domingo, 2 de dezembro de 2018

HIV: o que é ser uma pessoa com o vírus indetectável?



Meus queridos amigos e leitores. Já há algum tempo não apareço por aqui. Hoje é domingo, 02/12/2018. Acordei cedo para trabalhar (vida de professor em final de semestre) e dei minha usual passada pelas páginas de notícias.

Me deparei com este interessante artigo que reproduzo abaixo do site UOL. Ele fala da vida de Lucas, rapaz portador do vírus HIV que tem 24 anos. Não sei há quanto tempo ele é portador, mas sei que ele tem 24 anos de vida. Eu tenho 51, como todos já devem ter lido neste blog, adquiri o vírus em 1986, 8 anos antes de Lucas nascer, e desde então convivo com este vírus, há 31 anos, quase 32 anos já. Meu sentimento é de gratidão por viver há tantos anos com este vírus. Vi muitos amigos meus morrerem nestes 31 anos. Vi Cazuza morrer, Sandra Bréa, Betinho, Freddy Mercury e dezenas, centenas de outras pesssoas. Sinto gratidão por poder ler um artigo que diz que os soropositivos indetectáveis (meu caso há mais de 15 anos) não transmitem o vírus. Isso é notícia nova pra mim. Meus médicos não me disseram que eu não transmitia o vírus porque era indetectável, eu só sabia que estava mais seguro, ou seja, que não "corria risco" de desenvolver uma infecção oportunista. Mas as coisas não são assim tão fáceis, nestes anos todos vi muitos indetectáveis desenvolverem doenças como o câncer, morrerem de infarto do miocárdio, sim, as medicações ainda fazem uma bagunça geral no nosso corpo, aumentando drasticamente os níveis de triglicérides e outras cossitas mas.

O que eu quero dizer aos novos portadores, e àqueles que ainda sequer sabem que são portadores, mas que continuam a se expor à probabilidade de adquirirem o HIV via sexual, que esta jornada não é assim tão fácil. Os medicamentos mudam nosso corpo e organismo. Não é algo fácil. Temos que trabalhar, ir ao médico para consultas frequentemente, fazer exames de sangue com frequência também. E não podemos levantar suspeitas no trabalho, pegar atestado médico de Posto de Saúde público, no meu caso, nem pensar. Por que alguém que tem convênio médico vai a um Posto de Saúde? Enfim, 31 anos convivendo com este vírus, sobrevivendo a ele, mas mesmo assim o preconceito ainda é imenso. Não posso simplesmente contar às pessoas que o tenho, como faz o Lucas com direito a foto e tudo no artigo abaixo. Não coloquei aqui sua foto porque acho que é irrelevante, mas quem quiser vê-lo é só acessar o artigo no link que coloquei abaixo, logo após o título da matéria.

Nestes 31 anos não posso mostrar meu rosto, porque colocaria minha vida profissional em risco, isso é muito triste. Queria muito ter colocado minha cara na capa do Harte (livro que escrevi contando minha história, disponível para download aqui neste blog), mas não pude. Eu o registrei na Biblioteca Nacional, mas não pude publicá-lo porque não poderia dar nota de autógrafo, dar entrevistas, enfim, não podia aparecer. Não que eu quisesse aparecer ou ficar famosinho...rs...muito pelo contrário, sou tímido e não tenho a menor intenção de me tornar uma pessoa pública. Até apareci na TV dia destes, mas por motivos que nada têm a ver com o fato de ser portador, por outros talentos que a vida me deu...e mesmo assim, morri de vergonha das câmeras e da platéia.


E outra coisa, o fato de eu não transmitir o vírus não me coloca em posição de transar sem camisinha porque posso adquirir outros vírus, como o da Hepatite C, ou DSTs (doenças sexualmente tranmissíveis) como: sifílis, gonorréia, etc.


O legal de ser indetectável hoje em dia é o fato de não viver aquela neurose do "ai, meu Deus! Será que transmiti o vírus a ele/ela quando a camisinha estourou? Através de um sangramento na gengiva?". Deste mal não sofremos mais, do medo de prejudicar nossos parceiros sexuais sorodiscordantes (parceiros sexuais que temos e são pessoas que não têm o HIV)por acidente. Mas não podemos sair por aí transando sem camisinha porque podemos nos prejudicar, e muito! Ou seja, continua tudo a mesma coisa. A Aids, ou ser portador do HIV, não se transformou em uma simples gripe que se trata com medicamentos. É muito grave, muito sério ainda! O preconceito ainda está aí pra todos nós, ainda há países onde vou e não posso levar meus medicamentos, etc, etc, etc...


Desejo a todos os novos portadores muita sorte nesta jornada. Tenho certeza que muitas coisas boas ainda irão acontecer, em termos de melhoras nos tratamentos, etc, mas ainda não é hora de comemorar, porque ainda não há cura. No dia em que a cura chegar, e não sei se estarei aqui para ver isto, aí sim poderemos abrir mão desta coisa de látex, a camisinha, em nossas vidas. Caso contrário, por favor, continuem usando. Só deixem de usar de comum acordo com sua parceira ou parceiro. Se ambos forem positivos, ou se somente um de vocês for, não importa, o que é importa é que tudo deve ser conversado num relacionamento. Saúde e vida a longo a todos! Grande abraço!


Anderson Ferreira (Domingo, 2 de dezembro de 2018)

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HIV: o que é ser uma pessoa com o vírus indetectável?

Lucas Martins, 24 anos, é um jovem sonhador e cheio de planos para o futuro. Ele é uma das pessoas que vivem com HIV e estão indetectáveis. Ou seja, com o tratamento com medicamentos antirretrovirais, a carga viral (vírus em circulação no sangue) chega a níveis muito baixos, indetectáveis. Além da melhora significativa na qualidade de vida, essa condição impede a transmissão do HIV por via sexual.

Mas quando recebeu o diagnóstico de infecção de HIV, há quatro anos, Lucas não conhecia nada sobre a possibilidade de se tornar indetectável. "A primeira coisa que passa pela nossa cabeça é a morte. Só vamos procurar informação quando descobrimos que está acontecendo com a gente", conta.
Na semana em que se celebra os 30 anos do Dia Mundial de Luta Contra a Aids (01/12), Lucas aconselha que todas as pessoas procurem conhecer o assunto. "Eu peço que as pessoas que não têm o vírus também busquem entender mais sobre o que é o HIV e o que é a Aids. É preciso que as pessoas abram a mente sobre essas questões, para diminuir todo o preconceito existente", sugere.

Atingir carga viral indetectável

Atingir a carga viral indetectável é um caminho que depende de vários aspectos. A pessoa que vive com HIV deve seguir o tratamento com todos os cuidados necessários, fazendo o uso correto dos medicamentos antirretrovirais.
Para Lucas, o acolhimento foi essencial. "É preciso procurar tratamento e que a família, os amigos e a sociedade apoiem essas pessoas. Eu senti a necessidade de uma mão amiga quando comecei o meu tratamento. Além disso, eu gosto de frisar que o acolhimento do profissional da saúde também é essencial nesse momento. Eles são parte fundamental para que a gente tenha uma ótima adesão ao tratamento", conta.
Para as pessoas que receberam o diagnóstico de HIV e ainda relutam quanto ao tratamento, ele deixa um recado. "Peço que essas pessoas não desistam de viver. Fazendo uso dos medicamentos você tem qualidade de vida, você vive bem, você pode sonhar, você pode fazer planos. É importante entender que somos pessoas normais, como qualquer um. Em tratamento, podemos viver algumas vezes até mais que pessoas que não são portadoras. Meu recado é esse: não tenham medo!", reflete.

