quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Proteína em estudo não deixa vírus da AIDS se reproduzir

Pois é, meus amigos, há pouco eu falava com minha mãe sobre meus feeelings sobre determinadas coisas em minha vida. Me lembro bem que em 1988 meu amigo Vítor (pra quem não leu o livro ainda, foi um grande amigo!) chegava em casa radiante só por causa de uma notinha mínima no jornal que dizia que cientistas continuavam a pesquisar a cura para a AIDS. Naquela época, se bem me recordo, tais notícias tratavam em sua maioria de  doações que eram feitas por milionários na tentativa de colaborar com algo que a grosso modo era impossível ainda de se imaginar. Não havia muita luz no fim do túnel, mas artistas como Barbra Streisand, Liz Taylor e muitos outros, utilizavam-se de sua fama para lançar shows e campanhas em auxílio às vítimas da terrível doença que assolava o planeta em uma rapidez incrível, e com a mesma rapidez matava suas vítimas que contraíam doenças oportunistas como o "famoso" Sarcoma de Kaposi, a pneumonia causada pelo pneumocystis carinii e outras mais. Hoje em dia a população que sobreviveu, como eu, bem sabe o que significam estes nomes, no entanto, duvido que os infectados neste milênio saibam o que significam estes nomes. E que bom que não sabem! Sim, meus amigos, este tipo de ignorância é bom demais, né? Se não sabem é porque estas doenças não os amedrontam como nos amedrontavam há 15, 20 anos, graças a Deus, e aos cientistas.

Voltando à questão dos feelings aos quais me refiro no início deste texto, eu me lembro bem que costumava mostrar às pessoas que me davam as tais boas notícias com relação à possível cura, uma falsa felicidade no intuito de não demonstrar minha certeza de que tudo aquilo estava apenas começando, que não haveria cura para aquela doença terrível tão cedo na história da medicina mundial. Algo, não perguntem o quê, quem, como, mas eu sabia que de alguma forma, que aquilo tudo, que aquelas notícias vagas, eram mais pra vender jornal do que qualquer outra coisa. E digo mais, sabia, no fundo de meu coração, que perderia muitas pessoas queridas por causa da AIDS. Quanto a mim, me recusava a pensar se iria morrer logo ou não, eu já havia mesmo conseguido ultrapassar o tempo que o médico havia me dado no laboratório em fevereiro de 1987: dois anos. Sabia que tinha que prosseguir, o resto era resto, principalmente quando estava na Inglaterra, longe de casa, não adiantava temer a AIDS, a pneumonia fatal que poderia me afetar a qualquer momento, tinha, assim como tenho até hoje, quase 26 anos depois, que continuar minha vida.

E assim tenho feito, terminei a faculdade em dezembro passado e agora estou decidindo se faço ou não faço pós-graduação neste semestre mesmo, e não é por desânimo que titubeio, mas sim por questões financeiras que não vêm ao caso agora. Mas falando dos meus feelings...risos...foco, Anderson! Foco no texto!!! Então, falando deles, tenho a sensação que muito em breve a cura significativa virá, e não estou dizendo isso pra moçada sair por aí transando sem camisinha a torto e à direita. Estou dizendo porque realmente sinto que nos próximos 5, 10 anos, haverá mesmo uma cura para a AIDS. Talvez uma vacina pra proteger definitivamente aqueles que ainda não foram infectados, o que graças a Deus ainda não é minoria...talvez um medicamento que pare de uma vez por todas a replicação do vírus, não sei, mas sei que esta doença tão cruel que ainda mata milhões de pessoas no mundo todos os anos e está tão densamente ligada à sexualidade e ao amor, ah...essa há de ser debelada pelos cientistas.

