quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Link para baixar o livro "a Harte de vIVer"

O livro "a Harte de vIVer" está disponível para venda em 2 versões:

1) Em formato Kindle para leitura em tela. Disponível na Amazon, no site brasileiro, conforme link abaixo.
É possível ler alguns capítulos online no próprio site antes de efetuar a compra por R$ 20


2) Em Paperback, ou seja, em papel. O Harte está disponível para compra no site da Amazon americana. Ainda não é possível vender livros impressos no site brasileiro. O preço é US$ 20 e o livro contém 397 páginas.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

2 anos sem postar nada + A série da Neftlix: POSE

 

Meus queridos leitores,

Exatos 2 anos, 1 mês e 9 dias após meu último post neste blog querido onde tantas coisas boas vivi, aprendi, conheci, retorno em postagem.

O meu prazer ao escrever é quase que sexual...rs...me deixo levar pelas palavras que surgem através dos meus toques no teclado e me desnudam para vocês. Estou poético hoje...rs.

O excesso de trabalho associado ao desinteresse coletivo pelo assunto ‘ser soropositivo’, acabaram me afastando, acho. Ou talvez seja apenas uma desculpa esfarrapada minha, não sei. Na verdade, como dizemos hoje em dia, não rolou e pronto. O importante é que estou aqui, muitos devem ter pensado: Anderson se foi para o outro lado e deixou seu blog online. Não, ainda não fui. Em 13 de março de 2020 completo 33 anos que sei que convivo com esse vírus que apavorou  muitos jovens nos anos 80 e 90, e que muitos fazem de conta não temer ainda nos dias de hoje. Nos anos 80 e 90 era pânico, hoje em dia, no meu modo de ver, é desprezo e falta de entendimento sobre o quão grave isso ainda é. Melhor que antes? Sim, mas não é fácil não. Os anos 80 e 90 foram a pior época, porém, respeito e sei que muitos ainda se abalam muito com a descoberta do HIV em suas veias ainda nos dias de hoje. Não posso dizer com certeza porque infelizmente hoje já não frequento grupos de apoio. O último que frequentei foi o GIV – Grupo de Incentivo à Vida, até meados de 2002. Sim, já faz 18 anos que não apareço por lá, mas sei que continuam ainda fazendo um excelente trabalho.

Há ainda militância para a prevenção, pelo combate ao preconceito etc. Acredito que não mais como o velho GAPA – Grupo de Apoio e Prevenção àAIDS. Me corrijam se eu estiver errado. A falta é minha, bem sei, por ter me afastado. Acabei soltando o livro “a Harte de vIVer” por aqui e deixei que as coisas andassem sozinhas. Vez ou outra respondo a um e-mail de um leitor na minha caixa de mensagens, mas já não posto mais minhas respostas por aqui.

Acho que fiquei velho e ninguém mais está interessado em ouvir as coisas que tenho a dizer, sei lá, será que estou querendo confete? Kkkk....provavelmente sim. Estou carente, deve ser isso...rs.

Vou ser breve ao falar de mim porque quero mesmo é falar de um filme, uma série da Netflix que acabei de assistir às 6 horas da manhã de ontem e me fez refletir sobre muitas coisas. Estou em férias e de licença médica. Nada grave. Meu psiquiatra diagnosticou Síndrome de Burnout. Estou com problemas sérios de memória, falo 2 línguas, mas às vezes esqueço construções básicas na minha língua nativa, português, e na minha segunda língua, inglês. E há uma outra série de fatores referentes à memória recente que têm me afetado, mas não vou falar disso. Tudo isso é resultado de quase 10 meses ininterruptos de trabalho diário que beiravam quase todos os dias, 12, 14, até 16 horas ao dia em home office graças à pandemia...chega uma hora em que a mente e o corpo cobram o prejuízo, isso eu já sabia.

Minha contagem de linfócitos CD4 em dezembro de 2020 estava em 1000 e alguma coisa, ótima contagem já há alguns anos...meu recorde é 1228. E a carga viral para o HIV já faz muito tempo também está indetectável! Wow! Que notícia boa! Então está livre de infecções, Anderson? – muitos podem estar me perguntando aí. Infelizmente não, primeiro porque acho que nossos linfócitos são meio, como diria? Sendo politicamente correto em tempos de hoje? Bem, eu diria que os linfócitos de soropositivos que vivem com HIV há 33 anos como eu, são meio quê, linfócitos com necessidades especiais, se é que me entendem...rs. E para quem leu meu livro e sabe que em 1987 fiz uma cirurgia de retirada de condilomas, no auge da epidemia de Aids, quando ela era ainda fatal caso ficássemos doentes, e depois tive que fazer outra cirurgia em 1994, 7 anos depois, porque eles voltaram, e agora, em 2020, 26 anos após a segunda cirurgia, terei que fazer outra cirurgia, pois eles retornaram. “Mas como assim, doutora? Estou vendendo CD4 e estou indetectável, podem mesmo ter voltado? Por quê? – perguntei à médica há cerca de uma semana. E a resposta dela foi: “stress, provavelmente pelo stress que passou trabalhando sem parar todos estes meses de “isolamento”, seu organismo não aguentou e eles retornaram. Vamos ter que operar você novamente”.

E lá vamos nós! Depois conto a vocês como correu tudo. Acho que ainda não vai ser desta vez...rs....já deu pra perceberem que sou duro na queda, né?

Tirando isso e o problema mental, estou bem...rs. Bem, só contei a vocês por que depois de 2 anos desaparecido não podia contar só coisas boas, né? Mas tenho certeza de que será só mais um capítulo meio chato nos capítulos por vir na 2ª parte do Harte...rs... afinal de contas parei em 2003 e muita coisa boa aconteceu de lá para cá, mas fica para um segundo livro.

Vamos à razão pela qual eu vim até aqui hoje. Quem já viu a série da Netflix “Pose” e discordar com algo que eu diga aqui nas próximas linhas, por favor, fique à vontade pra discordar nos comentários, ok?

A série é composta de 18 episódios de em média 45 a 60 minutos cada um. E o melhor de tudo: tem fim. Sim, porque eu perco interesse por séries pelas quais tenho que esperar 1 ano para continuar a ver. Me perco na estória e perco interesse, não vejo mais. Foi assim com Lost, Lucífer, A Casa de Papel e até mesmo com How to Get Away with Murder com a diva Viola Davis. Tenho muitos amigos que não assistem por causa dessa descontinuidade, maior ainda agora causada pela pandemia do coronavírus nos estúdios de gravação. Voltando ao assunto; pra mim, a série acaba no último episódio da Temporada 2, 18º episódio. Se os produtores quiserem ainda tem história, mas ficou tudo bem resolvido no último episódio. Exceto por uma curiosidade minha que ficou, mas não vou dar spoiler.

Pose (do verbo “posar” em inglês e uma alusão ao strike a pose de Madonna) conta a história de pessoas que vivem à margem da sociedade americana em 1987. Sim, mesmo ano em que eu, Anderson, descobri que era HIV, mas até aí, pensei, já na primeira cena, quando vi a indicação da época: nada a ver, deve ser um filme chato que me recomendaram só porque fala de Aids naquela época, deve ser um terror só, não vou passar do primeiro episódio, porque não gosto de tragédia, drama tudo bem, mas tragédia não...rs..., mas eu estava errado. A série conta a história dos travestis, do gueto gay na Nova Iorque de 1987 até aproximadamente 1990, 1991, se não me engano.

Blanca é uma travesti de origem latina que does not pass (não passa facilmente por mulher) e que tem dificuldades em se aceitar por isso. A frase “you pass” (você passa por mulher) aparece de quando em vez durante a série como o melhor elogio que uma travesti ou transexual possa receber. Algumas são lindas, perfeitas, they pass, mas Blanca não.