Tratamento no SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza teste rápidos para a detecção do vírus nas unidades de saúde do país. Em 2018, foram distribuídos 12,5 milhões de unidades. Como a detecção do vírus impacta no início precoce do tratamento, a partir de janeiro também haverá na rede pública a oferta do autoteste de HIV para populações-chave e pessoas/parceiros em uso de medicamento de pré-exposição ao vírus.
No ano que vem, serão distribuídas 400 mil unidades, inicialmente como um projeto piloto nas cidades de São Paulo, Santos, Piracicaba, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e São Bernardo do Campo, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus.
O autoteste de HIV já é vendido nas farmácias privadas do país, mas os resultados não podem ser utilizados para o diagnóstico definitivo. Em caso de resultado positivo, o Ministério da Saúde orienta que o usuário busque o serviço de saúde para testes complementares. Nas caixas de autoteste de HIV, distribuído pelo SUS, haverá um número 0800 do fabricante para tirar dúvidas e dar orientações aos usuários. Este serviço funcionará 24 horas e 7 dias por semana. Além disso, o usuário pode tirar dúvidas pelo Disque Saúde 136 e no site aids.gov.br/autoteste.
Além da testagem, o Governo Federal também financia o tratamento para o HIV/Aids no país. Desde 2013, os medicamentos (antirretrovirais) podem ser acessados nas unidades de saúde pelos soropositivos independente da quantidade de vírus que eles apresentarem no corpo. Desde a introdução do tratamento para todos, até setembro deste ano, 585 mil pessoas com HIV/aids estavam em tratamento no país. A maioria, 87%, fazem uso do dolutegravir, um dos melhores medicamentos do mundo que está disponível gratuitamente no SUS.
O medicamento aumenta em 42% a chance de supressão viral (que é diminuição da carga viral do HIV no sangue) entre adultos, quando comparado ao tratamento anterior, usando o efavirenz. Além disso, a resposta virológica com o dolutegravir é mais rápida: no terceiro mês de uso mais de 87% os usuários já apresentam supressão viral, segundo estudos realizados pelo Ministério da Saúde.
Como se transmite o HIV
Assim pega:
·         Sexo vaginal, anal e oral sem camisinha;
·          Uso de seringa por mais de uma pessoa;
·         Transfusão de sangue contaminado;
·          Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação;
·         Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

Assim não pega:
·         Sexo desde que se use corretamente a camisinha;
·         Masturbação a dois;
·         Beijo no rosto ou na boca;
·         Suor e lágrima;
·         Picada de inseto;
·         Aperto de mão ou abraço;
·         Sabonete, toalha e lençóis;
·         Talheres e copos;
·         Assento de ônibus;
·         Piscina;
·         Banheiro;
·         Doação de sangue;
·         Pelo ar.
Dia Mundial de Luta contra a Aids

Há 30 anos, no dia 27 de outubro de 1988, a Assembleia Geral da ONU e a Organização Mundial de Saúde instituíram o dia 1º de dezembro como o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Cinco anos após a descoberta do vírus causador da aids, o HIV, 65,7 mil pessoas já tinham sido diagnosticadas com o vírus e 38 mil já tinham falecido.
Como parte das comemorações do dia 1º de dezembro, o Ministério da Saúde resgatou a confecção de colchas de retalhos, os chamados quilts, com mensagens de otimismo para quem vive com o vírus. E estendeu um mosaico, formado por essas colchas, em um dos gramados da Esplanada dos Ministérios. O material foi produzido por milhares de pessoas em várias partes do país que utilizaram uma plataforma digital para produzir a sua mensagem de apoio à causa.
Além disso, para marcar a data e relembrar as lutas e todas as conquistas na resposta global ao HIV, o Ministério da Saúde, lançou uma nova campanha publicitária contra a aids que tem sido veiculada desde o dia 28 de novembro.

* Por: Janaina  Bolonezi, para o Blog da Saúde



quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Matéria muito interessante sobre as possibilidades de transmissão do HIV por pessoas com carga viral indetectável

Zero: nenhuma transmissão do HIV entre participantes do estudo Partner


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Com resultados publicados para coincidir com a IAS 2016, conferência que começa em Durban na próxima semana, o estudo Partner mostrou que o impacto do tratamento antirretroviral contra o HIV na redução da transmissibilidade do vírus irá beneficiar milhões de pessoas no mundo. Os resultados invertem a suposição comum de que, por definição, algum nível de risco sempre existe quando um dos parceiros é soropositivo e reforçam a ideia de que a transmissão do HIV sob tratamento e carga viral indetectável não representa nada além de um risco teórico.
O estudo Partner traz boa evidência científica de que a carga viral indetectável pode ser um limiar sob o qual a transmissão sexual do HIV não ocorre. A importância do estudo Partner está no fato dele incluir casais homossexuais e heterossexuais, e mediu o risco em pessoas que não estavam usando preservativos para então estimaram os riscos absolutos.
Estudos anteriores se concentraram quase exclusivamente em pessoas heterossexuais que ainda relatavam altos índices de uso de preservativo. O estudo Partner fornece mais de três vezes a quantidade de tempo de acompanhamento de pessoas que não utilizam preservativos, em comparação a todos os estudos anteriores combinados. Isso representa 500 anos de acompanhamento de pessoas que fazem sexo anal sem preservativo.

Método
Entre setembro de 2010 e maio de 2014, o estudo Partner inscreveu prospectivamente 1.166 casais sorodiscordantes em 75 centros clínicos espalhados em 14 países europeus. Os critérios de inclusão determinavam que o parceiro positivo deveria ter carga viral indetectável em tratamento antirretroviral e que o casal não tivesse o hábito de sempre usar preservativos durante o sexo.
O acompanhamento incluiu controle de rotina da saúde sexual (incluindo teste de HIV para os parceiros soronegativos) e cada participante também preencheu questionários sobre o histórico sexual, a fim de avaliar o risco nas diferentes atividades. Os casais só foram incluídos na análise final quando a carga viral mais recente dos parceiros soropositivos era indetectável — definida como menor de 200 cópias/mL. O objetivo primário era analisar a taxa de transmissão entre os parceiros, determinada por análises filogenéticas do vírus para todos os casais em que o parceiro soronegativo se tornar soropositivo.