Eu vivo com ela desde os meus 19 anos como todos sabem, e pode até ser que morra vítima de uma doença por ela causada, mas da mesma forma que eu sentia na minha adolescência (quem leu meu livro sabe disso) que algo "terrível" iria me acontecer e que seria uma grande provação em minha vida, eu também sinto agora que esta etapa AIDS está quase chegando ao seu fim. Ainda há, dirão os pessimistas de plantão, a possibilidade de vírus ainda mais mortais aparecerem, ainda há o câncer, ainda há a violência nas grandes cidades, ainda há e sempre haverá coisas terríveis que colocam em perigo a raça humana e nossa possibilidade de se despedir da vida quando já estivermos bem velhinhos, etc, etc, etc. Sim, não estou aqui euzinho dizendo que a vida será maravilhosa após a descoberta da cura da AIDS, mas querem saber o que eu penso? O que mais mata neste vírus, a meu ver, é a maldita conotação moral que suas vítimas carregam. A maldita conotação sexual que suas vítimas, sim, somos todos vítimas, carregam consigo. O portador da AIDS é um dos poucos, se não o único, portador de uma doença grave, que além de tê-la, sofre o terror da discriminação em inúmeros ambientes. E pior, não é somente pela ignorância das pessoas que insistem em ignorá-la por todos estes anos, mas é porque ela está ligada à sexualidade, ao homossexualismo pra ser mais direto.

Ano passado, quando Reynaldo Gianecchini se submetia a tratamento na tentativa, graças a Deus no caso dele bem sucedida, de debelar o câncer que o matava, uma "amiga", que não sabe que sou soropositivo, descarregou sua arma à mesa na qual estávamos todos reunidos em um grupo de colegas de trabalho a fatídica sentença: Gente! Ouvi por aí um papo de que ele tem é AIDS, não é só câncer!

Me senti como se estivesse em uma reunião de pessoas na década de 10 do século passado, sei lá quando, mas com certeza as expressões de todos à mesa me lembravam uma novelinha destas que passam na telinha no horário das 18 horas e alguns minutos! O mais triste foi perceber que eu estava na década de 10 sim, mas no terceiro milênio, século XXI, cidade de São Paulo, 5ª ou 6ª maior cidade do mundo. Todos pareceram aliviados quando um ser destes apaziguadores, da turma do deixa disso, mudou o rumo da conversa e todas se convenceram que o Rey (pra que eu pareça íntimo daquele moço bonito externa e internamente) não tinha nem AIDS e nem era gay!!!

É por isso que eu digo, não há doença que eu conheça em minha curta existência de 45 anos de vida, que seja tão julgada como a AIDS. Talvez a hanseníase, não sei, mas eu nunca conheci alguém que tenha hanseníase, sei que há muitas pessoas com esta doença, mas também sei que não é o tipo de doença que se divulgue ter por aí afora.

Pois bem, meus amigos, escrevi isto tudo porque há dois dias me deparei com uma notícia que transcreverei abaixo sendo que não acredito ser possível lê-la integralmente na imagem que vou anexar a esta postagem.
Me despeço de todos aqui já nesta parte do texto porque não transmitirei mais minhas opiniões nas linhas que se seguirão abaixo, apenas as copiarei do jornal de onde as tirei. Desejo a todos um Feliz ano de 2013 (ainda há tempo, né?), que tragédias como a ocorrida domingo passado em Santa Maria no Rio Grande do Sul nunca mais ocorram em nosso país nem em pais qualquer do mundo, ao menos não causada pela irresponsabilidade do ser humano; que a cura da AIDS seja finalmente descoberta pelos cientistas que habitam este planeta; que a ignorância humana e o triste hábito de julgar as pessoas por sua orientação sexual se torne uma prática de museu; que a violência diminua, ou melhor, desapareça de tal forma que os urubus de plantão nos sanguinários programas televisivos exibidos em nossa triste TV padeçam de desemprego por falta de desgraças ou arrumem melhor utilidade para seus talentos jornalísticos. Enfim, tudo de bom pra todos nós! ;-)

Proteína em estudo não deixa vírus da AIDS se reproduzir

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Os Homo Viator da Aids.




