 10 anos eu era frequentador da sala de chat HIV e lá fiz muitos bons amigos...não vá a encontros sozinhos, costumávamos promover encontros de grupos da sala em bares e locais públicos e era muito legal na época. Infelizmente entrei num relacionamento há 10 anos e cometi a burrice de me afastar das pessoas da sala, mas não foi culpa de ninguém, foi culpa minha mesmo, e faz parte do meu processo de experiência e de amadurecimento. A gente só aprende errando e acertando, não é mesmo?
Quanto ao início do tratamento, só um médico vai poder lhe dizer como e quando iniciar, meu amigo. Quando eu iniciei, em 1998, o paciente tinha que ter um número X de CD4 (contagem de linfócitos) para dar início ao tratamento medicamentoso, ou seja, demorei porque a quantidade de linfócitos que eu possuía de 1995 a 1998 não era indicativa de terapia com medicamentos, mas hoje isso pode ter mudado, já ouvi pessoas dizendo que alguns médicos optam por iniciar a terapia assim que têm o resultado positivo e sua confirmação em mãos. Fale com o seu médico a respeito, ok?
Grande abraço e mande notícias quando puder!
Anderson

E-mail 2

Olá, Anderson. Sou descobri que sou soropositivo há um ano e quatro meses. Na verdade eu suspeitava e larguei prá lá. Mas pelo amor incondicional de um amigo fiz os exames e batata: tive que iniciar a terapia ARV logo de cara porque o cd4 estava em 189. Com três meses de tratamento minha carga viral, ora 37.800, ficou idetectável, mas o cd4 nesse um ano e quatro meses varia muito e nunca passou de 356. Nunca tive uma infecção oportunista.
Olá, amigo, tudo bem? Obrigado por ter me escrito. Então, como vc já deve saber eu descobri que era soropositivo em 1987 e iniciei tratamento em 1998, há 13 anos. Neste período mudei de terapia inúmeras vezes por ter tido resistência às drogas. A resistência, em alguns casos, era do meu corpo, houve uma época em que eu tomava um medicamento Crixivan que quase acabou comigo, cara. Sempre tive tendência a engordar desde a adolescência, mas quando tomei o Crixivan em meados de 2003 eu literalmente quase sumi...rs...lembro que usava até calça com cintura baixa porque a barriga sumiu...hehehe...desta parte eu gostei, mas fiquei muito magro com aparência de doente e isso me incomodava. Tive lipodistrofia nas pernas, as veias dos membros inferiores ficaram bastante expostas e eu tinha muita vergonha de ficar nú, usar shorts, ir à praia, etc. Aquilo me revoltou na época, mas um dia me dei conta que a lipodistrofia era nas pernas e não no cérebro, eu já estava com 36 anos e não ia mais mesmo ser modelo...rs...então relaxei e levei a questão pra terapia, etc. O que eu quero lhe dizer com isso tudo é que tudo passa, tudo é aprendizado, eu sequer imaginei que aquele quadro fosse regredir um dia. Aí eu tive uma crise de cólica renal grave e fui parar no hospital. Eu estava no meio de uma aula (sou professor), fui sentido uma dor aguda no abdômen, que foi crescendo, crescendo e me absorvendo (rs...plágio de uma música de um cantor da década de 70 ou 80, não me lembro bem) e fui ficando branco, branco e no fim fui parar no hospital. O efeito colateral do Crixivan mais temido por mim se fazia presente; era o cálculo renal. Trocando em miúdos, o médico solicitou um exame que à época sequer consegui fazer pela rede pública, paguei quase R$ 2000 pra fazer aquela tranqueira, foi uma genotipagem, e aí descobrimos que eu era resistente às 3 classes de drogas existentes naquele momento: inibidores de protease, inibidores de transcriptase reversa e não me lembro do que mais....continuando...minha sentença de morte tinha chegado em minha cabeça. Eu era soropositivo já há 16 anos, já não era mais nenhum garotinho, tinha 36 anos, estava resistente às drogas que podiam me ajudar...morri! Pensei...mas não foi nada disso como vc pode perceber deste e-mail que te escrevo aqui do planeta terra mesmo...rs...fiquei 3 meses sem tomar nada, iniciamos uma nova terapia e em 1 ano e meio estava tudo bem...desde então tive que trocar de remédios novamente por resistência e há cerca de quase dois anos, acho, minha CV está indetectável e a CV está acima de 800...já chegou até a 1000, mas fiquei anos, não foram meses, com no máximo 300 cópias de CV, meu amigo. O importante é como você está se sentindo, não fique se apegando muito a estes números de laboratório...pense positivo, imagine os viruzinhos morrendo, pedindo socorro todas as vezes que você engole os comprimidos...comigo funciona! Ah...e ano passado se não me engando quase fudeu tudo de novo outra vez. Estava tudo bem com os exames e tudo mais e começou a faltar Abacavir no mercado, resisti enquanto pude pra não mudar a medicação, mas não adiantou e acabamos tendo que trocar o Abacavir por Lamivudina. Hoje tomo Kaletra (2cp de 12/12 hrs), Tenofovir (1 cpr ao dia) e Lamivudina (1 cpr de 12/12 hrs)...são 7 comprimidos diários + Succinato de desvenlafaxina monoidratado (antidepressivo de nome comercial Pritiq 50mg)...então já são 8 diários...no momento...rs...
Como falo como uma matraca o dia inteiro na sala de aula, há 2 meses venho sofrendo de uma dor de garganta que não sara. O médico pediu exames e estou sofrendo de refluxo e tenho duas úlcerasinhas bastante ativas em meu estômago...adicione então à conta anterior + 1 comprimido diário de Pantoprazol 40 mg todas as manhãs em jejum...rs...mas quer saber? Eu to bem, graças a Deus...o importante é que estou me tratando e vivendo minha vida. Faço faculdade pelas manhãs, corro pra casa, almoço, preparo aulas, dou aulas todos os dias das 16 às 22 horas com intervalos de 20 minutos entre uma aula e outra e no sábado também dou aulas das 8 às 16 horas...é mole? Hehehe...mas to feliz por estar a um ano de terminar a faculdade de Letras e já faço planos pra pós-graduação em 2013.