Resultados
De 1.166 casais inscritos, 1.004 casais foram à pelo menos uma visita de acompanhamento e 888 casais forneceram 1.238 anos de acompanhamento de casais (mediana de 1,3 anos por casal, IQR 0,8-2,0). Isto incluiu 548 casais heterossexuais e 340 casais gays masculinos. As principais razões para os dados não serem incluídos na análise de acompanhamento foram: não ir à primeira visita de acompanhamento (n=162), falta de teste de HIV (n=20), uso de PEP ou PrEP (n=9), nenhuma falta de uso de preservativo sexo (n=15), carga viral superior a 200 cópias/mL (n=55) e falta de resultado de exame de carga viral (n=17). Não houve diferença significativa entre os casais que contribuíram para os dados de acompanhamento  em comparação com aqueles que não o fizeram.
Embora 11 pessoas tenham se tornado soropositivas, nenhuma dessas transmissões estava geneticamente ligada ao parceiro que já era soropositivo inscrito no estudo, mesmo depois de pelo menos 58.000 vezes distintas em que os casais tiveram relações sexuais com penetração sem preservativo.
Dados demográficos iniciais foram relatados — como acontece com todos os resultados — por categorias de condição sorológica para o HIV, gênero e sexualidade, com algumas diferenças entre os grupos. Isso faz com que o resumo dos resultados seja complexo, mas a média de idade variou de 40 a 44 (com IQR geral variando de 31 a 50 anos). Homens gays e mulheres heterossexuais eram alguns anos mais jovens do que os homens heterossexuais. Aproximadamente 80% dos homens heterossexuais eram brancos, em comparação com 70% de mulheres e 90% dos homens homossexuais. A maior percentagem de homens homossexuais tinha nível superior de escolaridade em faculdade/universidade (cerca de 50%, em comparação com 19% a 35% para os heterossexuais). Embora algumas dessas diferenças sejam significativas, com exceção da falta de jovens adultos inscritos, elas refletem a diversidade das pessoas vivendo com HIV.
Parceiros soropositivos já estavam em tratamento antirretroviral por uma média de 10,6 anos (IQR: 4,3-15,6), 7,5 anos para os homens heterossexuais (IQR: 3,3-14,2) e 4,8 anos para as mulheres heterossexuais e gays (IQR: 1,9-11,4). No início do estudo, os casais relataram ter já manter relações sexuais sem preservativos durante uma média de 2 anos (IQR 0,5-6,3), com diferenças entre os grupos. Por exemplo: casais heterossexuais já mantinham relações sexuais sem preservativos há cerca de 3 anos (IQR 0,7 a 11 anos) em comparação com 1,5 anos para casais homossexuais (IQR 0,5 a 4 anos). Cerca de 23% dos casais estavam em relacionamentos novos/recentes (menos de 6 meses). A adesão ao tratamento (maior que 90%) foi semelhante nos três grupos. Todos os grupos tinham proporções similares de contagens de CD4 maior que 350 células/mm³ (85% a 91%).
Baseado em dados dos parceiros soronegativos, em geral, os casais relataram ter relações sexuais sem preservativo uma média de 37 vezes por ano (IQR 15 a 71), com casais homossexuais relatando um total de pelo menos 22.000 atos sexuais sem preservativo (mediana 41; IQR 17-75) e casais heterossexuais mais de 36.000 vezes (mediana 35; IQR 13 a 70). Estas eram estimativas aproximadas a partir dos relatos e os parceiros nem sempre relatavam os mesmos números. Alguns casais relataram sexo fora do relacionamento estável: 108 casais homossexuais (33%) e 34 casais heterossexuais (4%).
Nenhuma das 11 infecções pelo HIV em parceiros soronegativos (dez homossexuais e um heterossexual) estava geneticamente ligada ao parceiro soropositivo inscrito no estudo. A maioria das pessoas (8/11) relataram ter relações sexuais sem preservativo com pessoas de fora do relacionamento estável. Todas as amostras (n=22) foram sequenciadas geneticamente com sucesso para pol e 91% (n=20) foram sequenciadas para env.Nenhum dos sequenciamentos mostrou ligação com os parceiros já soropositivos inscritos no estudo e os resultados foram consistentes depois de usar vários métodos diferentes de análise. Detalhes adicionais para estas análises estão descritos no material suplementar do estudo.
Com zero transmissão, o limite superior do intervalo de confiança de 95% (IC 95%) para o estudo global foi de 0,3 por 100 casais-ano de acompanhamento. Cada categoria de riscos específicos, tinham diferentes limites superiores de 95%: por exemplo, 0,88 para o sexo heterossexuais em geral e 0,84 para o sexo gay em geral.
Isto significa que o intervalo de confiança superior de 95% para o sexo anal receptivo para os homens homossexuais (2,70 com ejaculação e 1,68 sem ejaculação) deve ser interpretado de acordo com o tamanho da amostra: havia menos casais-ano de acompanhamento, de modo que o limite superior é, por definição, maior. Enquanto este cálculo é feito para definir o intervalo potencial dentro da qual o verdadeiro risco pode estar, o intervalo de confiança de 95% não deve ser interpretado como um indicativo do risco que foi observado no estudo. Para ilustrar esta dificuldade, o maior risco estimado para o sexo anal heterossexual com intervalo de confiança superior de 95% foi de 12,71 e 8,14 (com e sem ejaculação, respectivamente) são sustentados por menos casais-ano de acompanhamento com este como o risco primário. Há de se notar, porém, que mais de 20% de casais heterossexuais relataram praticar sexo anal.
O estudo em curso Partner 2 continua a acompanhar casais gays do primeiro estudo e a recrutar casais homossexuais adicionais, a fim de produzir uma base de dados semelhante ao que já existe para casais heterossexuais, com acompanhamento até 2019. Também é digno de nota o fato de que, durante o estudo, 91 parceiros soropositivos relataram outras DSTs: 16 entre homens heterossexuais, 16 entre mulheres heterossexuais e 59 homens homossexuais — uma quantidade correspondente de DSTs a observada nos parceiros soronegativos, também sem qualquer aumento do risco de transmissão do HIV.

Comentários
Estes resultados são simples de entender: zero transmissão em mais de 58.000 vezes em que as pessoas tiveram relações sexuais sem preservativo. Estes números são impressionantes, especialmente pela complexidade da análise que foi necessária para provar que nenhum dos novos diagnósticos estava ligado à transmissões a partir de dentro dos casais inscritos no estudo.
Juntos, estes dados fornecem a estimativa mais forte sobre o risco real de transmissão do HIV quando uma pessoa soropositiva tem carga viral indetectável — e que esse risco é efetivamente zero. Embora nenhum estudo possa excluir a possibilidade de que o verdadeiro risco possa situar-se dentro do intervalo de confiança de 95%, nem mesmo que o valor real é de fato zero devido a algum mecanismo ainda não comprovado, o intervalo de confiança de 95% nunca pode ser zero, mas apenas se torna cada vez mais estreito. Nem a presença de DSTs nem as prováveis flutuações na carga viral entre os testes tiveram qualquer impacto em facilitar a transmissão.
Os resultados fornecem um conjunto de dados capazes de questionar se a transmissão com carga viral indetectável é realmente possível. Eles devem ajudar a normalizar o HIV e desafiar o estigma e a discriminação. Os resultados também desafiam as leis de criminalização que, em muitos países, incluindo os Estados Unidos, continuam a prender centenas de pessoas com base em premissas de risco que estes resultados refutam, mesmo quando os preservativos são usados e a carga viral é indetectável.
O ativista Sean Strub, do projeto SERO disse: “Centenas de pessoas vivendo com HIV nos Estados Unidos foram acusados de infracções penais para o risco percebido ou potencial de exposição ou transmissão do HIV. Alguns cumpriram ou estão cumprindo longas penas de prisão por cuspir, arranhar ou morder e outros por não serem capazes de provar que tinham divulgado seu status positivo para o HIV antes de ter contato sexual (mesmo na ausência de qualquer risco de transmissão do HIV). A criminalização HIV criou uma subclasse viral na lei, onerando ainda mais a comunidade marginalizada, colocando uma parcela desproporcional da responsabilidade partilhada da prevenção de infecções sexualmente transmissíveis em apenas uma das partes, desencorajando, assim, as pessoas em risco a fazer o teste diagnóstico de HIV.”
Os resultados também terão um impacto positivo na qualidade de vida, tanto para indivíduos soropositivos quanto para soronegativos que estão em relacionamentos sorodiscordantes, independentemente da opção de usar preservativos. O estudo Partner 2, em andamento, continua a acompanhar os casais homossexuais e ainda está recrutando novos casais para alcançar um poder estatístico semelhante para o sexo anal em comparação com o sexo vaginal.
Por Simon Collins para o TheBody em 12 de julho de 2016

Referências:
  1. Rodger AJ et al for the PARTNER study group. Sexual activity without condoms and risk of HIV transmission in serodifferent couples when the HIV-positive partner is using suppressive antiretroviral therapy. JAMA, 2016;316(2):1-11. DOI: 10.1001/jama.2016.5148. (12 July 2016). Full free access.
  2. Partner study, supplementary material. JAMA (16 July 2016).
  3. i-Base Q&A from the study.
  4. Partner 2 website. 

domingo, 12 de março de 2017

Sou HIV positivo há 30 anos!!!! Feliz Aniversário, Hivzinho! ;-)

Queridos leitores,

Estou aqui dando uma passadinha rápida porque não poderia deixar esta data passar em branco. São 23 horas e às 5 da manhã tenho que estar em pé para trabalhar, por isso não vou escrever quase nada.
Em breve escreverei um longo post, mas não será hoje, infelizmente. Só queria dizer que estou bem de saúde e feliz, felicidade da Terra, nada demais, mas estou me sentindo muito bem.
Mês passado completei 50 anos de vida, jamais imaginei que isso fosse acontecer nesta vida, não alguém que como eu, talvez muitos aqui já saibam disso por terem lido meu livro, foi sentenciado à morte prematura aos 19, recém feitos 20 anos de vida.
Pois bem, há 30 anos na data de hoje, ou melhor, daqui a pouco, completarei 30 anos sabando ser soropositivo. Sou muito grato a Deus, aos amigos que me ajudaram a chegar até aqui, e principalmente a Deus por ter podido viver meio século carregando este vírus em minha corrente sanguínea. Eu o venci, assim já considero, se amanhã eu morrer por causa dele, já terei vivido o suficiente para dizer: eu tive uma vida, foram 50 anos de vida muito bem vividos. Aprendi muito nesta vida, fiz muitas coisas legais, cometi muitos erros, muitos acertos, e assim ainda continuo, até o meu último suspiro neste plano.
Amanhã será segunda-feira, 13 de março de 2017. E foi em uma sexta-feira, 13 de março de 1987 que a notícia veio e junto com ela todos os fatores que me levaram a ser quem eu sou hoje.
Hoje sou um homem de 50 anos. Sou um profissional respeitado, um filho amado e grato pela pequena família que eu tenho. Vivi grandes amores, no momento não vivo nenhum, mas quando vivê-lo, tenho certeza que será ainda melhor do que os anteriores. Porque hoje sou uma pessoa melhor do que eu era aos 20 anos de idade, em termos de experiência de vida, espiritualidade.
Hoje tenho ainda menos medo da vida do que tinha há 30 anos. Tenho menos amigos, mas muito melhores dos que eu tinha há 30 anos. Tenho muito, muito menos beleza física do que tinha há 30 anos, mas me sinto mais bonito. Tenho mais dinheiro, mas je sinto mais pobre, porque vivo menos do que vivia naquela época, sei lá.
Hoje tenho medicamentos que me mantêm saudável, há 30 anos eles não existiam, Fiquei 11 anos, até 1998, para começar a tomar medicação.
Bem, mas o importante de tudo isso é que hoje estou aqui. Vivendo bem, com saúde e dignidade. Tem coisa melhor do que isso?
Dedico esta minha comemoração "blogal" a todos os portadores do vírus HIV que se descobriram há pouco nesta situação. E espero que minha experiência de vida, o livro que escrevi, o Harte de vIVer, disponível para download gratuito aqui no blog, possa lhe dar alguma luz e ajudá-lo de alguma forma, pois foi pra isso que eu o escrevi.
Um grande abraço às mais de 15 mil pessoas que já visitaram este meu espaço e aos que leram meu livro. Obrigado por me aturarem aqui já há alguns anos também...rs...espero que ainda possamos trocar muitas experiências através dos seus e-mails e comentários no blog.