E lá na faculdade neste meu último semestre do curso de Letras estamos estudando na área de Literatura a chamada literatura de viagem. É aquela parte da literatura que estuda o deslocamento das personagens nas estórias, ou no vocabulário contemporâneo, as histórias dos escritores, narradores e Eu líricos por aí espalhados por nossa vasta literatura brasileira. Pois bem, e dentro deste campo estudamos também o Homo Viator, em poucas palavras o homem viajante, que somos todos nós, ontem, hoje e amanhã. Quem de nós não viaja por esse mundo afora? Se não fisicamente por motivos que podem ser inúmeros, viajamos certamente mentalmente, através dos livros, dos nossos próprios textos e também, por que não? Por este nosso companheiro incansável que é nosso pensamento. Pois bem, há alguns anos publiquei aqui mesmo neste blog um texto que falava sobre minhas inquietações com relação a uma viagem minha aos Emirados Árabes, mais precisamente no final do ano de 2008.

Desde então tenho recebido inúmeros e-mails de leitores nossos, estes também viajantes, que têm lá como eu tinha várias dúvidas quanto ao que fazer com relação às benditas pílulas que tomamos, nós portadores do vírus HIV, para nos mantermos vivos de forma decente e digna neste teatro nosso de todos os dias que chamamos de vida. Todos eles têm a mesma inquietação sobre o que fazer para entrar nos países visitados carregando estas pílulas mágicas que nos mantêm vivos, mas que ao mesmo tempo entregam sem dó nossa condição de culpados portadores de um vírus que não pedimos para ter em nossas correntes sanguíneas. E estamos preocupados porque podemos ser rechaçados de qualquer área fronteiriça como personas non gratas em um país antes mesmo de lá pisarmos nossos pezinhos.

Temo informá-los, queridos leitores, que não possuo fórmula que resolva tais questões. Tudo que posso dizer é que continuo viajando, sempre que minha condição financeira me permite, e aonde quer que eu vá eu levo meus medicamentos porque embora até queira não posso deixar de tomá-los, sob pena de me quedar doente e dar vazão às temidas infecções oportunistas que podem marcar presença em meu corpinho já cansado de 45 primaveras que teima em sobreviver a estes virusinhos já há 25 anos desde que comecei a contar o período inicial de infecção em 13 de março de 1987.

Há exatamente um mês fui à Nova Iorque, passei só 3 dias por lá, cheguei em 09 de outubro e voltei ao Brasil no dia 12 de outubro. Fui ver o show daquela mulher por cuja voz me apaixonei na década de 80 quando eu contava ainda meus 13 anos: Barbra Streisand. Valeu a pena o sacrifício principalmente financeiro para tal façanha. Foi um momento inesquecível em minha vida, mesmo tendo visto minha deusa da uma distância imensa do palco, foi no Barclays Center, estádio de beisebol no bairro do Brooklyn em Nova York. Eu estava em um lugar bem alto, paguei US$ 600 pelo ingresso, nada barato para meus parco salário de professor, mas ao menos estava de frente para o palco, uns pobres coitados, ainda menos sortudos do que eu compraram ingressos e sentaram-se em cadeiras que estavam situadas às costas de nossa deusa Barbra. E ela, como de costume, humildemente se desculpava e de quando em vez dava lá uma olhadela para os menos favorecidos localizados às suas costas e perguntava se eles podiam vê-la pelo telão. Eu não entendi direito a razão de se construir assentos às costas do palco, mas depois caí na real e entendi que aquele estádio foi construído para se assistir partidas de hockey no gelo e beisebol, e que para tais eventos não existe palco, aquele palco ali estava só para aquela ocasião, o show Back to Brooklyn de Barbra Streisand que ali cantou maviosamente do alto de seus 70 anos, dignamente, não menos estrela do que foi nas vezes que subiu ao palco nas noites de Grammy e Oscar a que fez jus em sua vida de estrela.