Vendo sua experiência, seu amor pela vida e seu enjagamento virtual gostaria de perguntar duas coisas:
1) Será que nunca vou conseguir um cd4 mais alto que 356? O cd4 demora de estabilizar em niveis mais seguros? Não entendo porque não sobe, uma vez que a carga viral já é indetectável há um ano.

Bem, amigo, acho que já respondi a questão no texto acima, né? 356 não é um número baixíssimo de CD4...eu vivi com números muito próximos a isso, e até mesmo abaixo disso por mais de 12 anos quando tive acesso aos medicamentos em 1998. E mesmo tomando medicamentos houve vezes em que meu CD4 baixo pra 200...o mais baixo que tive foi 180, que eu me lembre...e eu estou aqui pra te escrever isso, né?

2)Como consigo seu livro?

O link para baixar o livro está no blog em http://www.ahartedeviver.blogspot.com/ Obrigado pela atenção. Fique com Deus!
Ah, e parabéns pela idéia do "banco de remédios". Sabia que eu já havia me questionado sobre isso? E quando alguém muda um esquema, será que devolvia os anteriores?

Então, meu amigo, a ideia do banco de remédios não deu certo, infelizmente, não porque eu não quisesse, mas na verdade não houve retorno e me dei conta que disponibilizar acesso a remédios é ato perigoso, talvez até ilegal, por isso desisti da ideia. Acho que talvez uma ONG pudesse fazê-lo, mas acho que seria muita responsabilidade dar acesso a medicamentos às pessoas sem ao menos sabermos o que elas farão com eles, né? Acho que o mais indicado seria que as pessoas devolvessem os medicamentos em caso de troca de terapia anti-retroviral, assim as pessoas poderiam ter acesso a eles em caso de falha na distribuição por parte do governo.
Grande abraço,
Anderson Ferreira







quarta-feira, 9 de março de 2011

Peço desculpas a todos...