As personagens das travestis Elektra e Angel são bem sucedidas porque elas passam, o mesmo não acontece com Blanca, que luta pela sobrevivência trabalhando como manicure e participando de concursos à noite em uma boate gay onde as pessoas vivem verdadeiros sonhos representando temas da sociedade (categorias de vestimenta) através de carões e roupas e acessórios que as levam a representar pessoas da sociedade à qual elas não pertencem: a executiva, a mulher real, realness (leia-se: o mais próximo que conseguem chegar de uma mulher cisgênero, ou seja, uma mulher que convive perfeitamente satisfeita com sua forma física e gênero com o qual nasceu, algo muito próximo do antigo termo “heterossexual”...rs ), luxo, a madame na casa de chá, o militar, etc, etc, etc...infindáveis categorias que nos deliciam e chegaram até a me cansar depois de alguns episódios, mas não foi isso que me chamou a atenção.

O que mais me chamou a atenção é a maneira como as personagens são tão bem construídas e tão reais, embora estejam tão distantes da vida da maioria de nós. Quantos de nós convivemos no submundo dos travestis? Eu sou um homem gay e o mais próximo que cheguei de uma travesti em meus 53 anos de vida foi observando-as no palco nas boates na época em que eu as frequentava. Ou através da diva Rogéria, que teve acesso às telas da TV porque a rotularam de travesti da família e permitiram que ela entrasse em nossas casas. Se ela fosse desbocada como Dercy Gonçalves, não teria chegado aonde chegou, com certeza. Rogéria não podia ousar além do seu talento artístico, caso contrário, não teria sido “aceita”. Quem aí ouviu Roberta Close dizer alguma barbaridade que chocasse? Não, era uma boa moça, e Roberta passava, passou, porque virou mulher através da dolorosa cirurgia cujas dores só elas mesmas devem ser capazes de narrar. A atual (reprisada) novela “A Força do Querer” explica bem a diferença entre um travesti e uma mulher e um homem trans. Os transexuais não são felizes com o corpo que têm, não o aceitam e sofrem com isso, almejando um dia poderem alcançar a graça de sofrerem uma cirurgia que possa dar-lhes a genitália com que sonharam desde que assim se descobriram. Já os travestis são homens que vivem sua mulher interior de forma às vezes extremamente convincente, mas gostam da genitália que têm, e não a menosprezam nem tampouco a abominam. E os gays (homossexuais), como todos sabem, são homens que gostam de homens e mulheres que gostam de mulheres. Alguns homens gays gostam de homens mais masculinos, outros gostam de homens mais afeminados, mas no final das contas somos todos gays. E há várias categorias criadas, razão pela qual criaram a sigla LGBTQIA+. Em suma, somos todos objetos de preconceito até os dias de hoje. E pasmem, muitos de nós temos preconceito contra nós mesmos, homens gays contra mulheres gays, homens gays contra homens gays passivos, homens gays contra gays afeminados, homens gays contra travestis etc., etc., etc....enfim, somos todos humanos e complicados. Não somos nem melhores nem piores do que outros seres humanos. Somos todos da mesma raça: a raça humana, mas nos dividimos em inúmeras categorias, que me atrevo a dizer, uma mais imperfeita que a outra e todas se acham perfeitas. Não vou nem entrar no tema cor da pele, etnia, classe social, religião e tendências políticas porque não terminaria nunca de escrever e não chegaria à conclusão alguma.

“Pose” nos mostra seres humanos, não nos mostra heróis, mas nos mostra verdadeiros seres humanos. Sim, porque aquela pessoa que eu odeio em minha vida porque é mesquinha, porque é má, porque é traiçoeira, aquela mesma pessoa, é um anjo para outros, nunca os feriu nem os ferirá, porque os ama e precisa deles, porque precisamos das pessoas que amamos, e tentamos dar o troco diariamente às pessoas que nos fazem mal. Ou simplesmente fugimos delas porque não temos forças para enfrentá-las, mas nos esquecemos que em algum lugar elas são amadas, porque merecem também ser amadas. Eu não tenho dúvidas que muitos me odeiam porque mostro a eles o pior de mim, e muitos me amam porque lhes mostro o melhor de mim. Porque sou humano.

Pose me fez pensar que ninguém é vilão/vilã ou herói/heroína. A história me fez odiar e amar a mesma personagem inúmeras vezes. Alguns são capazes de agir da forma mais baixa à qual um ser humano pode chegar para sobreviver, e esta mesma personagem me fez chorar quando demonstrou sua vulnerabilidade e me fez entender que muitas das vezes atacamos no intuito de nos defendermos do sofrimento que tememos sofrer caso nos mostremos vulneráveis. Assim fazem todos os animais, e nada mais somos do que animais, bem sabemos disso, racionais, quase sempre.

Eu mergulhei em minha própria história narrada em meu livro e na história de muitos de nós através da narrativa da série. Recordei o preconceito sofrido por ser soropositivo dezenas de vezes durante a vida. Ainda sofro até os dias de hoje, em 2020. 2021 mal começou, estou em distanciamento social e ainda não deu tempo de ninguém me magoar por ser preconceituoso comigo. Pose me fez lembrar de algumas coisas. Lembrei que tive a sorte, o privilégio, de embora ter nascido pobre, ter nascido branco de olhos azuis em um país extremamente racista. Embora seja gay, ter tido a sorte de conseguir esconder minha feminilidade e assim agradado às pessoas que me dizem: “ah, mas você nem parece”, me fazendo entender que sendo masculino sou mais aceito. Nem sei se sou masculino, mas me fizeram acreditar nisso. O que é uma grande besteira, porque na maioria das vezes estou fingindo, escondendo o que tenho de mais bonito em mim, minha docilidade, minha sensibilidade, em nome de um melhor viver na cruel sociedade na qual vivemos. Em nome de não ter portas fechadas, mas isso muitas vezes na vida me fez sentir um traidor diante daqueles que simplesmente não conseguem ser diferentes, são simplesmente o que são porque não têm o talento que eu tenho pra fingir, fingi tanto que me tornei o que fingia. Mas muitos apanham por isso, são mortos e torturados por serem quem são. E isso é muito errado. É o mundo que tem que mudar, não eles!

Sei que dentre estas 18.000 pessoas que já passaram por aqui nestes anos todos, muitos são soropositivos como eu, ou talvez trans, lésbicas, gays machões, gays afeminados, gays considerados feios, bonitos, de pele branca, de pele preta, asiáticos, não importa, sei que cada um é um, e todos temos o direito de existir e ser feliz, na medida do possível, neste mundo tão lindo e tão cruel no qual vivemos.

Como tenho uma mente matemática, embora seja de Humanas, sei que quando completei 40 anos, em 2007, eu havia vivido metade da minha vida sem o vírus e a outra metade com ele. E acreditem, talvez sem ele eu tivesse sido uma pessoa extremamente fútil e vazia. O vírus me mostrou que eu não era nada aos 20 anos, independente da minha beleza física e inteligência, eu nada era, e ainda nada sou, mas ele me fez tentar ser melhor, lutar contra ele. E não sou super herói por tê-lo vencido até o dia de hoje, só tive a sorte, a benção, de ter um organismo que por alguma razão levou 12 anos para sucumbir à presença dele, e quando sucumbiu pela primeira vez, a ciência já havia feito muito mais do que ter inventado apenas o AZT, que sozinho mais matava do que salvava devido à sua toxicidade. A mesma sorte não tiveram milhões, dentre eles, amigos meus que se foram até pouco tempo atrás, e muitos, muitos famosos: Rock Hudson, Cazuza, Sandra Bréa, Lauro Corona, Fred Mercury, e tantos outros que se eu for escrever aqui nunca terminarei este post.

