domingo, 2 de dezembro de 2018

HIV: o que é ser uma pessoa com o vírus indetectável?



Meus queridos amigos e leitores. Já há algum tempo não apareço por aqui. Hoje é domingo, 02/12/2018. Acordei cedo para trabalhar (vida de professor em final de semestre) e dei minha usual passada pelas páginas de notícias.

Me deparei com este interessante artigo que reproduzo abaixo do site UOL. Ele fala da vida de Lucas, rapaz portador do vírus HIV que tem 24 anos. Não sei há quanto tempo ele é portador, mas sei que ele tem 24 anos de vida. Eu tenho 51, como todos já devem ter lido neste blog, adquiri o vírus em 1986, 8 anos antes de Lucas nascer, e desde então convivo com este vírus, há 31 anos, quase 32 anos já. Meu sentimento é de gratidão por viver há tantos anos com este vírus. Vi muitos amigos meus morrerem nestes 31 anos. Vi Cazuza morrer, Sandra Bréa, Betinho, Freddy Mercury e dezenas, centenas de outras pesssoas. Sinto gratidão por poder ler um artigo que diz que os soropositivos indetectáveis (meu caso há mais de 15 anos) não transmitem o vírus. Isso é notícia nova pra mim. Meus médicos não me disseram que eu não transmitia o vírus porque era indetectável, eu só sabia que estava mais seguro, ou seja, que não "corria risco" de desenvolver uma infecção oportunista. Mas as coisas não são assim tão fáceis, nestes anos todos vi muitos indetectáveis desenvolverem doenças como o câncer, morrerem de infarto do miocárdio, sim, as medicações ainda fazem uma bagunça geral no nosso corpo, aumentando drasticamente os níveis de triglicérides e outras cossitas mas.

O que eu quero dizer aos novos portadores, e àqueles que ainda sequer sabem que são portadores, mas que continuam a se expor à probabilidade de adquirirem o HIV via sexual, que esta jornada não é assim tão fácil. Os medicamentos mudam nosso corpo e organismo. Não é algo fácil. Temos que trabalhar, ir ao médico para consultas frequentemente, fazer exames de sangue com frequência também. E não podemos levantar suspeitas no trabalho, pegar atestado médico de Posto de Saúde público, no meu caso, nem pensar. Por que alguém que tem convênio médico vai a um Posto de Saúde? Enfim, 31 anos convivendo com este vírus, sobrevivendo a ele, mas mesmo assim o preconceito ainda é imenso. Não posso simplesmente contar às pessoas que o tenho, como faz o Lucas com direito a foto e tudo no artigo abaixo. Não coloquei aqui sua foto porque acho que é irrelevante, mas quem quiser vê-lo é só acessar o artigo no link que coloquei abaixo, logo após o título da matéria.

Nestes 31 anos não posso mostrar meu rosto, porque colocaria minha vida profissional em risco, isso é muito triste. Queria muito ter colocado minha cara na capa do Harte (livro que escrevi contando minha história, disponível para download aqui neste blog), mas não pude. Eu o registrei na Biblioteca Nacional, mas não pude publicá-lo porque não poderia dar nota de autógrafo, dar entrevistas, enfim, não podia aparecer. Não que eu quisesse aparecer ou ficar famosinho...rs...muito pelo contrário, sou tímido e não tenho a menor intenção de me tornar uma pessoa pública. Até apareci na TV dia destes, mas por motivos que nada têm a ver com o fato de ser portador, por outros talentos que a vida me deu...e mesmo assim, morri de vergonha das câmeras e da platéia.


E outra coisa, o fato de eu não transmitir o vírus não me coloca em posição de transar sem camisinha porque posso adquirir outros vírus, como o da Hepatite C, ou DSTs (doenças sexualmente tranmissíveis) como: sifílis, gonorréia, etc.