Queridos amigos,
Tenho recebido vários e-mails de leitores me cobrando o fato de eu não ter mais escrito por aqui. Sei que a última vez que escrevi foi há mais de 2 meses, mas não vou mentir pra vocês. Não me sinto em condições atualmente de passar nada de bom a ninguém, minha vida tem sido um dia-a-dia de reflexões sobre o "valer a pena". Convivo com o vírus HIV desde que me conheço por gente, desde os 18 anos, e agora, aos 44 anos recém feitos olho pra trás e me pergunto: o que foi que eu fiz? E é em busca dessa resposta que tenho vivido ultimamente. Vivo como uma máquina que produz e produz e produz, mas quando olho pra trás vejo que os produtos são descartáveis e já não estão mais lá.
Estou cansado de tudo, principalmente das pessoas que não me respeitam e se utilizam de mim em todos os âmbitos: familiar, profissional, na vida como um todo. Quero mudar muitas coisas mas no momento estou da mãos atadas.
Podia, como muitos, chutar o pau da barraca e mudar tudo, mas não foi pra isso que vim, com certeza. Continuo a duras penas a execução de meus projetos, estou no 3º semestre da faculdade (ainda faltam mais 3), minha contagem de linfócitos anda bastante camarada comigo, ganhei bastante peso por ter parado de fumar (estou pesando 87 kg num corpo de 1,78 m), mas já consegui parar de ganhar, enfim, me arrasto pra lá e pra cá sem entender muito bem o que anda me acontecendo, mas não há de ser esta a última crise que vivo com certeza. Fui à Inglaterra no último janeiro, mas só trabalhei, estudei, trabalhei, estudei, e ponto final...mais nada de legal pra contar. Exceto por um final de semana em Paris com um amigo que realmente valeu a pena.
Acho que vou ter que procurar ajuda profissional novamente, mas tenho certeza que em breve vou estar bem, a ver a vida pelo prisma que sempre consegui ver em meus textos...
É isso aí, fica aqui minha mensagem a todos que têm me escrito. Em breve escreverei novamente dizendo que tudo isso já passou.
Grande abraço a todos!
Anderson

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL A TODOS E UM MARAVILHOSO 2011!!!

Meus queridos amigos, este ano foi punk! Achei que não fosse chegar ao fim dele. Sem contar a exagerada quantidade de trabalho que tenho na escola onde trabalho, sem ter direito a fins de semana há anos, etc, ainda inventei de começar uma faculdade. O primeiro ano acabou de acabar e agora estou de férias até 17 de janeiro.

Mal vou conseguir escrever por aqui porque estarei viajando por 30 dias, mas queria agradecer a todos que aqui compareceram mais este ano e que deixaram tantas mensagens de carinho e apoio nos comentários. Ano que vem tem mais, se Deus quiser.

Queria dizer a Cel, que me deixou uma mensagem linda, que fiquei muito lisonjeado com as coisas que ela me disse em seu e-mail. Sabe Cel, minha saúde está boa, os remédios têm surtido efeito e me sinto bem fisicamente, mas nem de longe sou esse super herói que posso transparecer ser em meu livro. Fiquei emocionado com sua narrativa e por perceber que minhas experiências de certa forma podem servir a outras pessoas, mas a vida é um curso que nunca termina, e ainda tenho que passar por muitas provas como todos nós. No momento estou aprendendo a repensar meus valores e as pessoas em minha vida.

A vida toda eu fiz tudo pensando nos outros e em vez de ajudar acho que só estraguei as pessoas ao meu redor, e pior, quando precisei delas elas só pensaram foi nelas mesmo. Bem, a minha ficha demorou, mas caiu e to trabalhando duro pra mudar as coisas. É pra isso que servem as experiências na vida, não é? Pra aprendermos, e eu tenho aprendido diariamente.

À Marina de Morais fica aqui meu agradecimento quanto ao convite para fazer uma reportagem comigo. Infelizmente não poderia dar uma entrevista, mostrar meu rosto, porque o preconceito ainda é imenso e trabalho em uma escola, somente por isso.