Voltando ao assunto, eu admito que pensei em não levar medicamentos para me sentir livre de quaisquer embaraços na alfândega, principalmente porque havia lido sei lá onde que os Estados Unidos barravam portadores do vírus na alfândega. Tá aqui o link: http://forum.viagem.blog.uol.com.br/arch2008-07-13_2008-07-19.html#2008_07-18_13_40_46-8953204-0 . Na verdade o artigo diz que eles iriam passar a aceitar, na época fiquei muito p*** da vida porque tenho certeza que a nacionalidade do vírus que trago aqui comigo desde os meus 19 anos e que adquiri em terras brasileiras provavelmente é norte americana, uma vez que na época as infecções eram em sua maioria trazidas de lá por pessoas que haviam viajado para lá. Bem, deixa prá lá, de onde veio, para onde foi, para onde vai, isto não importa, a questão é: temos o direito de viajar, as fronteiras são invenção do homem, se elas tivessem que existir a natureza disso teria se encarregado. Como fez o mar para separar os continentes, mas não há mesmo nada que nos impeça de ir e vir, mais dia menos dia, lá chegamos se quisermos. E foi isso que eu fiz nesta minha trajetória de vida, e é isso que vou continuar a fazer, seguir meu caminho até que a natureza, ou Deus, ou Jeová, ou Alá, ou chamem do que quiser, achar que é hora de eu parar. E nem assim vou parar, porque aí, acredito eu, vou poder volitar, como espírito que eu serei...risos...aí sim é que ninguém vai me segurar...hahahaha!

Bem, meus queridos leitores, vou parar por aqui porque já passam de 900 palavras este meu relatozinho que decidi escrever. Para encerrar, queria pedir àqueles que me escreveram nestes últimos 4 anos me perguntando sobre as viagens e pedindo dicas, que me mandem e-mail relatando como foram suas experiências.

Tenho certeza que todos foram e voltaram sem maiores contratempos, tendo tomado os devidos cuidados, é claro, e acredito que seus relatos positivos podem ser muito úteis aos homo viators ainda inseguros de abrirem suas asas hivadas mar afora por este nosso mundão de meu Deus!! ;-)

Grande abraço a todos!

Anderson Ferreira – 09 de novembro de 2012

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Boa notícia para aqueles que têm problemas com a quantidade de pílulas a serem tomadas diariamente.

Célula infectada pelo HIV: nova pílularajuda a interromper replicação do vírus


Um novo comprimido que combina quatro drogas anti-HIV em um único tratamento diário é seguro e eficaz, de acordo com um estudo publicado nos EUA.

Espera-se que a "pílula quatro em um" torne mais fácil para os pacientes manter a medicação e melhorar os efeitos de seu tratamento.
Um estudo publicado na revista especializada Lancet afirma que esta poderia ser uma "nova opção de tratamento".
Um especialista britânico disse que a pílula era "uma grande notícia" e fazia parte de um movimento em direção a doses diárias únicas para portadores do HIV.O HIV é incurável, e o tratamento da infecção requer terapia que combina múltiplas drogas usadas para controlar o vírus.
Isso pode significar tomar vários comprimidos em diferentes horários do dia. E esquecer de um significa que o corpo pode perder a luta contra o HIV.
Pesquisadores e empresas farmacêuticas têm combinado alguns medicamentos em comprimidos individuais, para facilitar a administração das doses.
A "pílula quatro em um" é a primeira a incluir um tipo de droga anti-HIV conhecido como um inibidor da integrase, que interrompe a replicação do vírus.
'Segura, simples, eficaz'
Paul Sax, diretor clínico do Brigham and Women's Hospital, em Boston, Massachusetts, e professor associado da Harvard Medical School, disse: "A adesão dos pacientes à medicação é vital, especialmente para pacientes com HIV, onde a perda de doses pode levar o vírus a tornar-se resistente."


Ele liderou a pesquisa comparando o efeito da pílula quatro em um com o do melhor tratamento disponível até então em 700 pacientes. Ele disse que a pílula quatro em um era tão segura e eficaz quanto as opções anteriores, embora houvesse um nível maior de problemas renais, entre aqueles que a tomam.
“Nossos resultados fornecem uma opção adicional altamente potente e bem tolerada, e reforça a simplicidade do tratamento através da combinação de vários anti-retrovirais em um único comprimido.