Matematicamente também sei que quando eu fizer 60, daqui a 7 anos, terei convivido com o vírus da Aids por 2/3 (dois terços) da minha vida. É tanto tempo! E tão pouco tempo. É muito tempo quando temos 20, mas quando temos 53, 60 anos são nada. Nem 70, e talvez nem 80, tudo depende da forma que vivemos, da forma que lidamos com as pessoas, que são a verdadeira razão para estarmos aqui, para aprendermos a lidar com elas e com nós mesmos. O resto é descartável, desaparece.

Pose nos mostra a vida e a morte dentro de uma perspectiva por muitos de nós sequer imaginada. Não estou falando do fantasma que vez ou outra aparece em alguns episódios, embora eu acredite neles e na vida espiritual. A vida é mostrada através do gueto, que a maioria de nós, acredito, não conhece na vida real. A maioria. Acredito que alguns leitores tenham convívio com essa realidade, claro, mas são minorias que acessam um blog, infelizmente. Pra ser sincero, acredito que a maioria de nós viva em uma bolha, e me incluo nisso. Na bolha da Esquerda, do Centro, da Direita, da Classe Média, da Classe B, C, D, enfim, Pose me fez sair um pouco da minha bolha, embora a temática Aids seja comum a muitos de nós, viver à margem da sociedade não é, acredito eu. E foi muito bom conhecer esse mundo, mesmo que cenográfico, porque de agora em diante vou procurar olhar os travestis com mais respeito, com menos medo, lembrando sempre que são seres humanos como nós que não tiverem um terço da chance que nós tivemos. Quando falo de respeito falo mesmo no sentido de admiração, nunca desrespeitei um travesti, mas tive medo deles. E o filme me fez entender que eles têm que se defender diariamente dentro de uma realidade por mim jamais imaginada, ou melhor, já sim imaginada, mas nunca tão bem representada através de uma câmera e um enredo.


domingo, 2 de dezembro de 2018

HIV: o que é ser uma pessoa com o vírus indetectável?



Meus queridos amigos e leitores. Já há algum tempo não apareço por aqui. Hoje é domingo, 02/12/2018. Acordei cedo para trabalhar (vida de professor em final de semestre) e dei minha usual passada pelas páginas de notícias.

Me deparei com este interessante artigo que reproduzo abaixo do site UOL. Ele fala da vida de Lucas, rapaz portador do vírus HIV que tem 24 anos. Não sei há quanto tempo ele é portador, mas sei que ele tem 24 anos de vida. Eu tenho 51, como todos já devem ter lido neste blog, adquiri o vírus em 1986, 8 anos antes de Lucas nascer, e desde então convivo com este vírus, há 31 anos, quase 32 anos já. Meu sentimento é de gratidão por viver há tantos anos com este vírus. Vi muitos amigos meus morrerem nestes 31 anos. Vi Cazuza morrer, Sandra Bréa, Betinho, Freddy Mercury e dezenas, centenas de outras pesssoas. Sinto gratidão por poder ler um artigo que diz que os soropositivos indetectáveis (meu caso há mais de 15 anos) não transmitem o vírus. Isso é notícia nova pra mim. Meus médicos não me disseram que eu não transmitia o vírus porque era indetectável, eu só sabia que estava mais seguro, ou seja, que não "corria risco" de desenvolver uma infecção oportunista. Mas as coisas não são assim tão fáceis, nestes anos todos vi muitos indetectáveis desenvolverem doenças como o câncer, morrerem de infarto do miocárdio, sim, as medicações ainda fazem uma bagunça geral no nosso corpo, aumentando drasticamente os níveis de triglicérides e outras cossitas mas.

O que eu quero dizer aos novos portadores, e àqueles que ainda sequer sabem que são portadores, mas que continuam a se expor à probabilidade de adquirirem o HIV via sexual, que esta jornada não é assim tão fácil. Os medicamentos mudam nosso corpo e organismo. Não é algo fácil. Temos que trabalhar, ir ao médico para consultas frequentemente, fazer exames de sangue com frequência também. E não podemos levantar suspeitas no trabalho, pegar atestado médico de Posto de Saúde público, no meu caso, nem pensar. Por que alguém que tem convênio médico vai a um Posto de Saúde? Enfim, 31 anos convivendo com este vírus, sobrevivendo a ele, mas mesmo assim o preconceito ainda é imenso. Não posso simplesmente contar às pessoas que o tenho, como faz o Lucas com direito a foto e tudo no artigo abaixo. Não coloquei aqui sua foto porque acho que é irrelevante, mas quem quiser vê-lo é só acessar o artigo no link que coloquei abaixo, logo após o título da matéria.

Nestes 31 anos não posso mostrar meu rosto, porque colocaria minha vida profissional em risco, isso é muito triste. Queria muito ter colocado minha cara na capa do Harte (livro que escrevi contando minha história, disponível para download aqui neste blog), mas não pude. Eu o registrei na Biblioteca Nacional, mas não pude publicá-lo porque não poderia dar nota de autógrafo, dar entrevistas, enfim, não podia aparecer. Não que eu quisesse aparecer ou ficar famosinho...rs...muito pelo contrário, sou tímido e não tenho a menor intenção de me tornar uma pessoa pública. Até apareci na TV dia destes, mas por motivos que nada têm a ver com o fato de ser portador, por outros talentos que a vida me deu...e mesmo assim, morri de vergonha das câmeras e da platéia.


E outra coisa, o fato de eu não transmitir o vírus não me coloca em posição de transar sem camisinha porque posso adquirir outros vírus, como o da Hepatite C, ou DSTs (doenças sexualmente tranmissíveis) como: sifílis, gonorréia, etc.


O legal de ser indetectável hoje em dia é o fato de não viver aquela neurose do "ai, meu Deus! Será que transmiti o vírus a ele/ela quando a camisinha estourou? Através de um sangramento na gengiva?". Deste mal não sofremos mais, do medo de prejudicar nossos parceiros sexuais sorodiscordantes (parceiros sexuais que temos e são pessoas que não têm o HIV)por acidente. Mas não podemos sair por aí transando sem camisinha porque podemos nos prejudicar, e muito! Ou seja, continua tudo a mesma coisa. A Aids, ou ser portador do HIV, não se transformou em uma simples gripe que se trata com medicamentos. É muito grave, muito sério ainda! O preconceito ainda está aí pra todos nós, ainda há países onde vou e não posso levar meus medicamentos, etc, etc, etc...


Desejo a todos os novos portadores muita sorte nesta jornada. Tenho certeza que muitas coisas boas ainda irão acontecer, em termos de melhoras nos tratamentos, etc, mas ainda não é hora de comemorar, porque ainda não há cura. No dia em que a cura chegar, e não sei se estarei aqui para ver isto, aí sim poderemos abrir mão desta coisa de látex, a camisinha, em nossas vidas. Caso contrário, por favor, continuem usando. Só deixem de usar de comum acordo com sua parceira ou parceiro. Se ambos forem positivos, ou se somente um de vocês for, não importa, o que é importa é que tudo deve ser conversado num relacionamento. Saúde e vida a longo a todos! Grande abraço!


Anderson Ferreira (Domingo, 2 de dezembro de 2018)

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HIV: o que é ser uma pessoa com o vírus indetectável?

