sábado, 13 de março de 2010

Feliz aniversário, HIV!!!

Hoje é sábado, 13 de março de 2010. Há exatos 23 anos, em uma sexta-feira 13 do mês de março de 1987 eu recebia meu exames Anti-HTLV III (era assim que se chamava à época) e junto com ele a sentença de morte.
Eu estou super híper cansado hoje, saí de casa às 6:30 da manhã, dei aula até meio-dia e depois fiquei fazendo trabalhos chatos e administrativos até às 16:30, mas não podia deixar de dar uma passadinha aqui e demarcar esta data.
Esta semana foi uma semana muito triste. Dois colegas de trabalho faleceram pela mesma razão em contextos diferentes. Um ainda estava empregado na empresa onde trabalho, e aos 32 anos se despediu desse mundo vítima de uma pneumonia que o levou após 10 dias de internação. O outro provavelmente tinha minha idade, ou poucos anos a menos, e tambéms se despediu por causa de uma pneumonia. Já havia saído da empresa onde trabalho, mas traçava uma carreira de sucesso e a teve abreviada por uma bactéria que o levou à morte.
Eu não sou muito de ficar chorando o leite derramado, mas tinha que comentar isso aqui. Sequer sei se eles eram soropositivos como eu, mas e se não fossem? E se fossem? O que importa? O que importa é que de acordo com minhas crenças aqui já não mais se encontram, estão do lado de lá tentando entender provavelmente o que lhes aconteceu.
A efemeridade da vida teima em bater à minha porta dia após dia, e eu fico pensando: será que tem um recado pra mim nisso tudo? Aí penso também: deixa de ser o centro do mundo, Anderson! Você é você, os outros são os outros!
Bem, eu sinto imensamente pelos colegas que já não estão mais aqui, e mais ainda por suas famílias que ficaram. Porque quem morre, muda de endereço, volta (de acordo com MINHAS crenças) ao mundo de onde veio e faz um balanço do que tinha a melhorar e quanto já melhorou e também do que ainda há por se fazer, mas quem fica, quem fica fica com a tristeza, com o vazio, com os senões, com as dúvidas, com a saudade...e com a obrigação de continuar neste mundo cada dia mais quente e abafado no hemisfério sul nesta época do ano.
Bem, eu não ia escrever pra reclamar, muito pelo contrário, tenho mesmo é que festejar por ter emprego, família, amigos, estar fazendo faculdade, blábláblá...mas to chateado e pronto e não sou celebridade, não tenho que sorrir pras câmeras ao mesmo tempo em que me sinto triste. Deus sabe mesmo o que faz, por mais que a gente ache que Ele não sabe...imagine...eu queria ser ator! Já pensou se eu tivesse me tornado ator e famoso? Seria o cara mais mal-humorado do mundo já que detesto ser observado pelas pessoas...rs...ainda bem que virei professor...rs..sou feliz sendo professor. Mas nestas horas, nas horas destes acontecimentos, nas horas em que o Abacavir falta na prateleira do Posto de Saúde e eu estou tendo que tomar Zidovudina no lugar dele, é que penso...que droga! Será que eu to com medo dessa tal bactéria devastadora que levou estes dois colegas de trabalho? Acho que não...acho que sim...acho que não to não, porque não tenho medo de morrer. Acho que to sim, porque como há 23 anos volto a pensar e dizer ao Homem lá de cima: agora, já que eu cheguei até aqui, tenho que terminar a faculdade, são só mais 5 semestres, Moço...deixa eu ficar mais um pouquinho, vai? Ah...e também quero ir à Austrália...e também quero viver um grande amor, daqueles que a gente tira o pé do chão por algumas horas só pra pensar na pessoa, daqueles que fazem a gente perder o chão de felicidade. Ainda quero escrever um livro, quem sabe ainda escrevo uma ficção na qual tudo que eu queria que me acontecesse aconteceria nela? Não sei...só sei que agradeço a Deus por tudo todos os dias...por estar bem de saúde e ter energia pra me levantar todos os dias e começar um novo dia...é pra isso que serve a vida, né?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

FALTA ABACAVIR EM SÃO PAULO

Querido leitor, falta Abacavir (Ziagen) nas prateleiras de medicamentos dos centros de distribuição de medicamentos do Estado e da Prefeitura na cidade de São Paulo.

O Abacavir é um nucleosídeo análogo e faz parte dos medicamentos que deveriam ser distribuídos gratuitamente pelo Estado. Eu tomo 3 medicamentos: Kaletra, Abacavir e Tenofovir. Infelizmente a retirada de um deles do meu "coquetel" pode resultar em resistência do vírus HIV e posterior aumento de carga viral e queda de células CD4 (são elas que protegem meu organismo contra a ação do HIV e das infecções oportunistas).

Pois é, emprestamos dinheiro ao FMI mas a saúde pública continua sendo deixada de lado. Procurei pela internet de cabo a rabo pra ver se achava alguma notícia consistente ou reveladora sobre este assunto, mas tudo que encontrei foram notícias de que o medicamento iria faltar e ponto final. Ou seja: se virem soropositivos, está em falta e ponto final.

Isso é no mínimo revoltante! Sou cidadão brasileiro como todos vocês, leitores, e fico indignado quando estas coisas acontecem! Desde dezembro que o C. R. Penha na zona leste de São Paulo onde me consulto com médico infectologista me informa que o medicamento está em falta e não há previsão para chegada antes da segunda quinzena de fevereiro. Pois bem, hoje já é 18 de fevereiro e nada!!!!