Dr. Steve Taylor, especialista em HIV no Birmingham Heartland Hospital, disse: "Sem dúvida, o desenvolvimento de uma pílula única é um grande avanço no combate ao HIV.

"Passamos um longo tempo com pessoas tomando até 40 comprimidos três vezes ao dia", diz.

Ele disse que o novo comprimido foi "uma grande notícia" para as pessoas com HIV e que a pílula quatro em um aumentaria as opções de tratamento.

No entanto, ele alertou que muitas pessoas ainda tinham o HIV não diagnosticado. Um quarto das pessoas com HIV no Reino Unido não sabem que estão infectadas.


A pesquisa foi financiada pela empresa de biotecnologia Gilead Sciences

domingo, 10 de junho de 2012

Brasil vive "epidemia descontrolada" de Aids, diz presidente do Grupo Pela Vidda


"O Brasil não tem conseguido diminuir a incidência do HIV/Aids", diz George Gouvea, do Pela Vidda
Presidente do Grupo Pela Vidda, referência no Estado do Rio no atendimento a pessoas com o HIV, o psicanalista George Gouvea vem denunciando as falhas do programa DST/Aids do Ministério da Saúde. Para ele, o Brasil vive uma “epidemia descontrolada”, ao contrário da palavra oficial do Ministério que reafirma controle da doença.
Os números oficiais dão essa certeza ao presidente do Pela Vidda. Nos últimos dez anos, pelo menos 102 mil soropositivos morreram no país e 311 mil novos casos foram notificados (dados consolidados até 2010). Apesar de os números anuais não sofrerem grandes variações (média de 11 mil mortes e 34 mil novos casos por ano), Gouvea critica o uso do termo "estabilidade" para classificar os números no Brasil. "Seria o mesmo que considerar 10 mil mortes de judeus por ano no holocausto um número estável", diz.
Em recente publicação, a Fiocruz, órgão do Governo Federal, pediu uma "correção de rumo" para o programa DST/Aids no país. "Ao contrário do que se tem observado em outros países que também instituíram programas de acesso universal ao tratamento e têm observado queda na incidência de novas infecções, o Brasil não tem conseguido diminuir a incidência do HIV/Aids", aponta o documento.
Para o presidente da ONG, campanhas de prevenção a Aids devem contar com a participação do público-alvo para a obtenção de resultados positivos.“Não tem como eu ir para uma esquina falar com uma travesti sobre prevenção, a travesti vai rir da minha cara e tem toda a razão de fazer isso”. O Grupo Pela Vidda atende cerca de 300 pessoas por mês e realiza assistência jurídica, reuniões de acolhimento e palestras, entre outras atividades.
UOL - Por que você afirma que vivemos uma “epidemia descontrolada” de Aids no país?
UOL - O que está errado no programa DST/Aids?
Gouvea - Muita coisa está errada. Nós temos um bom programa de Aids, ninguém pode dizer o contrário. A distribuição de retrovirais como política pública de saúde é realmente um marco, a gente nãoGeorge Gouvea - A gente não pode admitir que existam aproximadamente 35 mil novos casos de infecção pelo vírus HIV por ano. Em dados apurados em 10 anos, até 2010, a gente vai encontrar quase 350 mil novos casos de pessoas se descobrindo soropositivas. Eu não sei que estabilidade é essa. É a estabilidade da vergonha. A gente não pode se acomodar e achar que 35 mil novos casos por ano são poucos casos. A gente não pode achar que quase 12 mil óbitos por ano seja um número interessante. Que estabilidade é essa que o governo, que o ministério da saúde diz. É a estabilidade da morte?