Ao Marcílio gostaria de dizer que espero que minha resposta ao seu e-mail tenha de alguma forma ajudado. Estou torcendo por você, Marcílio. Mande notícias quando puder.

Queria agradecer também ao Evandro Oliveira pelo recado carinhoso e dizer a ele que visitei seu blog e gostei muito, viu? Gosto muito de Clarice Lispector, fiz um trabalho sobre ela na faculdade este semestre e fiquei muito feliz em conhecer melhor sua obra.

A todos os Anônimos que me escreveram durante o ano de 2010 fica aqui também meu muito obrigado. Seus nomes não têm nenhuma importância, o que realmente importa são suas histórias e experiências e a confiança que depositam em mim quando me contam sobre suas vidas e experiências. E é isso que vamos levar desse mundo, nossas experiências e atitudes. O dinheiro, o carro, o plano de saúde caríssimo, o apartamento, nada disso vamos levar.

Minha meta pra 2011 é continuar sem fumar. Parei de fumar em 29 de junho último e to agüentando firme! Tenho também que perder peso, pois ganhei 12 quilos por ter parado de fumar. Agora tenho 86 quilos em um corpo de 1,78 metros e não estou muito feliz com isso.

Em quase 24 anos de infecção pelo HIV descobri que as doenças vêm até nós pra nos ensinar algo. Também aprendi que o pior HIV positivo é aquele que tem pena de si mesmo, ou até mesmo o pior diabético ou depressivo, não importa. As doenças estão aí pra aprendermos com elas, não pra nos vitimizarmos através delas. Não se esqueçam disso. O que te faz mal não é a doença, é a forma como você lida com ela.

Grande abraço a todos!

Anderson Ferreira

domingo, 24 de outubro de 2010

Se soubéssemos...


Às vezes achamos mesmo que sabemos. Que sabemos o que é certo e o que é errado. Que sabemos o que vai nos acontecer. Que sabemos o que é melhor para nós. Que sabemos que sabíamos exatamente o que iria nos acontecer.
Aceitamos isso tudo que nos é fadado acontecer diante da possibilidade de evolução. Sabemos que os momentos bons nos servirão de alento às nossas lamúrias. Que as crises, os momentos ruins, nos servirão como experiência e nova oportunidade de nos redimirmos de nossas faltas cometidas no passado esquecido. Sabemos que nos esquecemos para o nosso bem.
Ah...como eu queria! Como eu queria só uma vezinha infringir as regras e não me esquecer de lembrar...de lembrar. Lembrar de tudo que fiz, que prometi que não faria novamente, que me dediquei a consertar em meu caráter e que agora, agora, infelizmente não me lembro.
Tenho uma vaga idéia do que seja, e até me permito confessar que tenho a fantasia de que já tenha me redimido. Mas se era só isto por que então ainda continuo aqui? É por isso que tenho certeza que de algo me esqueci. Só queria mesmo me lembrar na ânsia de fazê-lo melhor.
Achamos que sabemos como devemos nos comportar. Que sabemos a roupa que devemos usar naquela ocasião. Que sabemos o que dizer à pessoa amiga nos momentos de tragédia, de desilusão e abandono. Será que sabemos? Soubéssemos nós não cometeríamos tantas gafes e injustiças. Perdoaríamos de primeiro momento aquele que nos ofende, aquele que nos deve, que nos fere e que nos faz sofrer.
Seria tão mais fácil se soubéssemos o que dizer e o que não dizer. Evitaríamos tantas mágoas e desentendimentos. Se soubéssemos o que nos permitir ouvir, saberíamos decerto quando interromper o diálogo.
Se soubéssemos...



Anderson Ferreira

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Técnica mata células infectadas pelo HIV-1

Uma pesquisa divulgada ontem na revista especializada Aids Research and Therapy traz uma nova esperança na busca por um tratamento mais efetivo contra o HIV, vírus que causa a Aids. Cientistas da Universidade Hebraica de Jerusalém conseguiram eliminar completamente as células doentes, ao injetar nas estruturas uma dose de DNA viral, o que faz com que elas morram.