Um grande abraço e Feliz Aniversário de 30 anos de HIV pra mim! ;-)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Fechando 2016




Queridos leitores!
Em um ano em que todo mundo disse que foi um ano horroroso e cheio de dificuldades, me sinto na obrigação de vir aqui e fechá-lo com chave de ouro! Sem querer dar uma de “o sortudo a quem nada atinge” porque sei que estes tipos incomodam, principalmente nas mídias sociais...rs...mas simplesmente querendo passar a todos que dificuldades todos nós temos, não há neste planeta um só ser que seja eternamente feliz, pois a meu ver, não é para isso que estamos aqui. Mas o que realmente quero dizer é que todos nós temos problemas, a única coisa que muda é como cada um de nós vê estes problemas, lida com eles.
E pra começar vou responder a pergunta de um leitor que recebi no final do ano:

Pergunta do leitor Henrique em 09/12/2016: Sem querer ser evasivo, mas o seu ex companheiro, sabia da sua sorologia, acha justo contar?

Resposta: Em 2016 eu tive apenas um relacionamento. Foi um relacionamento com uma pessoa que conheci no sul do Brasil em julho de 2015. Nos vimos, ficamos juntos e nos falamos por algumas vezes via mídias sociais. Depois disso, em janeiro, nos reencontramos novamente em minhas férias e ele me disse que gostava de mim. Em agosto, ou final de julho do ano anterior, não me lembro bem, via whatsapp, eu disse a ele que era soropositivo. A resposta dele foi enigmática, ele escreveu: “tu te tornas responsável por aquilo que cativas”, frase extraída do livro “O pequeno príncipe” que mais tarde ele me deu de presente, mas devido ao rumo que as coisas tomaram, nunca tive coragem ou vontade de ler. Este livro é encantado em minha vida, já tentei lê-lo várias vezes, mas nunca consigo, talvez um dia consiga, sei lá.

Bem, continuando, eu me apaixonei por ele, ele dizia que me amava e estava disposto a mudar sua vida, no sentido de deixar de ser uma pessoa que vivia somente pra si mesmo, que no futuro viveríamos juntos lá no sul, etc, etc, etc...mas ele me traiu, ou melhor, se traiu, porque transou com um cara e esqueceu de apagar as conversas pré e pós-transa do whatsapp e eu tive a “infelicidade” de vê-la. Aí eu o perdoei, mas ele não se perdoou, disse que não me merecia, etc, etc, etc, e não quis me ver nunca mais nesta vida. Ah...me esqueci de dizer...um dia, sem mais nem menos, ele me disse que também era soropositivo e não tocou mais no assunto, ou seja, o recado pra mim foi: você não era tão importante assim pra mim pra eu te contar também só porque você me contou...e a vida seguiu. 

Como morávamos em estados diferentes, nos víamos no máximo uma vez por mês, o máximo que chegamos a ficar realmente juntos foi por 10 dias em minha casa em São Paulo no mês de julho de 2016. As outras vezes foram por poucos dias, em feriados prolongados, tipo Carnaval, ou fins de semana apenas. Nosso “relacionamento”, e coloco entre aspas porque era relacionamento só pra mim. Ele vivia uma vida paralela em Balneário Camboriú transando livremente com outras pessoas e tinha dezenas de “contatos” em seu whatsapp aos quais ele fazia questão de dizer “sou todo seu” e coisas desse estilo dos galinhas virtuais, comumente encontrados no universo da internet hoje em dia. 

Eu mesmo cheguei a dar uma escorregada em nossa “relação” no período em que estávamos juntos. Transei com um cara que eu conhecia há anos e me seduziu com a ideia de que namoro à distância não tava com nada e que eu não deveria perder a oportunidade de estar com ele por mais uma vez...rs....me arrependo? Nenhum pouco, porque estava sendo corneado à distância enquanto trabalhava em minha casa nos fins de semana. O que terminou minha relação não foi a “traição” dele, mas a negação do ato, o que pra mim denota falta de caráter, de resto, não o culpo por nada não.

Me endividei muito por causa do “meu amor”, comprei inúmeras passagens de avião para que ele me visse ao menos uma vez por mês, inclusive diárias caríssimas entre Natal e Reveillon em Florianópolis cujas estadias acabei de utilizar sozinho.  Tenho passagem de avião pra pagar até o segundo semestre de 2017, e o que ficou disso tudo?

A primeira lição foi: “namoro” à distância nunca mais!! Até saio com pessoas nas viagens que faço, já que estou solteiro desde então, mas da próxima vez que rolar um sentimento “verdadeiro” com alguém que mora fora de minha cidade ou esteja apenas visitando a minha, cortarei devidamente  a tempo...rs...

A segunda lição: desconfie de pessoas que lhe dizem que quando estão com uma pessoa, estão somente com aquela pessoa. Quem é fiel simplesmente é, não precisa ficar reiterando a ideia de que é fiel, se o faz, é porque não é, está mentindo pra si mesmo e consequentemente pra você.

A terceira: não coloque sua felicidade nas mãos de ninguém nunca em sua vida. Ame e seja amado, se perceber que está em desvantagem, ou seja, se a pessoa é silenciosa, misteriosa, demonstra culpa velada em suas palavras ou comportamentos, pule fora o quanto antes!

A quarta: não se permita ser usado por uma pessoa. Se a pessoa não tem condições financeiras de jantar fora, por exemplo, e lhe diz: “vamos jantar no shopping?”, esta pessoa está usando você porque percebe que você a ama e quer agradá-lo. No meu caso ele disse isso e nunca pôs a mão na carteira. E em uma das conversas dele com “amigos” no whatsapp ele pede ao amigo que apague fotos da rede social porque o marido, eu no caso, é ciumento e ele não pode perder a pensão. Em pensão, leia-se: passagens aéreas, jantares em restaurantes caros, etc...eu infelizmente não percebia nada disso, achava que estava fazendo bem a alguém que eu amava e que não tinha condições de ir àqueles lugares, etc, nunca passou por minha cabeça que ele estivesse me usando, foi isso que me fez sofrer mais, além do fato, claro, de que descobri também que todas as mensagens que ele me passava de manhãzinha cedo, do tipo “bom dia”, aquelas mensagens automáticas bobas que te mandam sem mencionar seu nome no whatsapp, pois é, mandava pra vários outros também ao mesmo tempo. E o tolinho aqui achava que ele me amava e estava me cumprimentando assim que acordava todos os dias.

E a quinta e última lição: Sim, conte à pessoa que você ama sobre sua sorologia, mas somente a quem julga que vai ter um relacionamento sério. Esse povo com quem sai nas baladas, etc, pra esses, não, não diga nada, use camisinha e já está bom demais. Ninguém tem que saber sua sorologia, isso é uma condição sua que só interessa a você e a quem você ama. Não conte “para” o outro, mas “pelo” outro, ou seja, conte pela consideração que você tem pela pessoa em um determinado período da relação, simples assim.