 pode deixar de reconhecer. Mas não pode ser só isso. Não se pode apenas disponibilizar o remédio na boca da farmácia e dizer tchau, até logo. É preciso a criação de programas permanentes de prevenção, políticas, estratégias, esclarecimentos, tudo isso junto com a sociedade. Não é possível que a gente ouça a palavra Aids quando chega o verão e durante o Carnaval. É preciso se falar de Aids durante o ano todo, todos os dias. Eu deveria entrar no metrô e ver todos os dias um pôster falando de HIV. As crianças e os jovens precisam entrar nas escolas e ouvir sobre HIV. Eu fico imaginando a quantidade de pessoas que sequer ouvem a palavra Aids por meses. O assunto HIV deveria fazer parte do cotidiano da sociedade. O governo tem parcela de responsabilidade porque ele é um incentivador. Obviamente não pode fazer tudo, mas tem um papel de fomentar de provocar, de instigar e isso não está sendo feito.
http://img.uol.com.br/materia-modulos/abre_aspas.gifNão é possível que a gente ouça a palavra Aids quando chega o verão e durante o Carnaval. É preciso se falar de Aids durante o ano todo, todos os diashttp://img.uol.com.br/materia-modulos/fecha_aspas.gif

George Gouvea, presidente do Pela Vidda
UOL - No recente livro publicado pela Fiocruz, um dos problemas apontados é a questão do diagnóstico tardio.
Gouvea - Nós temos hoje no Brasil um índice de quase 50% de diagnóstico tardio, que é quando o sujeito se descobre com HIV já doente. Ele vai gerar uma série de custos por conta do diagnóstico tardio. Esse sujeito, quando interna, gera um custo com a permanência no hospital. Ele vai pedir licença do trabalho gerando custo para a previdência social. Mas o pior de todas essas coisas que eu acabei de falar é o sofrimento humano ao adoecer. Isso tudo poderia ser resolvido com um plano de testagem eficiente. Por que hoje nós não temos nenhum plano de testagem? Hoje existem centros de testagem a penas nas grandes cidades. É uma questão política, um cinismo para parecer que tudo funciona bem.
UOL - Não é interessante para o governo a criação de mais centros de testagem?
Gouvea - Se mais polos de testagem forem criados, vai demandar mais assistência porque mais pessoas serão diagnosticadas e essa demanda de pessoas soropositivas não vai encontrar atendimento. Se o número de testagens aumentar nós vamos ter o caos no atendimento.
UOL - A epidemia teve um crescimento espantoso na Região Norte. De 1998 a 2010 a incidência da Aids aumentou em 237,7%...
Gouvea - A tendência de uma epidemia descontrolada é que vá para o interior, é a interiorização. Se olharmos o mapa do HIV no Brasil se verifica essa tendência. Se nós já temos problemas nas grandes capitais eu fico imaginando o que será do interior.
UOL - O último boletim epidemiológico do governo federal apontou preocupação com a incidência de Aids no segmento jovem gay. Entretanto, a presidente Dilma Rousseff vetou a campanha de prevenção a Aids voltada ao público homossexual. Na propaganda vetada, um casal homoafetivo troca carícias, sequer há um beijo. Censura como essa não torna mais difícil a prevenção do crescimento do HIV no país?
Gouvea - O que a gente percebe é que nos últimos 10 anos a política nacional para DST/Aids tem sofrido alguns percalços. Isso tem nos preocupado muito. Há uma intromissão em políticas públicas de saúde no Estado laico de determinados setores religiosos. Se o Estado é laico, o nosso ordenamento político, com todo respeito, não é a Bíblia, é a Constituição. Nas últimas campanhas houve uma interferência de setores conservadores. Isso tudo foi muito triste para o movimento. Mas é importante ressaltar que essas intromissões acontecem nas esferas superiores. Porque aquele gestor que est á lá na ponta, que é nosso parceiro, que está em um determinado nível para baixo dentro do governo do Estado ou município ou governo federal, essas pessoas são parceiras. Mas acontece que elas têm limites de atuação. Por isso é preciso uma política de governo que atenda a todos os segmentos da população em parceria com a sociedade civil organizada.
UOL - E como você interpreta a vulnerabilidade do jovem gay apontada no boletim do Ministério da Saúde?
