sábado, 24 de fevereiro de 2007

Estou ficando velho?


Hoje faço 41 anos e ao me levantar esta manhã me peguei pensando no que é este tal processo de envelhecimento pelo qual todos nós passamos a menos que nossas vidas sejam abreviadas por algum fator alheio à nossa vontade.
Fiquei pensando em quanto ainda há em mim daquele Anderson das primeiras páginas do livro, ou até mesmo do personagem das páginas finais, uma vez que o capítulo final foi escrito há mais de 5 anos.
O estranho em envelhecer, ou aos mais afeitos aos abrandamentos de linguagem; em amadurecer, é que nós não vemos isto acontecer. É algo que acontece de fora pra dentro e uma vez que nos olhamos frequentemente é difícil que percebamos as mudanças estéticas acontecendo. Por outro lado, as mudanças de comportamento...ah...estas, ao menos pra mim, são cada vez mais claras no meu dia-a-dia.
Recebi inúmeras ligações de amigos hoje me perguntando como eu iria comemorar mais este aniversário. E a minha resposta foi: vivendo.
Alguns que não me conhecem muito bem e que nem sabem que sou soropositivo podem ter entendido que eu estava desanimado ou coisa parecida, mas não era nada disso. Me sinto tão em paz e tão grato a Deus por ter vivido já tanto depois daquele dia em que peguei o resultado do meu exame que simplesmente me sinto sereno e feliz...comemorar é muito bom, é claro, mas nada impede que se comemore algo de uma forma zen como fiz hoje.
O Anderson de alguns anos atrás provavelmente precisaria chacoalhar o esqueleto em uma danceteria, se exceder na bebida ou fazer uma festa pra mostrar a todos que estava feliz. Não que isto esteja errado, mas eu mesmo acho interessante estas mudanças ocorridas em minha forma de ser e ver as coisas. Acho que isso é amadurecer.
Jamais imaginei que um dia poderia ver as mudanças que o tempo faz em nossa aparência, ou de perceber em minha própria história as coisas que a minha avó me falava do tipo: vai chegar um dia em que você já não vai mais ter tanta pressa, ou sei mais lá o que...rs...o legal de tudo isso é que graças a Deus estou com saúde e vivendo minha história como muitas outras pessoas pelo mundo afora.
Como coincidência em minha vida é coisa pouca, hoje à tarde me deitei em minha cama, liguei a TV e lá estava Jéssica Tandy na telinha.
Aos 80 anos, no ano de 1989 quando eu tinha 22 anos, esta atriz inglesa ganhou o Oscar de melhor atriz por sua fantástica atuação em Driving Miss Daisy. E eu aqui me pego dizendo que estou envelhecendo...blablabla...
Não tenho o menor pudor de dizer que não pude conter as lágrimas ao ver Miss Daisy do alto de sua rabugice segurar a mão de seu motorista negro e dizer-lhe que ele era seu melhor amigo. Já confusa pela idade avançada a personagem rica e altiva se vê em uma situação de extrema insegurança e recebe o conforto das mãos de um criado seu.
Se as pessoas se preocupassem menos com o ter e mais com o ser este nosso mundo seria bastante diferente. Mas vou parar por aqui por hoje porque quem gosta de reclamar é velho...e isso eu não vou ser nunca...hehehe!