De acordo com os pesquisadores, somente as células doentes são destruídas. “Aparentemente, a morte ocorre apenas nas células infectadas. Em nossa opinião, esse trabalho sugere uma nova abordagem para promover especificamente a morte de células atingidas pelo HIV-1 (tipo mais comum do vírus da Aids), o que pode, eventualmente, nos levar a desenvolver uma nova terapia antirretroviral”, afirmam os cientistas, na introdução do estudo.

Atualmente, os medicamentos de ponta utilizados no combate à Aids impedem que as células se multipliquem, mas nenhum remédio ou vacina é capaz de matar a infecção. A esperança dos pesquisadores é que uma nova terapia, baseada na autodestruição das células deflagrada pelo DNA viral, possa significar a verdadeira cura para a doença.

No artigo, eles alertam, porém, que a pesquisa está em estágio embrionário. Foram poucas as células utilizadas na pesquisa, o que significa que em um modelo mais complexo, como o organismo, a técnica pode não funcionar. “A abordagem que descrevemos está apenas em seus passos iniciais e mais pesquisas precisam ser feitas”, lembram, na conclusão do estudo.

Sêmen

Um outro estudo sobre a Aids publicado ontem na revista científica PLoS Pathogens mostrou que o HIV-1 pode sofrer mutações no trato genital e tornar-se diferente, no sêmen, do vírus que está presente no sangue do paciente infectado. A pesquisa foi liderada pela Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

Segundo os cientistas, a descoberta é significativa porque a maioria dos casos de transmissão do HIV-1 é por meio de contato sexual. Por isso, é importante entender a natureza do HIV-1 no trato genital, o que permitirá uma compreensão melhor do processo de transmissão e poderá, até mesmo, levar ao desenvolvimento futuro de uma vacina ou um medicamento antimicrobiano que bloqueie a passagem do vírus no momento do ato sexual.

Para chegar à conclusão sobre a mutação do vírus, a equipe do pesquisador Ronald Swanstrom comparou populações virais do HIV-1 no sangue e no sêmen de 16 homens com infecção crônica. Usando a técnica de sequenciamento genético, eles analisaram o código dos genes de ambas as amostras e descobriram que eram diferentes.
Notícia veiculada no site do Correio Braziliense em 20/08/2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A fome de Marina Silva

Oi pessoal, já faz algum tempo que não passo por aqui pra dar notícias. Está tudo bem comigo, na contagem regressiva pro final do semestre e pro descanso merecido de um mês longe da faculdade pra recarregar as baterias. Estou gostando muito da faculdade, mas estou exausto tentando conciliar o meu trabalho como professor de idiomas e o curso de Letras pela manhã. Estou correndo atrás de mais um sonho meu e não me arrependo nenhum pouco. A Aids está quietinha, graças a Deus. Há dois meses tive que trocar um medicamento do meu coquetel, o Abacavir (que vergonhosamente falta nas farmácias dos Postos de Saúde que distribuem o coquetel anti-HIV) pela Lamivudina. Não posso reclamar, a carga viral ainda continua indetectável e o CD4 também está por volta de 800 se não me engano. Bem, mas não foi pra falar de doença que vim aqui. Vim aqui pra dar um paste desse e-mail que recebi de uma amiga. Sempre fui admirador de Marina Silva, pra mim ela é tão sobrevivente como eu que convivo com o HIV há 24 anos. Não estou postando o e-mail no intuito de angariar votos ou discutir política, mas sim pra propagandear o ser humano que merece todo meu respeito.
Bjos a todos,
Anderson



A FOME DE MARINA


Por José Ribamar Bessa Freire*

Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”.

Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.

Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana.

Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.

Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados.

De um lado, reforçam a ideia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.

A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.“Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel…/ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!”.

Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.

A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?

O mapa da fome

A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.

Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.

Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.

A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever.

Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.

Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.

Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco , quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.

Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal.

Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.

Tudo vira bosta

Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que - na voz de Rita Lee - a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, “o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta”.

Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música - ‘Se Manca’ - dizendo a ela: “Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca”.

Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas - ‘Você vem’ - ela faz autocrítica antecipada, confessando: “Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem… e faz piada”. Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: “Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você”.

A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, “ela tem cara de professora de matemática e mete medo”. Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.

Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?

Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, “il péte de santé”.

O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil…

Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.

Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.

(*) Professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ)e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Mensagem de um leitor do blog

olá anderson!



tudo bem?


bom, primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo seu blog, com certeza deve ajudar muitas pessoas que assim como eu estão passando por um momento delicado.


eu tenho 22 anos, sou universitário, trabalho, moro longe sozinho, sou homossexual e descobri hoje que sou soropositivo.


recebi meu 1° exame que foi para confirmação e as chances são cerca de 10% de ter dado errado.


eu não quero criar falsas esperanças e me agarrar nesta chance pequena de não ser e depois me decepcionar.


eu peço desculpas, mas este endereço de e-mail é falso, mas a minha história é verdadeira. eu não consegui falar com minha família sobre o assunto, pois sei que não entenderiam, eu ia sofrer preconceito (como já sofro por ser gay).


eu imagino que pra você não tenha sido nada fácil encarar isto tudo. mas pela maneira que você escreve passa uma segurança enorme, que eu quero um dia poder ter.


eu criei coragem e contei para um amigo, à poucas horas, e ele foi muito acolhedor, como eu imaginava.


eu estava ciente dos riscos quando me relacionei sem proteção, mas mesmo assim aconteceu.


eu não assimilei tudo sabe. passo horas pensando nisso, em como vai ser daqui pra frente, como meus amigos vão encarar, como minha família vai encarar, se eu vou sofrer? se vai doer? cheguei a pensar em tirar minha vida, mas vi que seria uma bobagem imensa e uma covardia. nossa é um turbilhão de coisas que passa pela minha cabeça.


eu não sei como agir. tô tão confuso.


só queria saber se é normal. se vai demorar pra passar. existe uma fomra de encarar melhor esta situação?


me desculpe se estou sendo inconveniente, mas eu acho que isso pode me ajudar.






um abraço.






um amigo.

Minha resposta:
Oi, Felipe, tudo bem? Nossa! Não acredito mesmo em acasos, cara! Minha vida é uma doideira só, e pra melhorar um pouco mais resolvi fazer faculdade de manhã, ou seja, acordo todos os dias às 6 e meia da manhã e vou dormir à meia-noite, Hoje, como estava ocupado aqui com umas pesquisas pra faculdade deixei o e-mail aberto e há pouco recebi sua mensagem.



Bem, o que eu posso lhe dizer? Ah, me esqueci, e ainda sofro de depressão....rs...o que torna às vezes minha vida um pouco mais difícil...rs..mas como pode ver tenho muito bom humor.


Voltando a você, tem 22 anos, está na flor da idade, quando eu descobri que era soropositivo tinha 19 anos e recebi uma sentença de morte, ou melhor, o médico me disse que provavelmente eu não passaria dos 22...rs..e aqui estou com 43 anos, fiz em fevereiro passado. Eu lhe digo, meu amigo, com conhecimento de causa, siga em frente...não desista nunca...não vai doer nada não...tive minha primeira infecção causada pela baixa dos linfócitos em 1998, quando comecei a tomar os medicamentos que tomo até hoje. A vida como soropositivo não é fácil, mas a vida não é fácil de forma alguma, meu amigo, nada tem a ver com se ser bonito, rico, pobre, burro, inteligente, homossexual, hétero ou qualquer outra coisa, tem a ver com ser vida, eu acredito piamente que isso aqui é uma escola, e aqui estamos para aprender. Algumas pessoas aprendem através da vida, outras repetem, mas voltam e voltam, e retornam até aprenderem, é só uma questão de tempo, de mais nada...


O que mais posso lhe dizer? Posso lhe dizer que você é jovem e vai ficar bem, que tem sorte porque hoje existem inúmeras drogas que vão lhe ajudar a lidar com este vírus que adquiriu. A culpa não foi sua, nem tampouco de quem lhe transmitiu, não existe culpa, o que existe, para mim, é aprendizado, nada mais além disso.