Gouvea - É comum a gente ler reportagens que dizem que está tendo mais casos com uma parcela da população. Mulheres, idosos, jovens gays. Na verdade essa é uma forma estranha de ver as coisas. O que existe é o HIV se espalhando por todo o tecido social, essa que é a realidade. Por esse motivo a gente deve ter políticas que atendam as demandas de todos os segmentos de todas as regiões do país. Eu não posso falar de HIV com um jovem gay da mesma forma que eu falo com uma pessoa da terceira idade. Se a gente não respeitar a diversidade de cada segmento fica difícil a informação chegar.
UOL - O documento publicado pela Fiocruz apontou ainda a superlotação de hospitais, a falta de leitos para pacientes soropositivos como outro grande problema. No Rio, onde é a área de atuação do Pela Vidda, a situação não é diferente. O último relatório do Ministério da Saúde como o Estado entre os cinco de maior incidência de casos no país. Você que vive esse dia a dia, qual a realidade destinada aos pacientes?
Gouvea - Nós temos muitas dificuldades. Infelizmente a questão da Aids está relegada ao décimo plano no Rio de Janeiro. Eu vou ousar dizer a você que no Rio de Janeiro, tirando o Ipec da Fiocruz que é federal, nenhum hospital, seja do município ou do Estado, recebe dignamente um doente de Aids. Nós temos falta de leitos, os pacientes com Aids, que precisam ficar em leitos isolados devido ao sistema imunológico debilitado, ficam jogados nos corredores das enfermarias com outros doentes. Faltam médicos, faltam infectologistas na rede. Se a pessoa se descobre soropositiva e procura uma unidade d e saúde, só vai ter a primeira consulta daqui a quatro, cinco meses. O sujeito que recebe aquela batata quente, o resultado na mão, não consegue atendimento imediato. Outro problema é a falta de remédios. O que a gente tem de informação é que a compra dos medicamentos está em fase de licitação. Mas há quatro meses. A gente não está falando de saco de cimento, de tijolo, de argamassa. Se o governo sabe que está acabando, tem de fazer a licitação bem antes de acabar. A gente está falando de saúde, de vida, de morte. O que acontece agora é uma licitação assassina.
http://img.uol.com.br/materia-modulos/abre_aspas.gifSão mais de 30 [mortes] por dia. É como se todo dia um ônibus caísse em uma ribanceira. Na Guerra da Síria já morreram 14 mil pessoas e a ONU está alarmada achando um crime contra a humanidade. Aqui morrem 12 mil pessoas por ano de Aids e todo mundo acha que é normalhttp://img.uol.com.br/materia-modulos/fecha_aspas.gif
UOL - O que um paciente soropositivo enfrenta, hoje, para conseguir atendimento?
Um indivíduo que se descobre soropositivo sem estar doente só consegue uma consulta depois de quatro, cinco meses. E é fundamental esse primeiro contato com o médico, porque é ele que vai esclarecer, que vai acalmar esse paciente que procura a unidade de saúde achando que vai morrer. Depois de conseguir a primeira consulta, ele vai precisar fazer um exame de sangue. Esses exames em geral demoram mais de trinta dias para ficarem prontos , o que é outro absurdo, já que na rede privada os mesmos exames ficam prontos em cinco dias. Depois, para retornar ao médico com os exames, mais quatro, cinco meses. Então esse paciente espera quase um ano para o encaminhamento do tratamento dele.
UOL - E se esse paciente se descobre com HIV já com os sintomas das doenças que afetam o sistema imunológico. O que ele enfrenta na rede pública de saúde?
Se já é um paciente doente que já apresenta a manifestação das doenças oportunistas por já estar com o sistema imunológico debilitado, esse sujeito interna e começa a sua via crucis. Ele tem de contar com a sorte de cair com um médico que perceba se tratar de um caso de HIV, mas o que geralmente acontece é o paciente chegar com, por exemplo, tuberculose em um hospital e apenas essa doença oportunista ser tratada. Não vai adiantar muita coisa. Essa pessoa fica misturada a outros pacientes, exposta a pegar outras doenças. Essa falta de estrutura da rede de saúde em todo o país resulta nesses quase 12 mil óbitos por ano. São mais de 30 por dia. É como se todo dia um ônibus caísse em uma ribanceira. Na Guerra da Síria já morreram 14 mil pessoas e a ONU está alarmada achando um crime contra a humanidade. Aqui morrem 12 mil pessoas por ano de Aids e todo mundo acha que é normal. Que estabilidade é essa?