E pra fechar esta história, não seja a vítima das coisas que lhe acontecem. Seja co-autor delas, ou seja, nada do que nos acontece, a meu ver, em minhas crenças, é por acaso. É assim que lido com o HIV em meu organismo desde que o descobri há quase 30 anos. Este ano faz 30 anos em 13/03/2017 que descobri minha sorologia. Se me visse como vítima disso tudo, acredito que não estaria aqui para contar minha história. O mesmo digo em relação às desilusões amorosas, se foi traído, como me aconteceu, é porque você se permitiu isso. A vida nos dá inúmeras dicas do que nos acontece. E eu não fui traído na verdade, revi minha vida e minhas atitudes e percebi que lá no passado nesta mesma vida, agi da mesma forma com outra pessoa.
Em meu livro, dos capítulos 29 (XXIX) ao 32 (XXXII) há uma narrativa que fala sobre uma história muito parecida com a que eu vivi em 2016, com a diferença de que era eu o algoz e o outro, Fernando, foi a vítima. Tudo se inicia na página 84 e termina na página 97, com direito a muitas lágrimas  e um sentimento hoje de arrependimento, mas não posso mudar minhas ações, não posso mudar meu passado, e acredito que o que fiz a Fernando lá em 1986, se me recordo bem da data, foi vivido de forma muito parecida aqui em 2016, 30 anos depois. A diferença é que eu não fui pego, confessei meus erros, mas me separei de alguém que me amava e me perdoava pelos meus erros assim como fez meu namorado comigo em 2016.

Mas eu não aceitei o perdão dele, muito parecido com o que aconteceu agora, resolvi continuar minha vida de descobertas e sexo desvairado que me levaram a adquirir o vírus HIV talvez meses depois, ou talvez eu até já o tivesse e sem saber tivesse transmitido ao Fernando, disso não sei, acho que só saberei disso quando desencarnar e descobrir o que foi feito de Fernando e dos débitos que provavelmente adquiri em relação a ele, sei lá, ou talvez, ele também estivesse resgatando coisas da vida em relação a mim, quem sabe? Isso não importa, o que importa é que como eu disse anteriormente, ninguém é vítima de nada. Fernando não foi vítima de Anderson, que não foi vítima do namorado de 2016. As coisas acontecem como consequência de nossas ações e escolhas, é isso que importa. Não cabe a mim desejar mal ao namorado de 2016 nem odiá-lo pelo sofrimento que nossa situação me trouxe, o que ele fez consta lá na ficha dele e ele vai ter que responder por suas ações, assim como eu terei que responder por minhas ações. E também não cabe a mim carregar culpas comigo, pelo contrário, não sinto culpa de nada do que fiz ou guardo mágoa do que fizeram comigo, perdoar os outros e a si mesmo é ação-chave para uma vida presente feliz, acredito eu.

Tudo que eu fiz de mal aos outros pode ser anulado com meu perdão a mim mesmo e àqueles que me magoaram no passado. As boas ações anulam as más ações, estamos aqui para aprender com nossas próprias ações, é assim que vejo e sinto as coisas...e se estiver errado, vou descobrir depois de desencarnar...tudo a seu tempo. Não estou dizendo que podemos sair por aí magoando as pessoas que tudo ficará bem, não é isso, o que eu quero dizer é que acredito que com a maturidade espiritual, as coisas ruins, os débitos que eu não conseguir sanar aqui nesta existência, serão por mim sanados através de decisões tomadas por mim, já em espírito, como forma de ressarcir a pessoa a quem eu fiz mal. Por exemplo, suponhamos que Fernando não tenha me perdoado pelo mal que eu lhe causei lá em 1986 e no futuro próximo, sim, vou fazer 50 anos em fevereiro próximo; ao desencarnar, eu decida que tenho que de alguma forma reparar o mal que eu lhe fiz, o sofrimento que eu lhe causei, etc. Posso vir na próxima vida como um filho seu, ou um namorado fiel seu, ou uma esposa, sei lá...o que quero dizer com isso tudo é que acredito que não há castigo divino pras coisas más que fazemos às pessoas, mas que nós, dentro do nosso próprio progresso espiritual, escolhemos provas às quais nos submetemos para reparar o que destruímos lá atrás. É nisso que eu acredito, e não quero que ninguém acredite nisso porque eu acredito, só estou dizendo o que eu acredito, somente isso. Pode ser que eu mesmo tenha escolhido passar por todo esse perrengue com o namorado de 2016 como forma de evoluir, vai saber?

O que ficou de bom com as experiências de 2016

Bem, eu fui lá embaixo por causa da desilusão amorosa ocorrida em outubro de 2016. Porém, contudo, todavia, em vez de ficar chorando fui procurar ajuda. E descobri o Ho’oponopono...vou colocar o link do vídeo aqui pra vocês. Ele me ajudou a trabalhar a questão do perdão ao outro e a mim mesmo...fantástico!




Descobri também a “oração conectada de 4 etapas”, uma oração que me ajudou a ficar conectado com os seres de luz espirituais, que sofrem, coitados, com nossa falta de atenção diária. Eles tentam nos ajudar, mas ficamos tão preocupados com nossos 'sofrimentozinhos' e nosso coitadismo que raramente nos conectamos com eles.



Esta oração me fez entrar em contato comigo mesmo e perceber que a chave para muitos dos meus problemas estava em mim mesmo, pois sou eu também Ser Divino, filho de uma Energia Maior cujo nome cada um dá à sua maneira, não importa, nada tem a ver com religião. Graças a esta oração, parei de tomar antidepressivos e disse adeus à depressão...não sinto mais aquela tristeza desnecessária que me visitava diariamente. Hoje, graças a Deus, me sinto bem o suficiente pra não ter mais que tomar aquelas tranqueiras que acabavam com meu fígado. Já me basta ter que tomar 5 comprimidos diários pra driblar o HIV, né? Não estou dizendo com isso que todo mundo deve fazer a oração e jogar seus remédios fora...cada caso é um caso e cada um sabe de si...eu parei e não me arrependo, porque estou me sentindo bem...mas se tivesse parado e voltado a me sentir mal, teria calçado as sandálias da humildade, voltado ao médico, e pedido receitinhas novamente. Espero que não precise mais de antidepressivos tão cedo em minha vida. E sei que tudo depende de mim, nossa felicidade depende de nós, mas temos o hábito de colocar nossa felicidade nas mãos de um amor, ou de um cargo, ou de uma situação financeira, etc, etc, etc. Levei meio século pra perceber isso, mas graças a Deus e a mim mesmo, consegui. ;-)

O que mais? Ah...consegui um belo emprego mesmo depois de ter feito força pra perder o emprego onde estava há 20 anos e onde recebia um ótimo salário. Todo mundo disse que eu era louco por ter pedido pra ser mandado embora em 2014, depois disseram que eu não conseguiria emprego cujo salário fosse tão bom quanto aquele, mas consegui um emprego melhor ainda em 2016. Não estou dizendo com isso que este emprego vai durar pra sempre, nem tampouco o salário que advém dele, mas tenho que elencar aqui essa situação como coisa boa que me aconteceu e sou grato por ela ter acontecido. Trabalho muito, muito mesmo, mal tenho finais de semana durante o semestre letivo, mas gosto muito do que eu faço e é isso que importa.

Bem, levei um pé na bunda de alguém que não era verdadeiro comigo e que não me amava, que consequentemente não me merecia, acho que isso foi algo bom também!

Minha mãe, depois de muito doente no final de 2015, finalmente se recuperou do problema de saúde, ainda está se recuperando, mas já tem 67 anos e não vai mais voltar mesmo a ser uma menininha saudável, tenho consciência disso...o importante é que ela recobrou sua mente saudável, já que a doença a tinha deixado além de fraca fisicamente também confusa mentalmente. Graças a Deus hoje ela está bem vivendo com dignidade ao meu lado, como sempre.

O que mais posso dizer? Bem, continuo escrevendo sempre que posso e volta e meia recebo e-mail de leitores dizendo que estão felizes em suas vidas por uma ou por outra razão após terem lido o Harte ou um post meu aqui no blog...isto também me deixa muito feliz!
Sou seguidor de um canal no Youtube chamado “Luz da Serra”, este canal me ajudou e me ajuda muito a compreender certas coisas que me acontecem. Sempre indico pros amigos, nada tem a ver com religião, mas sim com espiritualidade, eu recomendo.

