Queridos leitores,
Estou aqui dando uma passadinha rápida porque não poderia deixar esta data passar em branco. São 23 horas e às 5 da manhã tenho que estar em pé para trabalhar, por isso não vou escrever quase nada.
Em breve escreverei um longo post, mas não será hoje, infelizmente. Só queria dizer que estou bem de saúde e feliz, felicidade da Terra, nada demais, mas estou me sentindo muito bem.
Mês passado completei 50 anos de vida, jamais imaginei que isso fosse acontecer nesta vida, não alguém que como eu, talvez muitos aqui já saibam disso por terem lido meu livro, foi sentenciado à morte prematura aos 19, recém feitos 20 anos de vida.
Pois bem, há 30 anos na data de hoje, ou melhor, daqui a pouco, completarei 30 anos sabando ser soropositivo. Sou muito grato a Deus, aos amigos que me ajudaram a chegar até aqui, e principalmente a Deus por ter podido viver meio século carregando este vírus em minha corrente sanguínea. Eu o venci, assim já considero, se amanhã eu morrer por causa dele, já terei vivido o suficiente para dizer: eu tive uma vida, foram 50 anos de vida muito bem vividos. Aprendi muito nesta vida, fiz muitas coisas legais, cometi muitos erros, muitos acertos, e assim ainda continuo, até o meu último suspiro neste plano.
Amanhã será segunda-feira, 13 de março de 2017. E foi em uma sexta-feira, 13 de março de 1987 que a notícia veio e junto com ela todos os fatores que me levaram a ser quem eu sou hoje.
Hoje sou um homem de 50 anos. Sou um profissional respeitado, um filho amado e grato pela pequena família que eu tenho. Vivi grandes amores, no momento não vivo nenhum, mas quando vivê-lo, tenho certeza que será ainda melhor do que os anteriores. Porque hoje sou uma pessoa melhor do que eu era aos 20 anos de idade, em termos de experiência de vida, espiritualidade.
Hoje tenho ainda menos medo da vida do que tinha há 30 anos. Tenho menos amigos, mas muito melhores dos que eu tinha há 30 anos. Tenho muito, muito menos beleza física do que tinha há 30 anos, mas me sinto mais bonito. Tenho mais dinheiro, mas je sinto mais pobre, porque vivo menos do que vivia naquela época, sei lá.
Hoje tenho medicamentos que me mantêm saudável, há 30 anos eles não existiam, Fiquei 11 anos, até 1998, para começar a tomar medicação.
Bem, mas o importante de tudo isso é que hoje estou aqui. Vivendo bem, com saúde e dignidade. Tem coisa melhor do que isso?
Dedico esta minha comemoração "blogal" a todos os portadores do vírus HIV que se descobriram há pouco nesta situação. E espero que minha experiência de vida, o livro que escrevi, o Harte de vIVer, disponível para download gratuito aqui no blog, possa lhe dar alguma luz e ajudá-lo de alguma forma, pois foi pra isso que eu o escrevi.
Um grande abraço às mais de 15 mil pessoas que já visitaram este meu espaço e aos que leram meu livro. Obrigado por me aturarem aqui já há alguns anos também...rs...espero que ainda possamos trocar muitas experiências através dos seus e-mails e comentários no blog.
Um grande abraço e Feliz Aniversário de 30 anos de HIV pra mim! ;-)
Meu nome é Anderson, tenho 53 anos na data de hoje e este blog é sobre tudo em minha vida, sobre todas as coisas sobre as quais gosto de opinar e comentar. Descobri que era soropositivo para o vírus HIV em 13/03/87, poucos dias após ter completado 20 anos de idade. À época um médico me disse que provavelmente eu teria mais 1 ou 2 anos de vida...e aqui estou a escrever neste blog mais de 30 anos após aquele dia em minha vida.
domingo, 12 de março de 2017
quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
Fechando 2016
Queridos
leitores!
Em um ano em
que todo mundo disse que foi um ano horroroso e cheio de dificuldades, me sinto
na obrigação de vir aqui e fechá-lo com chave de ouro! Sem querer dar uma de “o
sortudo a quem nada atinge” porque sei que estes tipos incomodam, principalmente
nas mídias sociais...rs...mas simplesmente querendo passar a todos que
dificuldades todos nós temos, não há neste planeta um só ser que seja
eternamente feliz, pois a meu ver, não é para isso que estamos aqui. Mas o que
realmente quero dizer é que todos nós temos problemas, a única coisa que muda é
como cada um de nós vê estes problemas, lida com eles.
E pra
começar vou responder a pergunta de um leitor que recebi no final do ano:
Pergunta do
leitor Henrique em 09/12/2016: Sem querer ser evasivo, mas o seu ex companheiro, sabia da
sua sorologia, acha justo contar?
Resposta: Em
2016 eu tive apenas um relacionamento. Foi um relacionamento com uma pessoa que
conheci no sul do Brasil em julho de 2015. Nos vimos, ficamos juntos e nos
falamos por algumas vezes via mídias sociais. Depois disso, em janeiro, nos
reencontramos novamente em minhas férias e ele me disse que gostava de mim. Em
agosto, ou final de julho do ano anterior, não me lembro bem, via whatsapp, eu
disse a ele que era soropositivo. A resposta dele foi enigmática, ele escreveu:
“tu te tornas responsável por aquilo que cativas”, frase extraída do livro “O
pequeno príncipe” que mais tarde ele me deu de presente, mas devido ao rumo que
as coisas tomaram, nunca tive coragem ou vontade de ler. Este livro é encantado
em minha vida, já tentei lê-lo várias vezes, mas nunca consigo, talvez um dia
consiga, sei lá.