UOL - Que tipos de projetos podem ser executados para que as campanhas contra a Aids atinjam segmentos diferentes da população brasileira?

Gouvea - Vou te dar um exemplo. Nós fizemos um projeto chamado Babadão da Prevenção voltado para garotos de programa que trabalham em saunas gays. Procuramos esses garotos, fizemos com eles um trabalho de capacitação falando sobre prevenção, o uso da camisinha. Dessa forma, esses garotos que foram capacitados passaram a conversar com outros garotos de programa usando a linguagem comum a eles, com seus próprios símbolos de comunicação. E, por consequência, esse trabalho acabou atingindo todo o universo de pessoas que frequentam aquele ambiente: os clientes, os travestis que fazem programa. Não tem como eu ir para uma esquina falar com uma travesti sobre prevenção, a travesti vai rir da minha cara e tem toda a razão de fazer isso. Por isso nós criamos um grupo que é coordenado por uma travesti. É preciso falar a mesma língua. A prevenção ao HIV só vai funcionar se conseguir atingir todo o tecido social. Se a gente não conseguir atingir todo o mosaico social, está fadado ao fracasso ou a essa estabilidade vergonhosa.



Fonte: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2012/06/08/brasil-vive-epidemia-descontrolada-de-aids-diz-presidente-do-grupo-pela-vidda.htm acessado em 10 de junho de 2012

sábado, 19 de maio de 2012

Mensagem de Leonardo Silva Melo

Anderson seu blog é maravilhoso, você escreve lindamente, mas se me permite você deveria utilizar esse espaço com mais frequencia para discutir por exemplo os avanços da ciencia contra o hiv, o preconceito e tantos outros temas ao inves de ficar postando paginas e paginas repletas das tragedias generalizados do meio LGBT.
Sua historia de vida é fantastica e você tem o DOM da palavra, use isso a seu favor.
Um grande abraço!
Leonardo silva e Melo

sexta-feira, 11 de maio de 2012

AGORA ESTAMOS NO FACEBOOK!!!

Isso mesmo, meus amigos!!! Agora estamos no Facebook! Eu já inaugurei a página, é claro! A ideia é nos comunicarmos, nos conhecermos, postarmos nossas dúvidas, inquietações, alegrias, celebrarmos, enfim, fazermos aquilo que tivermos vontade, e é claro, conhecermos pessoas!

A página está lá feita pra quem quiser entrar, com algumas restrições, é claro, por questões de privacidade só aceitarei as pessoas que me enviarem mensagem solicitando permissão para entrar em nosso facebook, ok?
Está super discreta, tem como foto principal uma linda paisagem em azul com a palavra esperança. Se você é do tipo de usuário de facebook que deixa tudo aberto pra todos verem, inclusive sua lista de amigos, não há problema, você terá em sua lista um amigo chamado Anderson Ferreira Harte, gostaram do meu sobrenome? Hehehe...os remete ao título de algum livro? Então, falando sério, lá vocês podem me ver em fotos que disponibilizei e pode também mostrar sua face sem problema algum. Para quem não é amigo não há fotos disponibilizadas nem tampouco informação alguma com relação ao conteúdo da página. E eu só vou aceitar pessoas que mandem mensagens dizendo que estão no mesmo barco que nós, ok?

Sejam todos muito bem vindos!

O link para o facebook é este aqui: http://www.facebook.com/andersonferreiraharte

Grande abraço a todos!

Anderson