Lucas Martins, 24 anos, é um jovem sonhador e cheio de planos para o futuro. Ele é uma das pessoas que vivem com HIV e estão indetectáveis. Ou seja, com o tratamento com medicamentos antirretrovirais, a carga viral (vírus em circulação no sangue) chega a níveis muito baixos, indetectáveis. Além da melhora significativa na qualidade de vida, essa condição impede a transmissão do HIV por via sexual.

Mas quando recebeu o diagnóstico de infecção de HIV, há quatro anos, Lucas não conhecia nada sobre a possibilidade de se tornar indetectável. "A primeira coisa que passa pela nossa cabeça é a morte. Só vamos procurar informação quando descobrimos que está acontecendo com a gente", conta.
Na semana em que se celebra os 30 anos do Dia Mundial de Luta Contra a Aids (01/12), Lucas aconselha que todas as pessoas procurem conhecer o assunto. "Eu peço que as pessoas que não têm o vírus também busquem entender mais sobre o que é o HIV e o que é a Aids. É preciso que as pessoas abram a mente sobre essas questões, para diminuir todo o preconceito existente", sugere.

Atingir carga viral indetectável

Atingir a carga viral indetectável é um caminho que depende de vários aspectos. A pessoa que vive com HIV deve seguir o tratamento com todos os cuidados necessários, fazendo o uso correto dos medicamentos antirretrovirais.
Para Lucas, o acolhimento foi essencial. "É preciso procurar tratamento e que a família, os amigos e a sociedade apoiem essas pessoas. Eu senti a necessidade de uma mão amiga quando comecei o meu tratamento. Além disso, eu gosto de frisar que o acolhimento do profissional da saúde também é essencial nesse momento. Eles são parte fundamental para que a gente tenha uma ótima adesão ao tratamento", conta.
Para as pessoas que receberam o diagnóstico de HIV e ainda relutam quanto ao tratamento, ele deixa um recado. "Peço que essas pessoas não desistam de viver. Fazendo uso dos medicamentos você tem qualidade de vida, você vive bem, você pode sonhar, você pode fazer planos. É importante entender que somos pessoas normais, como qualquer um. Em tratamento, podemos viver algumas vezes até mais que pessoas que não são portadoras. Meu recado é esse: não tenham medo!", reflete.

Tratamento no SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza teste rápidos para a detecção do vírus nas unidades de saúde do país. Em 2018, foram distribuídos 12,5 milhões de unidades. Como a detecção do vírus impacta no início precoce do tratamento, a partir de janeiro também haverá na rede pública a oferta do autoteste de HIV para populações-chave e pessoas/parceiros em uso de medicamento de pré-exposição ao vírus.
No ano que vem, serão distribuídas 400 mil unidades, inicialmente como um projeto piloto nas cidades de São Paulo, Santos, Piracicaba, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e São Bernardo do Campo, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus.
O autoteste de HIV já é vendido nas farmácias privadas do país, mas os resultados não podem ser utilizados para o diagnóstico definitivo. Em caso de resultado positivo, o Ministério da Saúde orienta que o usuário busque o serviço de saúde para testes complementares. Nas caixas de autoteste de HIV, distribuído pelo SUS, haverá um número 0800 do fabricante para tirar dúvidas e dar orientações aos usuários. Este serviço funcionará 24 horas e 7 dias por semana. Além disso, o usuário pode tirar dúvidas pelo Disque Saúde 136 e no site aids.gov.br/autoteste.
Além da testagem, o Governo Federal também financia o tratamento para o HIV/Aids no país. Desde 2013, os medicamentos (antirretrovirais) podem ser acessados nas unidades de saúde pelos soropositivos independente da quantidade de vírus que eles apresentarem no corpo. Desde a introdução do tratamento para todos, até setembro deste ano, 585 mil pessoas com HIV/aids estavam em tratamento no país. A maioria, 87%, fazem uso do dolutegravir, um dos melhores medicamentos do mundo que está disponível gratuitamente no SUS.
O medicamento aumenta em 42% a chance de supressão viral (que é diminuição da carga viral do HIV no sangue) entre adultos, quando comparado ao tratamento anterior, usando o efavirenz. Além disso, a resposta virológica com o dolutegravir é mais rápida: no terceiro mês de uso mais de 87% os usuários já apresentam supressão viral, segundo estudos realizados pelo Ministério da Saúde.
Como se transmite o HIV
Assim pega:
·         Sexo vaginal, anal e oral sem camisinha;
·          Uso de seringa por mais de uma pessoa;
·         Transfusão de sangue contaminado;
·          Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação;
·         Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

Assim não pega:
·         Sexo desde que se use corretamente a camisinha;
·         Masturbação a dois;
·         Beijo no rosto ou na boca;
·         Suor e lágrima;
·         Picada de inseto;
·         Aperto de mão ou abraço;
·         Sabonete, toalha e lençóis;
·         Talheres e copos;
·         Assento de ônibus;
·         Piscina;
·         Banheiro;
·         Doação de sangue;
·         Pelo ar.
Dia Mundial de Luta contra a Aids

Há 30 anos, no dia 27 de outubro de 1988, a Assembleia Geral da ONU e a Organização Mundial de Saúde instituíram o dia 1º de dezembro como o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Cinco anos após a descoberta do vírus causador da aids, o HIV, 65,7 mil pessoas já tinham sido diagnosticadas com o vírus e 38 mil já tinham falecido.
Como parte das comemorações do dia 1º de dezembro, o Ministério da Saúde resgatou a confecção de colchas de retalhos, os chamados quilts, com mensagens de otimismo para quem vive com o vírus. E estendeu um mosaico, formado por essas colchas, em um dos gramados da Esplanada dos Ministérios. O material foi produzido por milhares de pessoas em várias partes do país que utilizaram uma plataforma digital para produzir a sua mensagem de apoio à causa.
Além disso, para marcar a data e relembrar as lutas e todas as conquistas na resposta global ao HIV, o Ministério da Saúde, lançou uma nova campanha publicitária contra a aids que tem sido veiculada desde o dia 28 de novembro.

* Por: Janaina  Bolonezi, para o Blog da Saúde



quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Matéria muito interessante sobre as possibilidades de transmissão do HIV por pessoas com carga viral indetectável

Zero: nenhuma transmissão do HIV entre participantes do estudo Partner


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Com resultados publicados para coincidir com a IAS 2016, conferência que começa em Durban na próxima semana, o estudo Partner mostrou que o impacto do tratamento antirretroviral contra o HIV na redução da transmissibilidade do vírus irá beneficiar milhões de pessoas no mundo. Os resultados invertem a suposição comum de que, por definição, algum nível de risco sempre existe quando um dos parceiros é soropositivo e reforçam a ideia de que a transmissão do HIV sob tratamento e carga viral indetectável não representa nada além de um risco teórico.
O estudo Partner traz boa evidência científica de que a carga viral indetectável pode ser um limiar sob o qual a transmissão sexual do HIV não ocorre. A importância do estudo Partner está no fato dele incluir casais homossexuais e heterossexuais, e mediu o risco em pessoas que não estavam usando preservativos para então estimaram os riscos absolutos.
Estudos anteriores se concentraram quase exclusivamente em pessoas heterossexuais que ainda relatavam altos índices de uso de preservativo. O estudo Partner fornece mais de três vezes a quantidade de tempo de acompanhamento de pessoas que não utilizam preservativos, em comparação a todos os estudos anteriores combinados. Isso representa 500 anos de acompanhamento de pessoas que fazem sexo anal sem preservativo.