E pra terminar, vim para o sul, Santa Catarina, dirigindo desde São Paulo. Isto também foi um feito pra mim, já que não dirijo em estradas e minha depressão mal me deixava dirigir em São Paulo. Peguei o carro dia 22 de dezembro e por causa do trânsito intenso na estrada, dirigi por 11 horas até chegar ao destino final, um trajeto que deveria ter durado pouco mais de 8 horas. Agora ainda tem a volta, mas estou tranquilo, sei que vai correr tudo bem. E agora que estou ainda mais espiritualizado do que antes, não acredito mais em tragédias, qualquer coisa que venha a me acontecer, não será para meu mal, mesmo que aos olhos dos homens seja. No final, a gente fica sempre bem, porque somos espíritos eternos e tudo nos serve como aprendizado, até as piores tragédias que todos veem com pesar e ficam semanas, meses às vezes maldizendo o destino, podem ser muito boas para nossa evolução espiritual.

E minha dica pra 2017 é: perdoem, perdoem muito! Perdoem primeiramente a si mesmos. Adquiriu o HIV em 2016? Que bom! Daqui em diante você vai saber que viver com o HIV não é o fim da vida, muito pelo contrário, pode significar o início de uma vida e você pode fazer a diferença como portador desta doença crônica como portadores de tantas outras doenças crônicas fazem todos os dias mundo afora.

Feliz 2017 a todos os responsáveis pelos cerca de 15.000 cliques aqui no blog! Fico muito feliz sempre que recebo e-mail de vocês me contando coisas boas em suas vidas, ou até mesmo coisas que consideramos “ruins”...sou muito grato por ter a oportunidade de ter este canal de contato direto com os leitores do Harte e do blog. Tem gente que nem leu o Harte, mas que vem sempre aqui e sempre me manda e-mail comentando meus posts...muito obrigado a todos e muita paz na Terra em 2017!
Grande abraço,


Anderson – 04 de janeiro de 2017.

sábado, 19 de novembro de 2016

E-mail de um leitor - novembro de 2016

Queridos leitores,
Recebi há pouco um e-mail de um leitor e após respondê-lo, decidi dividi-lo com vocês. Vou chamar o leitor de Henrique aqui e espero que a resposta que enviei a ele seja de alguma valia a outras pessoas também. Peço desculpas caso contenha muitos erros, pois já é tarde e não tive tempo de revisá-lo.
Grande abraço!
Anderson

Olá Anderson! Tudo bem?


Sou jovem e descobri ser soropositivo recentemente. Li o seu livro e sua história é inspiradora. Só não entendi uma parte, quando você relata que teve uma pneumonia e falou que viu a imagem da sua falecida avó (se não me engano), você teve uma experiência de quase morte? Outra questão, que fico extremamente angustiado, porque são muitas incertezas com relação ao futuro, o medo é paralisante. Como você lidou/lida com essas ansiedades? É uma sensação de tenho que fazer tudo depressa ou fim da linha. Dá para levar uma vida normal? Você tem muitos efeitos colaterais da medicação? Meu maior receio são os efeitos colaterais a longo prazo que podem provocar outras doenças no organismo. Por ultimo, sei que você não é médico ou cientista, mas você acredita na cura? Te pergunto isso, porque sei que a intuição pisciana não falha, rsrs. Desculpa a quantidade de perguntas, mas é que preciso tc com alguém que lide com esse vírus a mais tempo. Abraços, Henrique!

Henrique, meu querido! Muito obrigado pelo seu e-mail! Fico muito feliz quando recebo e-mail de leitores! Me dá a certeza que uma das coisas mais acertadas que fiz nestes meus quase 30 anos de soro positividade foi ter escrito o “Harte de vIVer”! Foram quase 3 anos de trabalho que realmente valeram a pena!
Respondendo à sua primeira pergunta: sim, o que tive em 1996, há exatos 20 anos, foi uma experiência de quase morte, ou melhor, pra mim, uma experiência de intensa vida! (risos)...eu me explico, é porque pra mim a morte não existe, meu querido! A morte é o que vivemos aqui, nosso espírito está encarcerado pela carne do corpo. E quando tem oportunidade, ou seja, quando dormimos, se liberta por instantes e vai realmente viver a vida...no caso da minha narrativa no livro, eu não estava dormindo, estava prestes, ou ao menos naquele momento acreditava, que estava prestes a morrer, e pude viver aquela experiência de forma consciente, coisa rara para muitos, como é pra mim, mas bastante comum para outros que têm a oportunidade de se lembrar diariamente, quando dormem, das viagens espirituais que fazem. São as chamadas viagens astrais conscientes. No meu caso, tive poucas das quais me lembro nesta vida, mas no livro há lá um capítulo que fala de uma experiência que tive quando estava em Londrina em casa de meu amigo Vítor. Para mim, aquilo me serviu, lá atrás, pra me conscientizar que a vida ia muito além daquilo tudo, ou melhor, daquilo tão pouco que a vida se mostrava pra mim. Foi o gatilho pra minha entrada na conscientização da espiritualidade. Foi a forma, à minha forma de crer, que o Plano Espiritual encontrou para me fazer consciente de que esta vida é apenas um minúsculo capítulo no nosso grande livro da vida, a vida verdadeira, a espiritual, esta sim é a verdadeira e infinita. Esta aqui que vivemos neste momento, é apenas um pequeno momento de aula escolhido por nós mesmos, pra exercitarmos nosso aprendizado evolutivo. Estamos aqui para evoluir, e como o planeta que habitamos é ainda na escala evolutiva, um planeta-escola de nível intermediário, aqui sofremos e aprendemos, e aqui também somos felizes e aprendemos. Cabe a nós entendermos as lições como momentos dolorosos nos quais sofremos e somos vítimas, ou como verdadeiras pérolas existenciais com as quais somos presenteados e crescemos através das inúmeras provas pelas quais passamos. Tudo é uma questão de como vemos essas provas. Eu, sempre que posso, procuro entender as provas como gatilhos de evolução. Acabei de passar por um e preciso muito escrever sobre ele, mas não será neste e-mail que lhe escrevo. Ah....e deixo claro aqui que não estou falando de religião, independentemente da religião que cada um tem, seja ele/a muçulmano/a, católico/a, espírita, crente, evangélico/a, etc...etc...etc...as provas são as mesmas, são experiências através das quais nos melhoramos, evoluímos.
E há aqueles que dizem que alguns pioram com determinadas provas, pois se revoltam, passam a usar drogas, se tornam pessoas amargas, isso ou aquilo, mas não é verdade. Porque não há na escala evolutiva coisa tal que se possa chamar de regressão, ou involução, não, meu amigo, não há. Por mais que achemos que alguém se tornou uma pessoa pior por causa de uma prova, nos enganamos, pois a revolta não será eterna, e lá na frente, e quanto a isso cada qual tem o seu tempo, lá na frente, haverá um momento de reflexão, e aquela prova terá cumprido seu intento...que é de nos fazer evoluir, pode acreditar!
Vou escrever mais sobre isto em breve, estou saindo de um momento difícil, de uma prova, mas já estou quase bem, e em breve poderei fazer dela um momento de reflexão e transformar, transmutar, toda a energia que acreditei ser negativa, em algo extremamente positivo, em puro amor, que é o final de todas as coisas nesta vida, e é para isso que aqui estamos, Henrique.
Bem, Henrique, respondendo à sua segunda pergunta, sobre se dá para levar uma vida normal...acho que sou prova viva disso, né? A ansiedade é algo que mina nossos pensamentos e ações, é o mal do século, independente de a pessoa ser soropositiva para o HIV ou soronegativa, isso não importa. O número de pessoas que sofrem de ansiedade hoje em dia é colossal! E não pense você que eu sou um super-herói que não sofre de ansiedade! Bem que eu gostaria, o que eu posso lhe dizer em relação a isso é: você não é o HIV, você não pode deixar que “ele” seja você, ou que seja responsável por sua vida. Ele é algo hoje muito, muito, imensamente menor do que ele era em 1987, acredite! Hoje ele é um vírus que pode ser controlado pelas medicações e principalmente por você, não no sentido que ele tenha perdido sua importância no que tange os cuidados que temos que ter com nossa saúde, etc, mas no sentido que ele é apenas um detalhe na sua vida, como inúmeras mazelas que atingem as pessoas em suas histórias de vida: a leucemia, o diabetes, as bactérias cada vez mais poderosas e resistentes, etc. Eu acabei de sair de uma internação de 6 dias por ter sido atingido pelo vírus rotavirus. Saí do meu trabalho no sábado, 05/11, estava me sentindo a pessoa mais normal do mundo, e quando vi estava internado em um hospital com a vida se esvaindo de mim em águas intestinais e provocando o mal funcionamento dos meus rins, que ficaram sobrecarregados com a desidratação. Pois bem, passei por mais esta, mas ainda estou aqui, 6kg mais magro e ainda um pouco enfraquecido, mas consciente de que a vida continua e que foi só um recadinho que meu corpo me enviou, do tipo: você não é um super-herói, passou por poucas e boas nos últimos dias e gostaríamos de lembrá-lo que caso não se cuide, não se alimente, não se fortifique, os vírus e as bactérias estão de olho em você para trazê-lo de volta à realidade ou levá-lo dela por pura falta de cuidado de sua parte!!!