O legal de ser indetectável hoje em dia é o fato de não viver aquela neurose do "ai, meu Deus! Será que transmiti o vírus a ele/ela quando a camisinha estourou? Através de um sangramento na gengiva?". Deste mal não sofremos mais, do medo de prejudicar nossos parceiros sexuais sorodiscordantes (parceiros sexuais que temos e são pessoas que não têm o HIV)por acidente. Mas não podemos sair por aí transando sem camisinha porque podemos nos prejudicar, e muito! Ou seja, continua tudo a mesma coisa. A Aids, ou ser portador do HIV, não se transformou em uma simples gripe que se trata com medicamentos. É muito grave, muito sério ainda! O preconceito ainda está aí pra todos nós, ainda há países onde vou e não posso levar meus medicamentos, etc, etc, etc...


Desejo a todos os novos portadores muita sorte nesta jornada. Tenho certeza que muitas coisas boas ainda irão acontecer, em termos de melhoras nos tratamentos, etc, mas ainda não é hora de comemorar, porque ainda não há cura. No dia em que a cura chegar, e não sei se estarei aqui para ver isto, aí sim poderemos abrir mão desta coisa de látex, a camisinha, em nossas vidas. Caso contrário, por favor, continuem usando. Só deixem de usar de comum acordo com sua parceira ou parceiro. Se ambos forem positivos, ou se somente um de vocês for, não importa, o que é importa é que tudo deve ser conversado num relacionamento. Saúde e vida a longo a todos! Grande abraço!


Anderson Ferreira (Domingo, 2 de dezembro de 2018)

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HIV: o que é ser uma pessoa com o vírus indetectável?

Lucas Martins, 24 anos, é um jovem sonhador e cheio de planos para o futuro. Ele é uma das pessoas que vivem com HIV e estão indetectáveis. Ou seja, com o tratamento com medicamentos antirretrovirais, a carga viral (vírus em circulação no sangue) chega a níveis muito baixos, indetectáveis. Além da melhora significativa na qualidade de vida, essa condição impede a transmissão do HIV por via sexual.

Mas quando recebeu o diagnóstico de infecção de HIV, há quatro anos, Lucas não conhecia nada sobre a possibilidade de se tornar indetectável. "A primeira coisa que passa pela nossa cabeça é a morte. Só vamos procurar informação quando descobrimos que está acontecendo com a gente", conta.
Na semana em que se celebra os 30 anos do Dia Mundial de Luta Contra a Aids (01/12), Lucas aconselha que todas as pessoas procurem conhecer o assunto. "Eu peço que as pessoas que não têm o vírus também busquem entender mais sobre o que é o HIV e o que é a Aids. É preciso que as pessoas abram a mente sobre essas questões, para diminuir todo o preconceito existente", sugere.

Atingir carga viral indetectável

Atingir a carga viral indetectável é um caminho que depende de vários aspectos. A pessoa que vive com HIV deve seguir o tratamento com todos os cuidados necessários, fazendo o uso correto dos medicamentos antirretrovirais.
Para Lucas, o acolhimento foi essencial. "É preciso procurar tratamento e que a família, os amigos e a sociedade apoiem essas pessoas. Eu senti a necessidade de uma mão amiga quando comecei o meu tratamento. Além disso, eu gosto de frisar que o acolhimento do profissional da saúde também é essencial nesse momento. Eles são parte fundamental para que a gente tenha uma ótima adesão ao tratamento", conta.
Para as pessoas que receberam o diagnóstico de HIV e ainda relutam quanto ao tratamento, ele deixa um recado. "Peço que essas pessoas não desistam de viver. Fazendo uso dos medicamentos você tem qualidade de vida, você vive bem, você pode sonhar, você pode fazer planos. É importante entender que somos pessoas normais, como qualquer um. Em tratamento, podemos viver algumas vezes até mais que pessoas que não são portadoras. Meu recado é esse: não tenham medo!", reflete.