Método
Entre setembro de 2010 e maio de 2014, o estudo Partner inscreveu prospectivamente 1.166 casais sorodiscordantes em 75 centros clínicos espalhados em 14 países europeus. Os critérios de inclusão determinavam que o parceiro positivo deveria ter carga viral indetectável em tratamento antirretroviral e que o casal não tivesse o hábito de sempre usar preservativos durante o sexo.
O acompanhamento incluiu controle de rotina da saúde sexual (incluindo teste de HIV para os parceiros soronegativos) e cada participante também preencheu questionários sobre o histórico sexual, a fim de avaliar o risco nas diferentes atividades. Os casais só foram incluídos na análise final quando a carga viral mais recente dos parceiros soropositivos era indetectável — definida como menor de 200 cópias/mL. O objetivo primário era analisar a taxa de transmissão entre os parceiros, determinada por análises filogenéticas do vírus para todos os casais em que o parceiro soronegativo se tornar soropositivo.

Resultados
De 1.166 casais inscritos, 1.004 casais foram à pelo menos uma visita de acompanhamento e 888 casais forneceram 1.238 anos de acompanhamento de casais (mediana de 1,3 anos por casal, IQR 0,8-2,0). Isto incluiu 548 casais heterossexuais e 340 casais gays masculinos. As principais razões para os dados não serem incluídos na análise de acompanhamento foram: não ir à primeira visita de acompanhamento (n=162), falta de teste de HIV (n=20), uso de PEP ou PrEP (n=9), nenhuma falta de uso de preservativo sexo (n=15), carga viral superior a 200 cópias/mL (n=55) e falta de resultado de exame de carga viral (n=17). Não houve diferença significativa entre os casais que contribuíram para os dados de acompanhamento  em comparação com aqueles que não o fizeram.
Embora 11 pessoas tenham se tornado soropositivas, nenhuma dessas transmissões estava geneticamente ligada ao parceiro que já era soropositivo inscrito no estudo, mesmo depois de pelo menos 58.000 vezes distintas em que os casais tiveram relações sexuais com penetração sem preservativo.
Dados demográficos iniciais foram relatados — como acontece com todos os resultados — por categorias de condição sorológica para o HIV, gênero e sexualidade, com algumas diferenças entre os grupos. Isso faz com que o resumo dos resultados seja complexo, mas a média de idade variou de 40 a 44 (com IQR geral variando de 31 a 50 anos). Homens gays e mulheres heterossexuais eram alguns anos mais jovens do que os homens heterossexuais. Aproximadamente 80% dos homens heterossexuais eram brancos, em comparação com 70% de mulheres e 90% dos homens homossexuais. A maior percentagem de homens homossexuais tinha nível superior de escolaridade em faculdade/universidade (cerca de 50%, em comparação com 19% a 35% para os heterossexuais). Embora algumas dessas diferenças sejam significativas, com exceção da falta de jovens adultos inscritos, elas refletem a diversidade das pessoas vivendo com HIV.
Parceiros soropositivos já estavam em tratamento antirretroviral por uma média de 10,6 anos (IQR: 4,3-15,6), 7,5 anos para os homens heterossexuais (IQR: 3,3-14,2) e 4,8 anos para as mulheres heterossexuais e gays (IQR: 1,9-11,4). No início do estudo, os casais relataram ter já manter relações sexuais sem preservativos durante uma média de 2 anos (IQR 0,5-6,3), com diferenças entre os grupos. Por exemplo: casais heterossexuais já mantinham relações sexuais sem preservativos há cerca de 3 anos (IQR 0,7 a 11 anos) em comparação com 1,5 anos para casais homossexuais (IQR 0,5 a 4 anos). Cerca de 23% dos casais estavam em relacionamentos novos/recentes (menos de 6 meses). A adesão ao tratamento (maior que 90%) foi semelhante nos três grupos. Todos os grupos tinham proporções similares de contagens de CD4 maior que 350 células/mm³ (85% a 91%).
Baseado em dados dos parceiros soronegativos, em geral, os casais relataram ter relações sexuais sem preservativo uma média de 37 vezes por ano (IQR 15 a 71), com casais homossexuais relatando um total de pelo menos 22.000 atos sexuais sem preservativo (mediana 41; IQR 17-75) e casais heterossexuais mais de 36.000 vezes (mediana 35; IQR 13 a 70). Estas eram estimativas aproximadas a partir dos relatos e os parceiros nem sempre relatavam os mesmos números. Alguns casais relataram sexo fora do relacionamento estável: 108 casais homossexuais (33%) e 34 casais heterossexuais (4%).
Nenhuma das 11 infecções pelo HIV em parceiros soronegativos (dez homossexuais e um heterossexual) estava geneticamente ligada ao parceiro soropositivo inscrito no estudo. A maioria das pessoas (8/11) relataram ter relações sexuais sem preservativo com pessoas de fora do relacionamento estável. Todas as amostras (n=22) foram sequenciadas geneticamente com sucesso para pol e 91% (n=20) foram sequenciadas para env.Nenhum dos sequenciamentos mostrou ligação com os parceiros já soropositivos inscritos no estudo e os resultados foram consistentes depois de usar vários métodos diferentes de análise. Detalhes adicionais para estas análises estão descritos no material suplementar do estudo.
Com zero transmissão, o limite superior do intervalo de confiança de 95% (IC 95%) para o estudo global foi de 0,3 por 100 casais-ano de acompanhamento. Cada categoria de riscos específicos, tinham diferentes limites superiores de 95%: por exemplo, 0,88 para o sexo heterossexuais em geral e 0,84 para o sexo gay em geral.
Isto significa que o intervalo de confiança superior de 95% para o sexo anal receptivo para os homens homossexuais (2,70 com ejaculação e 1,68 sem ejaculação) deve ser interpretado de acordo com o tamanho da amostra: havia menos casais-ano de acompanhamento, de modo que o limite superior é, por definição, maior. Enquanto este cálculo é feito para definir o intervalo potencial dentro da qual o verdadeiro risco pode estar, o intervalo de confiança de 95% não deve ser interpretado como um indicativo do risco que foi observado no estudo. Para ilustrar esta dificuldade, o maior risco estimado para o sexo anal heterossexual com intervalo de confiança superior de 95% foi de 12,71 e 8,14 (com e sem ejaculação, respectivamente) são sustentados por menos casais-ano de acompanhamento com este como o risco primário. Há de se notar, porém, que mais de 20% de casais heterossexuais relataram praticar sexo anal.
O estudo em curso Partner 2 continua a acompanhar casais gays do primeiro estudo e a recrutar casais homossexuais adicionais, a fim de produzir uma base de dados semelhante ao que já existe para casais heterossexuais, com acompanhamento até 2019. Também é digno de nota o fato de que, durante o estudo, 91 parceiros soropositivos relataram outras DSTs: 16 entre homens heterossexuais, 16 entre mulheres heterossexuais e 59 homens homossexuais — uma quantidade correspondente de DSTs a observada nos parceiros soronegativos, também sem qualquer aumento do risco de transmissão do HIV.