O que eu quero dizer com isso tudo, Henrique, é que vivemos melhor nossas vidas quando vivemos cada dia como se fosse o último. Não por causa do HIV, mas porque simplesmente é assim que a vida é. Você acha que Domingos Montagner estava preocupado com o HIV quando entrou no rio para nadar? Ou que aquela moça da Vila Mariana cujo ex-marido, ou ex-namorado, sei lá quem era aquele indivíduo, lhe ceifou a vida com um tiro e deixou seu amigo talvez paraplégico; estava preocupada com o HIV? Todos os dias, todos os dias, Henrique, bebês, crianças, jovens, adolescentes, senhores de idade, pessoas em todas as partes do mundo, se despedem desta vida por um motivo ou por outro. O fato de termos HIV não deve ser um problema pra nós, pelo contrário, deve sim ser algo que nos impulsione à frente, sem pressa, no sentido da ansiedade, mas com pressa sim, no sentido de vivermos nossas vidas intensamente.
O que atrapalha a vida do ser humano não é o HIV ou qualquer outra doença, o que nos atrapalha é o medo, meu amigo. Medo de perder o emprego, medo de perder o grande amor de nossas vidas, medo de ser traído, e pra nos livrarmos deste último, muitos de nós trai antes, sem nos apercebermos que estamos traindo a nós mesmos, a ninguém mais.
É o medo que nos torna falíveis, não as dificuldades que vivemos. Eu tenho HIV, o outro tem câncer, aquele outro sofre de transtornos psicóticos, aquela outra sofre de ansiedade e pânico, e mais outros, e mais outros, cada um com seu “fardo”, Henrique. Ah...mas e aquele outro lá que é rico e não tem problemas financeiros, tem um grande amor, é famoso e é feliz? Por que com ele tudo dá certo?
E quem foi que disse que ele está feliz? Talvez ele seja mais infeliz do que eu e você e todos os outros juntos. Como eu disse anteriormente, isso aqui é uma escola, não existe ninguém extremamente feliz cuja vida é um conto de fadas. Isso só existe no facebook e todo mundo sabe que é mentira, não é mesmo?
A chave pra mim é o espiritualismo, não a religião, mas a consciência de que estamos aqui por algum motivo e temos obrigação de fazemos o nosso melhor com HIV ou sem HIV, com desgraça ou sem desgraça. Tudo se resume em uma só palavra: Amor. Estamos aqui para amarmos uns aos outros, cada um sendo útil à sua maneira. Não importa como, não há receita infalível, mas o que não podemos e não devemos fazer, é perder tempo olhando só pra nossos problemas e medos e nos esquecendo que fora da caridade não há salvação. Não temos que descobrir a cura da Aids para sermos úteis, ou inventar o Whatsapp, ou uma startup milionária! Se assim fizermos, parabéns para nós, mas sendo bom profissional, bom filho, bom irmão, bom amante, bom cidadão, bom aluno, bom professor, bom cozinheiro, bom faxineiro, bom cientista, etc, já estamos fazendo nossa parte.
Hoje eu entrei numa loja de doces variados na Vila Mariana e havia lá uma pedinte. Ela tinha uma criança de seus 7, 8 anos consigo. Ela era negra e jovem, talvez fosse usuária de drogas, não sei. A caixa chamou sua atenção e pediu que se retirasse, que ali não era permitido abordar as pessoas. Ela ficou na porta da loja. Em minha sacola havia um pacote de bolachas e uma garrafa de suco. Ela me pediu que lhe pagasse um suco, eu respondi que não tinha dinheiro. Na verdade eu tinha dinheiro, mas não ia me expor ali na frente da loja tirando minha carteira do bolso. Ela não hesitou e respondeu: então me dá este suco que você comprou aí e que está na sua sacola.
Eu me vi prestes a responder: o que lhe faz pensar que eu tenho a obrigação moral de me sentir culpado por poder comprar uma garrafa de suco, menina? – mas eu nada disse, só lancei um olhar de desaprovação a ela, que ela vai entender como descaso, e me retirei daquele local.
O que eu estou tentando ilustrar com esse caso, Henrique, é que a pobreza, a cor da pele, as injustiças sociais, a orfandade, o uso de drogas, portar o HIV, trair, ser traído, enganar, mentir, dizer a verdade, engordar, emagrecer, fumar, beber, ser abstêmio, isso tudo são escolhas que fazemos, escolhas cujas trajetórias nos levarão a algum lugar. Tudo nesta vida é experiência, a forma como as vemos e vivemos, as experiências, fica a cargo de cada um de nós.
Um adolescente de classe média que não consegue fazer uma viagem ao exterior com os amigos do colégio, pode, ser, se sentir, estar, muito mais infeliz do que uma pessoa pobre que vê um chocolate e não pode compra-lo, entende? Pois não são as situações que são terríveis, mas a forma como as vemos. Nós nos vitimamos demais diante das dificuldades, e eu não sou diferente dos outros, só me sinto em vantagem às vezes porque minha ficha costuma cair mais rápido do que da maioria das pessoas que conheço....rs...mas não sei se isso é vantagem ou desvantagem....rs
Eu fui ao fundo do poço porque me apaixonei por alguém que dizia que era o tipo de pessoa que se estava com alguém, estava somente com este alguém. Eu acreditei naquilo, quis acreditar naquilo. Ele me dizia que nos imaginava envelhecendo juntos num futuro próximo, que me amava, me mandava mensagens todos os dias impreterivelmente todos os dias às 6 da manhã, me ligava várias vezes ao dia, eu comprei inúmeras passagens de avião antecipadas que agora são somente faturas de cartão de crédito, enfim, pra resumir, eu parei de comer, parei de produzir, parei de escrever, parei de amar o ser humano e até a mim mesmo por causa disso tudo. Porque quando eu descobri que ele me “traiu”, meu mundo caiu. Ele sumiu, simplesmente disse que não estava pronto pra amar ninguém e não respondeu mais minhas mensagens, não me imaginou mais envelhecendo ao lado dele, não me mandou mais mensagem alguma, não se preocupou mais em saber se eu estava seguro ao dirigir pra casa à noite, sumiu, desapareceu, deve ter até se sentido aliviado por não ter mais que falar comigo.
Enfim, a culpa é dele? Ele é o mau e eu sou o bom? Não, se estou passando por isso, se passei por isso, foi porque por algum motivo isso me serviu como experiência, entende? É claro que como não sou super-herói, aquilo tudo me provocou muita tristeza e sofrimento, mas já estou melhor e hoje posso ver isso tudo como mais uma experiência. Eu não tenho mais raiva dele nem sequer visualizo nesta vida uma relação com ele, mas não sei o que o futuro nos reserva. Talvez eu o reencontre ainda nesta vida e possa um dia conversar sobre tudo que vivemos, talvez ainda venha a viver com ele uma linda e verdadeira história de amor nesta ou em uma vida próxima, ou talvez nunca mais o reveja nem nesta vida nem em outra, mas a experiência que vivi com ele daqui, de mim, nunca mais sairá, isso não há como negar.
Eu vivi uma relação de 15 anos que terminou há pouco mais de 2 anos, achava que nunca mais iria amar ninguém na vida, que isto era algo que não me dizia mais respeito. E olha o que eu vivi? E quem sou eu pra achar que só porque vou fazer 50 anos em fevereiro nunca mais vou amar ninguém? Este é o grande barato da vida, Henrique! A própria vida, suas surpresas, suas provas, suas quedas e levantes, o mais importante não é eu ter o HIV, ou ter sido bonito, ou ter um bom emprego, ou já ter passado fome, o importante é a vida até o dia em que ela durar, meu amigo. E ela nunca acaba, haverá um dia em que ela vai terminar pra mim aqui neste mundo, mas comigo, com meu espírito, ela sempre estará, e é isso que importa para mim, entende?
Respondendo sua última pergunta: sim, eu acredito que a “cura” para o HIV está próxima e acontecerá, mas virão outros vírus e outras doenças, porque é pra isso que estamos aqui, pra sobreviver a todos eles. E de alguma coisa eu vou morrer, até porque não sou mais nenhuma criança. Devo viver mais, 10, 15, 20 anos? Não importa, viverei até quando tiver que viver. Perdi amigos pro HIV quando eles tinham 20 e poucos anos, 30, 40, 50, 60 anos, cada um teve sua história. Não morreram por causa do HIV, morreram porque estava na hora de continuarem suas vidas do outro lado de onde todos viemos. Eu não morri por causa do HIV nestes quase 30 anos mas perdi muita gente por causa dele. Por que não morri? Não sei, acho que um dia vou saber, ou melhor, tenho certeza que um dia vou saber, mas no momento isto não tem a menor importância, porque o HIV faz parte da minha experiência de vida. Não me fez nem melhor nem pior, mas não posso negar que teve e tem grande influencia em minha vida, não fosse por ele não seria o que sou hoje, não teria escrito o “Harte” e não estaria aqui te escrevendo, né? E pra terminar, não sofro de nenhum mal grave por causa dos medicamentos, meu querido, meu corpo está mudando, não por causa dos medicamentos, mas por que vou fazer 50 anos e tudo cai, é a lei da vida, da gravidade....rs...não posso reclamar de nada não.
Bem, preciso terminar porque amanhã cedo vou fazer uma viagem pro interior e quero estar bem pra dirigir...voltei a dirigir esta semana depois de quase duas semanas de cama.
Um grande abraço pra você, Henrique! Espero que meu enorme texto tenha lhe ajudado de alguma forma, ok? Escreva sempre que quiser, é sempre um prazer escrever às pessoas que têm sede de algumas palavras baseadas em minha experiência neste assunto. Não sou o único soropositivo da face da terra, infelizmente, mas tento dar aqui minha pequena contribuição contando um pouco das minhas experiências. 😉
Fica com Deus!
Grande abraço!
Anderson



segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Homem britânico pode ser a primeira pessoa curada do HIV com remédios - fonte: http://gizmodo.uol.com.br/homem-curado-hiv-remedio/

Queridos leitores,
Acabei de ler a notícia abaixo. A matéria está copiada e colada na íntegra pra quem não frequenta o UOL, foi lá que a li. Mas na matéria original os links funcionam, e aqui não, ok? Eu me lembro como se fosse hoje, lá atrás em 1987 quando um anjo que apareceu em minha vida, na época, importava jornais, revistas - internet ainda não existia - no intuito de me animar para uma possível cura. Era tudo em vão mas eu, depois de um ano, já nem ligava pra isso. É engraçado como ainda não ligo pra isso, vivo bem com o HIV. É claro que seria muito legal parar de tomar as medicações, até porque já vou fazer 50 anos daqui a alguns meses e meu fígado não é o mesmo de 1998, quando comecei a tomar as medicações. Naquela época a toxicidade do coquetel era muito maior do que hoje em dia, embora ainda hoje, para alguns, certas combinações ainda promovam intenso desgaste físico em quem as toma. Bem, o importante é que para a nova geração HIV que aí está, há uma luz no fim do túnel. As DSTs continuarão aí para nos alertar sobre a necessidade da camisinha, mas poder parar de tomar a medicação, ah...será muito bom mesmo para todos nós que convivemos com ela!!! Cruzemos os dedos, irmãos! ;-)
Eu pessoalmente sou contra esta sentença de morte que algumas pessoas atribuem a si mesmas pelo fato de serem portadoras do HIV. Morreremos mais dia menos dia e nem sabemos do quê. Esta é a grande verdade! Menos tragédia pessoal seria bom para alguns, e é claro, também, mais conscientização para alguns também seria de bom tom. O que eu quero dizer é que há dois extremos de pessoas portadoras que conheci nestes 30 anos que convivo com este vírus e com pessoas, que como eu, o portam em suas correntes sanguíneas.
Há aqueles que vivem um intenso drama. Algo quase que como um folhetim diário vivido à base de lágrimas e que acham que porque o têm são especiais. São especiais no sentido de não precisarem trabalhar, batalhar pela vida mesmo, como todos nós, ou melhor, como a maioria de nós tem que fazer. Alguns nos param no farol e pedem dinheiro dizendo que têm Aids. Oi??? Eu também tenho! E trabalho para caramba, mermão! É isso que eu respondo. Estas pessoas param tudo em suas vidas em determinados departamentos e se jogam em outros, outros leia-se: drogas, sexo e rock'n roll...hahaha!
Já outras negam-se a acreditar que têm o vírus e continuam a vida, porém, fechados em suas pequenas caixinhas de fantasia-não-tenho-esse-troço...estas também precisam de um empurrão! A negação da situação também em nada ajuda, é necessário que encontremos um equilíbrio diante dessa nossa realidade. E para isso algumas pessoas têm que fazer psicoterapia individual, outras resolvem com grupo de apoio, outras resolvem com a melhor amiga, com marido, namorado, ficante, enfim, a meu ver, é importante que não se guarde este fato para si mesmo.
Bem, mas não foi pra falar sobre isso que vim aqui escrever este pequeno post...risos..era só pra dar a notícia do UOL mesmo. A matéria segue abaixo.
Abraços!
Anderson

Um homem de 44 anos na Inglaterra é possivelmente a primeira pessoa na história a ser curada do HIV com remédios. Cientistas trabalhando em uma nova terapia experimental dizem que o vírus está agora completamente indetectável no sangue dele.
Uma equipe de cinco universidades do Reino Unido está atualmente conduzindo testes em 50 pessoas. Mark Samuels, diretor do laboratório britânico NOCRI, disse ao Sunday Times: “estamos explorando a possibilidade real de cura do HIV. Este é um desafio enorme e ainda é cedo, mas o progresso tem sido notável.”
Atualmente, as terapias antirretrovirais podem ter como alvo as células-T ativas que estão infectadas com o HIV, mas não conseguem tratar as células-T dormentes. Isto significa que os órgãos dos pacientes continuam a reproduzir o vírus.
“Esta terapia é projetada especificamente para limpar o corpo de todo o HIV, incluindo as células dormentes”, disse Sarah Fidler, médica consultora do Imperial College London, ao Sunday Times.
Agindo em duas fases, o novo tratamento consiste em uma vacina para ajudar o corpo reconhecer as células infectadas com o HIV, e uma droga chamada Vorinostat que ativa as células-T dormentes. Este método poderia dar ao sistema imunológico do paciente as ferramentas de que ele tanto necessita.
O paciente não foi identificado; sabemos apenas que se trata de um assistente social em Londres. Ele está cautelosamente entusiasmado com os resultados, dizendo: “seria ótimo se uma cura aconteceu. Meu exame de sangue passado foi há duas semanas, e não há nenhum vírus detectável”.
Fidler diz que os pesquisadores ainda estão muito longe de uma terapia pronta: “continuaremos com os exames médicos pelos próximos cinco anos… no futuro, dependendo dos resultados dos testes, podemos explorar isto”.
Outros procedimentos conseguiram remover o HIV de humanos com sucesso inicial, porém o vírus retornou. Após dois anos, um bebê “curado” voltou a ter níveis detectáveis. Dois pacientes que receberam transplantes de medula óssea não mostraram níveis mensuráveis de vírus por vários meses, mas ele acabou retornando.
Timothy Ray Brown é considerado o primeiro homem curado do HIV, mas recebeu um tratamento difícil de replicar: um transplante de medula óssea com uma mutação genética especial que o torna quase invulnerável ao vírus.