Tratamento no SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza teste rápidos para a detecção do vírus nas unidades de saúde do país. Em 2018, foram distribuídos 12,5 milhões de unidades. Como a detecção do vírus impacta no início precoce do tratamento, a partir de janeiro também haverá na rede pública a oferta do autoteste de HIV para populações-chave e pessoas/parceiros em uso de medicamento de pré-exposição ao vírus.
No ano que vem, serão distribuídas 400 mil unidades, inicialmente como um projeto piloto nas cidades de São Paulo, Santos, Piracicaba, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e São Bernardo do Campo, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus.
O autoteste de HIV já é vendido nas farmácias privadas do país, mas os resultados não podem ser utilizados para o diagnóstico definitivo. Em caso de resultado positivo, o Ministério da Saúde orienta que o usuário busque o serviço de saúde para testes complementares. Nas caixas de autoteste de HIV, distribuído pelo SUS, haverá um número 0800 do fabricante para tirar dúvidas e dar orientações aos usuários. Este serviço funcionará 24 horas e 7 dias por semana. Além disso, o usuário pode tirar dúvidas pelo Disque Saúde 136 e no site aids.gov.br/autoteste.
Além da testagem, o Governo Federal também financia o tratamento para o HIV/Aids no país. Desde 2013, os medicamentos (antirretrovirais) podem ser acessados nas unidades de saúde pelos soropositivos independente da quantidade de vírus que eles apresentarem no corpo. Desde a introdução do tratamento para todos, até setembro deste ano, 585 mil pessoas com HIV/aids estavam em tratamento no país. A maioria, 87%, fazem uso do dolutegravir, um dos melhores medicamentos do mundo que está disponível gratuitamente no SUS.
O medicamento aumenta em 42% a chance de supressão viral (que é diminuição da carga viral do HIV no sangue) entre adultos, quando comparado ao tratamento anterior, usando o efavirenz. Além disso, a resposta virológica com o dolutegravir é mais rápida: no terceiro mês de uso mais de 87% os usuários já apresentam supressão viral, segundo estudos realizados pelo Ministério da Saúde.
Como se transmite o HIV
Assim pega:
·         Sexo vaginal, anal e oral sem camisinha;
·          Uso de seringa por mais de uma pessoa;
·         Transfusão de sangue contaminado;
·          Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação;
·         Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

Assim não pega:
·         Sexo desde que se use corretamente a camisinha;
·         Masturbação a dois;
·         Beijo no rosto ou na boca;
·         Suor e lágrima;
·         Picada de inseto;
·         Aperto de mão ou abraço;
·         Sabonete, toalha e lençóis;
·         Talheres e copos;
·         Assento de ônibus;
·         Piscina;
·         Banheiro;
·         Doação de sangue;
·         Pelo ar.
Dia Mundial de Luta contra a Aids

Há 30 anos, no dia 27 de outubro de 1988, a Assembleia Geral da ONU e a Organização Mundial de Saúde instituíram o dia 1º de dezembro como o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Cinco anos após a descoberta do vírus causador da aids, o HIV, 65,7 mil pessoas já tinham sido diagnosticadas com o vírus e 38 mil já tinham falecido.
Como parte das comemorações do dia 1º de dezembro, o Ministério da Saúde resgatou a confecção de colchas de retalhos, os chamados quilts, com mensagens de otimismo para quem vive com o vírus. E estendeu um mosaico, formado por essas colchas, em um dos gramados da Esplanada dos Ministérios. O material foi produzido por milhares de pessoas em várias partes do país que utilizaram uma plataforma digital para produzir a sua mensagem de apoio à causa.
Além disso, para marcar a data e relembrar as lutas e todas as conquistas na resposta global ao HIV, o Ministério da Saúde, lançou uma nova campanha publicitária contra a aids que tem sido veiculada desde o dia 28 de novembro.

* Por: Janaina  Bolonezi, para o Blog da Saúde