Comentários
Estes resultados são simples de entender: zero transmissão em mais de 58.000 vezes em que as pessoas tiveram relações sexuais sem preservativo. Estes números são impressionantes, especialmente pela complexidade da análise que foi necessária para provar que nenhum dos novos diagnósticos estava ligado à transmissões a partir de dentro dos casais inscritos no estudo.
Juntos, estes dados fornecem a estimativa mais forte sobre o risco real de transmissão do HIV quando uma pessoa soropositiva tem carga viral indetectável — e que esse risco é efetivamente zero. Embora nenhum estudo possa excluir a possibilidade de que o verdadeiro risco possa situar-se dentro do intervalo de confiança de 95%, nem mesmo que o valor real é de fato zero devido a algum mecanismo ainda não comprovado, o intervalo de confiança de 95% nunca pode ser zero, mas apenas se torna cada vez mais estreito. Nem a presença de DSTs nem as prováveis flutuações na carga viral entre os testes tiveram qualquer impacto em facilitar a transmissão.
Os resultados fornecem um conjunto de dados capazes de questionar se a transmissão com carga viral indetectável é realmente possível. Eles devem ajudar a normalizar o HIV e desafiar o estigma e a discriminação. Os resultados também desafiam as leis de criminalização que, em muitos países, incluindo os Estados Unidos, continuam a prender centenas de pessoas com base em premissas de risco que estes resultados refutam, mesmo quando os preservativos são usados e a carga viral é indetectável.
O ativista Sean Strub, do projeto SERO disse: “Centenas de pessoas vivendo com HIV nos Estados Unidos foram acusados de infracções penais para o risco percebido ou potencial de exposição ou transmissão do HIV. Alguns cumpriram ou estão cumprindo longas penas de prisão por cuspir, arranhar ou morder e outros por não serem capazes de provar que tinham divulgado seu status positivo para o HIV antes de ter contato sexual (mesmo na ausência de qualquer risco de transmissão do HIV). A criminalização HIV criou uma subclasse viral na lei, onerando ainda mais a comunidade marginalizada, colocando uma parcela desproporcional da responsabilidade partilhada da prevenção de infecções sexualmente transmissíveis em apenas uma das partes, desencorajando, assim, as pessoas em risco a fazer o teste diagnóstico de HIV.”
Os resultados também terão um impacto positivo na qualidade de vida, tanto para indivíduos soropositivos quanto para soronegativos que estão em relacionamentos sorodiscordantes, independentemente da opção de usar preservativos. O estudo Partner 2, em andamento, continua a acompanhar os casais homossexuais e ainda está recrutando novos casais para alcançar um poder estatístico semelhante para o sexo anal em comparação com o sexo vaginal.
Por Simon Collins para o TheBody em 12 de julho de 2016

Referências:
  1. Rodger AJ et al for the PARTNER study group. Sexual activity without condoms and risk of HIV transmission in serodifferent couples when the HIV-positive partner is using suppressive antiretroviral therapy. JAMA, 2016;316(2):1-11. DOI: 10.1001/jama.2016.5148. (12 July 2016). Full free access.
  2. Partner study, supplementary material. JAMA (16 July 2016).
  3. i-Base Q&A from the study.
  4. Partner 2 website. 

domingo, 12 de março de 2017

Sou HIV positivo há 30 anos!!!! Feliz Aniversário, Hivzinho! ;-)

Queridos leitores,

Estou aqui dando uma passadinha rápida porque não poderia deixar esta data passar em branco. São 23 horas e às 5 da manhã tenho que estar em pé para trabalhar, por isso não vou escrever quase nada.
Em breve escreverei um longo post, mas não será hoje, infelizmente. Só queria dizer que estou bem de saúde e feliz, felicidade da Terra, nada demais, mas estou me sentindo muito bem.
Mês passado completei 50 anos de vida, jamais imaginei que isso fosse acontecer nesta vida, não alguém que como eu, talvez muitos aqui já saibam disso por terem lido meu livro, foi sentenciado à morte prematura aos 19, recém feitos 20 anos de vida.
Pois bem, há 30 anos na data de hoje, ou melhor, daqui a pouco, completarei 30 anos sabando ser soropositivo. Sou muito grato a Deus, aos amigos que me ajudaram a chegar até aqui, e principalmente a Deus por ter podido viver meio século carregando este vírus em minha corrente sanguínea. Eu o venci, assim já considero, se amanhã eu morrer por causa dele, já terei vivido o suficiente para dizer: eu tive uma vida, foram 50 anos de vida muito bem vividos. Aprendi muito nesta vida, fiz muitas coisas legais, cometi muitos erros, muitos acertos, e assim ainda continuo, até o meu último suspiro neste plano.
Amanhã será segunda-feira, 13 de março de 2017. E foi em uma sexta-feira, 13 de março de 1987 que a notícia veio e junto com ela todos os fatores que me levaram a ser quem eu sou hoje.
Hoje sou um homem de 50 anos. Sou um profissional respeitado, um filho amado e grato pela pequena família que eu tenho. Vivi grandes amores, no momento não vivo nenhum, mas quando vivê-lo, tenho certeza que será ainda melhor do que os anteriores. Porque hoje sou uma pessoa melhor do que eu era aos 20 anos de idade, em termos de experiência de vida, espiritualidade.
Hoje tenho ainda menos medo da vida do que tinha há 30 anos. Tenho menos amigos, mas muito melhores dos que eu tinha há 30 anos. Tenho muito, muito menos beleza física do que tinha há 30 anos, mas me sinto mais bonito. Tenho mais dinheiro, mas je sinto mais pobre, porque vivo menos do que vivia naquela época, sei lá.
Hoje tenho medicamentos que me mantêm saudável, há 30 anos eles não existiam, Fiquei 11 anos, até 1998, para começar a tomar medicação.
Bem, mas o importante de tudo isso é que hoje estou aqui. Vivendo bem, com saúde e dignidade. Tem coisa melhor do que isso?
Dedico esta minha comemoração "blogal" a todos os portadores do vírus HIV que se descobriram há pouco nesta situação. E espero que minha experiência de vida, o livro que escrevi, o Harte de vIVer, disponível para download gratuito aqui no blog, possa lhe dar alguma luz e ajudá-lo de alguma forma, pois foi pra isso que eu o escrevi.
Um grande abraço às mais de 15 mil pessoas que já visitaram este meu espaço e aos que leram meu livro. Obrigado por me aturarem aqui já há alguns anos também...rs...espero que ainda possamos trocar muitas experiências através dos seus e-mails e comentários no blog.

Um grande abraço e Feliz Aniversário de 30 anos de HIV pra mim! ;-)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Fechando 2016




Queridos leitores!
Em um ano em que todo mundo disse que foi um ano horroroso e cheio de dificuldades, me sinto na obrigação de vir aqui e fechá-lo com chave de ouro! Sem querer dar uma de “o sortudo a quem nada atinge” porque sei que estes tipos incomodam, principalmente nas mídias sociais...rs...mas simplesmente querendo passar a todos que dificuldades todos nós temos, não há neste planeta um só ser que seja eternamente feliz, pois a meu ver, não é para isso que estamos aqui. Mas o que realmente quero dizer é que todos nós temos problemas, a única coisa que muda é como cada um de nós vê estes problemas, lida com eles.
E pra começar vou responder a pergunta de um leitor que recebi no final do ano:

Pergunta do leitor Henrique em 09/12/2016: Sem querer ser evasivo, mas o seu ex companheiro, sabia da sua sorologia, acha justo contar?

Resposta: Em 2016 eu tive apenas um relacionamento. Foi um relacionamento com uma pessoa que conheci no sul do Brasil em julho de 2015. Nos vimos, ficamos juntos e nos falamos por algumas vezes via mídias sociais. Depois disso, em janeiro, nos reencontramos novamente em minhas férias e ele me disse que gostava de mim. Em agosto, ou final de julho do ano anterior, não me lembro bem, via whatsapp, eu disse a ele que era soropositivo. A resposta dele foi enigmática, ele escreveu: “tu te tornas responsável por aquilo que cativas”, frase extraída do livro “O pequeno príncipe” que mais tarde ele me deu de presente, mas devido ao rumo que as coisas tomaram, nunca tive coragem ou vontade de ler. Este livro é encantado em minha vida, já tentei lê-lo várias vezes, mas nunca consigo, talvez um dia consiga, sei lá.