Vocês devem estar se perguntando como posso ter ficado sem um medicamento que mantém vivo desde dezembro do ano passado. E já que estamos falando de descaso no país da corrupção vai aí outra notícia:
Os medicamentos do coquetel anti-HIV não são vendidos em farmácias ou em laboratórios no Brasil, eles são somente para distribuição gratuita pela rede pública. Acontece que há cerca de 1 ano e pouco outro medicamento que tomo, o Kaletra, também estava em falta e um paciente no Hospital Heliópolis (destes conhecidos de fila que fazemos em consultórios médicos) me forneceu um telefone de uma "enfermeira" que tinha acesso aos medicamentos e poderia me arrumar o medicamento em falta por uma pequena colaboração que à época me custou cerca de R$ 300. Não sei como se fez o esquema, mas ela me disse que não poderia me trazer somente o medicamento que estava em falta, que precisava do nome de todos os medicamentos que eu tomava e me traria os 3 de uma vez. Graças a esta "senhora" que me entregou os medicamentos em uma estação do metrô eu fiquei com a dose correta do Kaletra até que a distribuição fosse devidamente normalizada na rede pública.
Isso aconteceu comigo porque tive a sorte de ter o dinheiro na hora e poder "pagar" pela medicação que na rede pública havia desaparecido.
Com certeza essas pessoas não compraram o medicamento do laboratório, uma vez que a comercialização é proibida em território nacional. Mas devido às falhas na distribuição algum lugar bem sabido por ela tinha o medicamento. Algum médico aviou uma receita com os medicamentos que tomo e ele foi retirado em algum lugar. Isso não é uma vergonha? Tenho certeza que Boris Kasoy há de concordar comigo.

Errei em não denunciá-la? Acredito que não, uma vez que utilizei o serviço no intuito de me manter vivo e sadio. Há erro na ação desta pessoa? É claro que há, no país da corrupção esta e outras falcatruas deveriam ser inexistentes, mas o tal mercado paralelo não deixará de existir enquanto o descaso das autoridades continuar com a saúde pública.

Eu tive a sorte de ter encontrado esta pessoa que me forneceu o tal telefone (já o joguei fora e sequer me lembro do nome da tal enfermeira) através do qual consegui o medicamento na época. Graças a isso fiquei com doses extras do medicamento desaparecido das prateleiras do Centro de Referência desde dezembro de 2009. Mas e daí? O medicamento está acabando, tenho mais 10 doses...e depois, o que faço? O que é que os Josés, as Marias e os Joãos desse país farão sem o Abacavir? Sem o Kaletra e sem mais sei lá o quê?

Há alguns meses vi na TV que a farmácia de um hospital referência em tratamento de Aids havia sido assaltada. Imediatamente me lembrei da tal enfermeira. Ela é culpada? Com certeza é, mas tenho a dizer que este mercado paralelo só existirá enquanto o descaso conosco prosseguir nas farmácias públicas de nosso país.

Eu farei o que de legal houver a meu alcance para obter o Abacavir do Estado. Acho que é possível mover uma ação no Juizado de Pequenas Causas para a obtenção do remédio, vou me informar a respeito.

O Abacavir, pelo que sei, é uma medicação que a maioria das pessoas que o toma o faz porque apresentou falhas na terapia anteriormente, ou seja, quem toma Abacavir só o toma porque já é resistente a outras medicações anteriormente tomadas. Ao menos é o meu caso, em 2003 ou 2004 minha carga viral começou a subir e meu CD4 começou a baixar: os medicamentos que tomava não estavam mais fazendo efeito.
Fiz um exame chamado genotipagem que comprovou que eu era resistente a todas as medicações existentes no mercado. Minha morte era certa em pouco tempo porque eu não tinha mais o que tomar.

Quis Deus, assim permitiu Ele, que eu ficasse alguns meses sem tomar nada e na realização do exame de genotipagem feito após as "férias" uma nova terapia fosse introduzida com o coquetel que tomo atualmente. Eu já vi outras pessoas morrerem por falta de medicação que fizesse efeito, mais uma vez tive sorte e isto não aconteceu comigo. Mas será que outros tiveram a mesma sorte que eu ou terão ao terem o Abacavir retirado de suas terapias? Só Deus é quem sabe.

A funcionária da farmácia em sua santa ignorância me disse hoje calmamente que a minha médica estava substituindo o Abacavir pela Estavudina. Eu já tomei Estavudina durante anos (sou soropositivo desde 1987) e minha carga viral só subia depois de pouco mais de um ano com aquela terapia. E ela ainda me deu de presente uma sensação de dormência no pé direito chamada de neurite periférica, muito comum quando da ingestão desse medicamento por algumas pessoas.

Bem, é isso, vamos ver que fim isso tudo vai ter. É bom o meu relato para as pessoas que acham que hoje em dia não devem se preocupar em fazer sexo seguro porque a Aids é perfeitamente tratável e alguns comprimidinhos diários podem resolver o problema. Se elas soubessem...

Se algum leitor tiver o Abacavir em seu armário porque mudou de medicação e não o devolveu ao Posto de Saúde, por favor entre em contato comigo, ok?

E pensando nisso me veio uma idéia. Vou abrir um blog

que pode ser acessado pelas pessoas que têm medicamentos que não utilizam mais e que podem ser utilizados por quem os necessita, não é uma boa idéia. Mãos à obra!!!

Abraços a todos!

Anderson

PS: se você não tem o Abacavir e tem dinheiro para comprá-lo, encontrei esta farmácia no exterior que vende cada comprimido por US$ 13,04 (R$ 23,77), ou seja, a dose para um mês sai pela bagatela de R$ 1426,20 no câmbio de hoje. E vamos pagando impostos!!!

http://pharmacy-bestsellers.net/comprar-ziagen-brazil.html