Quanto à tentativa de suicídio, de abreviar "o sofrimento" da vida, tentei nesta minha trajetória algumas vezes fazê-lo, mas graças a Deus não fui bem sucedido....rs...tentei aos 15 anos (graças à depressão), depois aos 18 (também por causa dela) e na última vez foi em 2003. Foi a única vez que tentei suicídio depois de ter descoberto ser HIV+, mas nada tinha a ver com esse detalhe, tinha sim, a ver, com a bendita depressão. A tentativa de 2003 foi a qual mais vergonha me deu, uma vez que eu já era esse herói que voz fala....rs...mas sou humano, e você também é humano, sendo assim, é natural que nos desesperemos, que soframos diante das dificuldades da vida.


Tem gente neste mundo que me admira muito pelo que sou em relação à AIDS, tem gente que leu meu livro (leia-o se tiver interesse) e depois me agradeceu muito por tê-lo escrito e tem gente que não gosta de mim porque acha que eu só tenho esta força porque não passo dificuldades causadas pela AIDS, porque não fiquei cego, nem aleijado, nem outra coisa ruim dessas que a AIDS causava no passado quando ainda não haviam medicações. Estes que me criticam são os voodoos da AIDS, gente que adora se lamuriar e pedir dinheiro no farol dizendo que é coitado porque tem AIDS. Eu tomei a iniciativa, meu amigo, de não sofrer por causa disso. Estou sempre lutando por algo novo, por isso iniciei uma faculdade aos 43 anos de idade mesmo sabendo que a qualquer momento posso morrer. Mas quem não pode morrer a qualquer momento nesse nosso mundo, meu amigo? Resposta: ninguém.


Continue sua faculdade, selecione a quem deseja contar esse novo detalhe sobre sua vida, namore, passeie, aprenda com o HIV e com as limitações que ele pode vir a lhe trazer na vida, mas não desista nunca, porque ele não veio à sua vida para que você desista, mas sim, para que você o utilize como objeto de força, como alavanca pra uma vida melhor e nada medíocre. Vai dar tudo certo, só depende de você.


Bem, espero ter ajudado com estas minhas palavras. Peço licença desde já para colocar seu e-mail no blog, já que o motivo de ele existir é exatamente esse: transmitir nossas experiências às pessoas. Só posso lhe dizer uma coisa neste momento em que estou aqui caindo de sono...rs...sou HIV+ já há 24 anos, já estou envelhecendo com ele, e digo do alto de minha idade, com ele ou sem ele, não acho que minha vida teria sido mais ou menos difícil. Do fundo do meu coração não me sinto nem um pouco coitado por causa disso, pelo contrário, aprendi muito com a convivência com ele, e não troco minha visão de vida tendo tido ele como co-autor de minha vida...rs...por nada neste mundo.


Algumas pessoas têm câncer, outras sofrem de cegueira, surdez, tornam-se paraplégicos, tetraplégicos, atores famosos, milionários da megasena, ilustres desconhecidos, felizes garis, executivos infelizes e vice-versa. Cada qual tem sua história nessa vida, meu amigo. Não questione demais a sua, não corra o risco de perder muito tempo em sua vida, que pode ser longa, ou pode se curta, não interessa, mas é sua vida, e faça dela o melhor que puder sendo alguém que pode fazer alguma diferença nesse planeta em que vivemos. E quando eu digo fazer diferença não me refiro a ser um famoso astronauta, ou um astrônomo que descobre uma nova estrela, me refiro a ser útil a si mesmo e a um outra qualquer, carimbando documentos dia após dia em um cartório de registros ou salvando vidas em uma sala de cirurgia. Todos nós temos um papel aqui, e ninguém é melhor ou pior do que o outro, só é diferente...e se você for soropositivo confirmado pelo exame só será um pouco diferente dos outros, mas mesmo assim ainda será um ser humano especial mandado a este mundo por Alguém que acredita em você, não se esqueça disso.


Grande abraço,


Anderson