Bem, continuando, eu me apaixonei por ele, ele dizia que me amava e estava disposto a mudar sua vida, no sentido de deixar de ser uma pessoa que vivia somente pra si mesmo, que no futuro viveríamos juntos lá no sul, etc, etc, etc...mas ele me traiu, ou melhor, se traiu, porque transou com um cara e esqueceu de apagar as conversas pré e pós-transa do whatsapp e eu tive a “infelicidade” de vê-la. Aí eu o perdoei, mas ele não se perdoou, disse que não me merecia, etc, etc, etc, e não quis me ver nunca mais nesta vida. Ah...me esqueci de dizer...um dia, sem mais nem menos, ele me disse que também era soropositivo e não tocou mais no assunto, ou seja, o recado pra mim foi: você não era tão importante assim pra mim pra eu te contar também só porque você me contou...e a vida seguiu. 

Como morávamos em estados diferentes, nos víamos no máximo uma vez por mês, o máximo que chegamos a ficar realmente juntos foi por 10 dias em minha casa em São Paulo no mês de julho de 2016. As outras vezes foram por poucos dias, em feriados prolongados, tipo Carnaval, ou fins de semana apenas. Nosso “relacionamento”, e coloco entre aspas porque era relacionamento só pra mim. Ele vivia uma vida paralela em Balneário Camboriú transando livremente com outras pessoas e tinha dezenas de “contatos” em seu whatsapp aos quais ele fazia questão de dizer “sou todo seu” e coisas desse estilo dos galinhas virtuais, comumente encontrados no universo da internet hoje em dia. 

Eu mesmo cheguei a dar uma escorregada em nossa “relação” no período em que estávamos juntos. Transei com um cara que eu conhecia há anos e me seduziu com a ideia de que namoro à distância não tava com nada e que eu não deveria perder a oportunidade de estar com ele por mais uma vez...rs....me arrependo? Nenhum pouco, porque estava sendo corneado à distância enquanto trabalhava em minha casa nos fins de semana. O que terminou minha relação não foi a “traição” dele, mas a negação do ato, o que pra mim denota falta de caráter, de resto, não o culpo por nada não.

Me endividei muito por causa do “meu amor”, comprei inúmeras passagens de avião para que ele me visse ao menos uma vez por mês, inclusive diárias caríssimas entre Natal e Reveillon em Florianópolis cujas estadias acabei de utilizar sozinho.  Tenho passagem de avião pra pagar até o segundo semestre de 2017, e o que ficou disso tudo?

A primeira lição foi: “namoro” à distância nunca mais!! Até saio com pessoas nas viagens que faço, já que estou solteiro desde então, mas da próxima vez que rolar um sentimento “verdadeiro” com alguém que mora fora de minha cidade ou esteja apenas visitando a minha, cortarei devidamente  a tempo...rs...

A segunda lição: desconfie de pessoas que lhe dizem que quando estão com uma pessoa, estão somente com aquela pessoa. Quem é fiel simplesmente é, não precisa ficar reiterando a ideia de que é fiel, se o faz, é porque não é, está mentindo pra si mesmo e consequentemente pra você.

A terceira: não coloque sua felicidade nas mãos de ninguém nunca em sua vida. Ame e seja amado, se perceber que está em desvantagem, ou seja, se a pessoa é silenciosa, misteriosa, demonstra culpa velada em suas palavras ou comportamentos, pule fora o quanto antes!

A quarta: não se permita ser usado por uma pessoa. Se a pessoa não tem condições financeiras de jantar fora, por exemplo, e lhe diz: “vamos jantar no shopping?”, esta pessoa está usando você porque percebe que você a ama e quer agradá-lo. No meu caso ele disse isso e nunca pôs a mão na carteira. E em uma das conversas dele com “amigos” no whatsapp ele pede ao amigo que apague fotos da rede social porque o marido, eu no caso, é ciumento e ele não pode perder a pensão. Em pensão, leia-se: passagens aéreas, jantares em restaurantes caros, etc...eu infelizmente não percebia nada disso, achava que estava fazendo bem a alguém que eu amava e que não tinha condições de ir àqueles lugares, etc, nunca passou por minha cabeça que ele estivesse me usando, foi isso que me fez sofrer mais, além do fato, claro, de que descobri também que todas as mensagens que ele me passava de manhãzinha cedo, do tipo “bom dia”, aquelas mensagens automáticas bobas que te mandam sem mencionar seu nome no whatsapp, pois é, mandava pra vários outros também ao mesmo tempo. E o tolinho aqui achava que ele me amava e estava me cumprimentando assim que acordava todos os dias.

E a quinta e última lição: Sim, conte à pessoa que você ama sobre sua sorologia, mas somente a quem julga que vai ter um relacionamento sério. Esse povo com quem sai nas baladas, etc, pra esses, não, não diga nada, use camisinha e já está bom demais. Ninguém tem que saber sua sorologia, isso é uma condição sua que só interessa a você e a quem você ama. Não conte “para” o outro, mas “pelo” outro, ou seja, conte pela consideração que você tem pela pessoa em um determinado período da relação, simples assim.

E pra fechar esta história, não seja a vítima das coisas que lhe acontecem. Seja co-autor delas, ou seja, nada do que nos acontece, a meu ver, em minhas crenças, é por acaso. É assim que lido com o HIV em meu organismo desde que o descobri há quase 30 anos. Este ano faz 30 anos em 13/03/2017 que descobri minha sorologia. Se me visse como vítima disso tudo, acredito que não estaria aqui para contar minha história. O mesmo digo em relação às desilusões amorosas, se foi traído, como me aconteceu, é porque você se permitiu isso. A vida nos dá inúmeras dicas do que nos acontece. E eu não fui traído na verdade, revi minha vida e minhas atitudes e percebi que lá no passado nesta mesma vida, agi da mesma forma com outra pessoa.
Em meu livro, dos capítulos 29 (XXIX) ao 32 (XXXII) há uma narrativa que fala sobre uma história muito parecida com a que eu vivi em 2016, com a diferença de que era eu o algoz e o outro, Fernando, foi a vítima. Tudo se inicia na página 84 e termina na página 97, com direito a muitas lágrimas  e um sentimento hoje de arrependimento, mas não posso mudar minhas ações, não posso mudar meu passado, e acredito que o que fiz a Fernando lá em 1986, se me recordo bem da data, foi vivido de forma muito parecida aqui em 2016, 30 anos depois. A diferença é que eu não fui pego, confessei meus erros, mas me separei de alguém que me amava e me perdoava pelos meus erros assim como fez meu namorado comigo em 2016.

Mas eu não aceitei o perdão dele, muito parecido com o que aconteceu agora, resolvi continuar minha vida de descobertas e sexo desvairado que me levaram a adquirir o vírus HIV talvez meses depois, ou talvez eu até já o tivesse e sem saber tivesse transmitido ao Fernando, disso não sei, acho que só saberei disso quando desencarnar e descobrir o que foi feito de Fernando e dos débitos que provavelmente adquiri em relação a ele, sei lá, ou talvez, ele também estivesse resgatando coisas da vida em relação a mim, quem sabe? Isso não importa, o que importa é que como eu disse anteriormente, ninguém é vítima de nada. Fernando não foi vítima de Anderson, que não foi vítima do namorado de 2016. As coisas acontecem como consequência de nossas ações e escolhas, é isso que importa. Não cabe a mim desejar mal ao namorado de 2016 nem odiá-lo pelo sofrimento que nossa situação me trouxe, o que ele fez consta lá na ficha dele e ele vai ter que responder por suas ações, assim como eu terei que responder por minhas ações. E também não cabe a mim carregar culpas comigo, pelo contrário, não sinto culpa de nada do que fiz ou guardo mágoa do que fizeram comigo, perdoar os outros e a si mesmo é ação-chave para uma vida presente feliz, acredito eu.

Tudo que eu fiz de mal aos outros pode ser anulado com meu perdão a mim mesmo e àqueles que me magoaram no passado. As boas ações anulam as más ações, estamos aqui para aprender com nossas próprias ações, é assim que vejo e sinto as coisas...e se estiver errado, vou descobrir depois de desencarnar...tudo a seu tempo. Não estou dizendo que podemos sair por aí magoando as pessoas que tudo ficará bem, não é isso, o que eu quero dizer é que acredito que com a maturidade espiritual, as coisas ruins, os débitos que eu não conseguir sanar aqui nesta existência, serão por mim sanados através de decisões tomadas por mim, já em espírito, como forma de ressarcir a pessoa a quem eu fiz mal. Por exemplo, suponhamos que Fernando não tenha me perdoado pelo mal que eu lhe causei lá em 1986 e no futuro próximo, sim, vou fazer 50 anos em fevereiro próximo; ao desencarnar, eu decida que tenho que de alguma forma reparar o mal que eu lhe fiz, o sofrimento que eu lhe causei, etc. Posso vir na próxima vida como um filho seu, ou um namorado fiel seu, ou uma esposa, sei lá...o que quero dizer com isso tudo é que acredito que não há castigo divino pras coisas más que fazemos às pessoas, mas que nós, dentro do nosso próprio progresso espiritual, escolhemos provas às quais nos submetemos para reparar o que destruímos lá atrás. É nisso que eu acredito, e não quero que ninguém acredite nisso porque eu acredito, só estou dizendo o que eu acredito, somente isso. Pode ser que eu mesmo tenha escolhido passar por todo esse perrengue com o namorado de 2016 como forma de evoluir, vai saber?

O que ficou de bom com as experiências de 2016

Bem, eu fui lá embaixo por causa da desilusão amorosa ocorrida em outubro de 2016. Porém, contudo, todavia, em vez de ficar chorando fui procurar ajuda. E descobri o Ho’oponopono...vou colocar o link do vídeo aqui pra vocês. Ele me ajudou a trabalhar a questão do perdão ao outro e a mim mesmo...fantástico!




Descobri também a “oração conectada de 4 etapas”, uma oração que me ajudou a ficar conectado com os seres de luz espirituais, que sofrem, coitados, com nossa falta de atenção diária. Eles tentam nos ajudar, mas ficamos tão preocupados com nossos 'sofrimentozinhos' e nosso coitadismo que raramente nos conectamos com eles.



Esta oração me fez entrar em contato comigo mesmo e perceber que a chave para muitos dos meus problemas estava em mim mesmo, pois sou eu também Ser Divino, filho de uma Energia Maior cujo nome cada um dá à sua maneira, não importa, nada tem a ver com religião. Graças a esta oração, parei de tomar antidepressivos e disse adeus à depressão...não sinto mais aquela tristeza desnecessária que me visitava diariamente. Hoje, graças a Deus, me sinto bem o suficiente pra não ter mais que tomar aquelas tranqueiras que acabavam com meu fígado. Já me basta ter que tomar 5 comprimidos diários pra driblar o HIV, né? Não estou dizendo com isso que todo mundo deve fazer a oração e jogar seus remédios fora...cada caso é um caso e cada um sabe de si...eu parei e não me arrependo, porque estou me sentindo bem...mas se tivesse parado e voltado a me sentir mal, teria calçado as sandálias da humildade, voltado ao médico, e pedido receitinhas novamente. Espero que não precise mais de antidepressivos tão cedo em minha vida. E sei que tudo depende de mim, nossa felicidade depende de nós, mas temos o hábito de colocar nossa felicidade nas mãos de um amor, ou de um cargo, ou de uma situação financeira, etc, etc, etc. Levei meio século pra perceber isso, mas graças a Deus e a mim mesmo, consegui. ;-)

O que mais? Ah...consegui um belo emprego mesmo depois de ter feito força pra perder o emprego onde estava há 20 anos e onde recebia um ótimo salário. Todo mundo disse que eu era louco por ter pedido pra ser mandado embora em 2014, depois disseram que eu não conseguiria emprego cujo salário fosse tão bom quanto aquele, mas consegui um emprego melhor ainda em 2016. Não estou dizendo com isso que este emprego vai durar pra sempre, nem tampouco o salário que advém dele, mas tenho que elencar aqui essa situação como coisa boa que me aconteceu e sou grato por ela ter acontecido. Trabalho muito, muito mesmo, mal tenho finais de semana durante o semestre letivo, mas gosto muito do que eu faço e é isso que importa.

Bem, levei um pé na bunda de alguém que não era verdadeiro comigo e que não me amava, que consequentemente não me merecia, acho que isso foi algo bom também!

Minha mãe, depois de muito doente no final de 2015, finalmente se recuperou do problema de saúde, ainda está se recuperando, mas já tem 67 anos e não vai mais voltar mesmo a ser uma menininha saudável, tenho consciência disso...o importante é que ela recobrou sua mente saudável, já que a doença a tinha deixado além de fraca fisicamente também confusa mentalmente. Graças a Deus hoje ela está bem vivendo com dignidade ao meu lado, como sempre.

O que mais posso dizer? Bem, continuo escrevendo sempre que posso e volta e meia recebo e-mail de leitores dizendo que estão felizes em suas vidas por uma ou por outra razão após terem lido o Harte ou um post meu aqui no blog...isto também me deixa muito feliz!
Sou seguidor de um canal no Youtube chamado “Luz da Serra”, este canal me ajudou e me ajuda muito a compreender certas coisas que me acontecem. Sempre indico pros amigos, nada tem a ver com religião, mas sim com espiritualidade, eu recomendo.

E pra terminar, vim para o sul, Santa Catarina, dirigindo desde São Paulo. Isto também foi um feito pra mim, já que não dirijo em estradas e minha depressão mal me deixava dirigir em São Paulo. Peguei o carro dia 22 de dezembro e por causa do trânsito intenso na estrada, dirigi por 11 horas até chegar ao destino final, um trajeto que deveria ter durado pouco mais de 8 horas. Agora ainda tem a volta, mas estou tranquilo, sei que vai correr tudo bem. E agora que estou ainda mais espiritualizado do que antes, não acredito mais em tragédias, qualquer coisa que venha a me acontecer, não será para meu mal, mesmo que aos olhos dos homens seja. No final, a gente fica sempre bem, porque somos espíritos eternos e tudo nos serve como aprendizado, até as piores tragédias que todos veem com pesar e ficam semanas, meses às vezes maldizendo o destino, podem ser muito boas para nossa evolução espiritual.

E minha dica pra 2017 é: perdoem, perdoem muito! Perdoem primeiramente a si mesmos. Adquiriu o HIV em 2016? Que bom! Daqui em diante você vai saber que viver com o HIV não é o fim da vida, muito pelo contrário, pode significar o início de uma vida e você pode fazer a diferença como portador desta doença crônica como portadores de tantas outras doenças crônicas fazem todos os dias mundo afora.

Feliz 2017 a todos os responsáveis pelos cerca de 15.000 cliques aqui no blog! Fico muito feliz sempre que recebo e-mail de vocês me contando coisas boas em suas vidas, ou até mesmo coisas que consideramos “ruins”...sou muito grato por ter a oportunidade de ter este canal de contato direto com os leitores do Harte e do blog. Tem gente que nem leu o Harte, mas que vem sempre aqui e sempre me manda e-mail comentando meus posts...muito obrigado a todos e muita paz na Terra em 2017!
Grande abraço,


Anderson – 04 de janeiro de 2017.