Bem,
continuando, eu me apaixonei por ele, ele dizia que me amava e estava disposto
a mudar sua vida, no sentido de deixar de ser uma pessoa que vivia somente pra si mesmo, que no futuro viveríamos juntos lá no sul, etc, etc,
etc...mas ele me traiu, ou melhor, se traiu, porque transou com um cara e
esqueceu de apagar as conversas pré e pós-transa do whatsapp e eu tive a “infelicidade”
de vê-la. Aí eu o perdoei, mas ele não se perdoou, disse que não me merecia,
etc, etc, etc, e não quis me ver nunca mais nesta vida. Ah...me esqueci de
dizer...um dia, sem mais nem menos, ele me disse que também era soropositivo e
não tocou mais no assunto, ou seja, o recado pra mim foi: você não era tão
importante assim pra mim pra eu te contar também só porque você me contou...e a
vida seguiu.
Como morávamos em estados diferentes, nos víamos no máximo uma vez
por mês, o máximo que chegamos a ficar realmente juntos foi por 10 dias em
minha casa em São Paulo no mês de julho de 2016. As outras vezes foram por
poucos dias, em feriados prolongados, tipo Carnaval, ou fins de semana apenas. Nosso “relacionamento”,
e coloco entre aspas porque era relacionamento só pra mim. Ele vivia uma vida
paralela em Balneário Camboriú transando livremente com outras pessoas e tinha
dezenas de “contatos” em seu whatsapp aos quais ele fazia questão de dizer “sou
todo seu” e coisas desse estilo dos galinhas virtuais, comumente encontrados no
universo da internet hoje em dia.
Eu mesmo cheguei a dar uma escorregada em
nossa “relação” no período em que estávamos juntos. Transei com um cara que eu
conhecia há anos e me seduziu com a ideia de que namoro à distância não tava
com nada e que eu não deveria perder a oportunidade de estar com ele por mais
uma vez...rs....me arrependo? Nenhum pouco, porque estava sendo corneado à
distância enquanto trabalhava em minha casa nos fins de semana. O que terminou
minha relação não foi a “traição” dele, mas a negação do ato, o que pra mim
denota falta de caráter, de resto, não o culpo por nada não.
Me endividei
muito por causa do “meu amor”, comprei inúmeras passagens de avião para que ele
me visse ao menos uma vez por mês, inclusive diárias caríssimas entre Natal e
Reveillon em Florianópolis cujas estadias acabei de utilizar sozinho. Tenho passagem de avião pra pagar até o segundo
semestre de 2017, e o que ficou disso tudo?
A primeira
lição foi: “namoro” à distância nunca mais!! Até saio com pessoas nas viagens
que faço, já que estou solteiro desde então, mas da próxima vez que rolar um
sentimento “verdadeiro” com alguém que mora fora de minha cidade ou esteja
apenas visitando a minha, cortarei devidamente a tempo...rs...
A segunda
lição: desconfie de pessoas que lhe dizem que quando estão com uma pessoa,
estão somente com aquela pessoa. Quem é fiel simplesmente é, não precisa ficar
reiterando a ideia de que é fiel, se o faz, é porque não é, está mentindo pra
si mesmo e consequentemente pra você.
A terceira:
não coloque sua felicidade nas mãos de ninguém nunca em sua vida. Ame e seja
amado, se perceber que está em desvantagem, ou seja, se a pessoa é silenciosa,
misteriosa, demonstra culpa velada em suas palavras ou comportamentos, pule
fora o quanto antes!
A quarta:
não se permita ser usado por uma pessoa. Se a pessoa não tem condições
financeiras de jantar fora, por exemplo, e lhe diz: “vamos jantar no shopping?”,
esta pessoa está usando você porque percebe que você a ama e quer agradá-lo. No
meu caso ele disse isso e nunca pôs a mão na carteira. E em uma das conversas
dele com “amigos” no whatsapp ele pede ao amigo que apague fotos da rede social
porque o marido, eu no caso, é ciumento e ele não pode perder a pensão. Em
pensão, leia-se: passagens aéreas, jantares em restaurantes caros, etc...eu
infelizmente não percebia nada disso, achava que estava fazendo bem a alguém
que eu amava e que não tinha condições de ir àqueles lugares, etc, nunca passou
por minha cabeça que ele estivesse me usando, foi isso que me fez sofrer mais,
além do fato, claro, de que descobri também que todas as mensagens que ele me
passava de manhãzinha cedo, do tipo “bom dia”, aquelas mensagens automáticas
bobas que te mandam sem mencionar seu nome no whatsapp, pois é, mandava pra
vários outros também ao mesmo tempo. E o tolinho aqui achava que ele me amava e
estava me cumprimentando assim que acordava todos os dias.
E a quinta e
última lição: Sim, conte à pessoa que você ama sobre sua sorologia, mas somente
a quem julga que vai ter um relacionamento sério. Esse povo com quem sai nas
baladas, etc, pra esses, não, não diga nada, use camisinha e já está bom
demais. Ninguém tem que saber sua sorologia, isso é uma condição sua que só
interessa a você e a quem você ama. Não conte “para” o outro, mas “pelo” outro,
ou seja, conte pela consideração que você tem pela pessoa em um determinado
período da relação, simples assim.
E pra fechar
esta história, não seja a vítima das coisas que lhe acontecem. Seja co-autor
delas, ou seja, nada do que nos acontece, a meu ver, em minhas crenças, é por
acaso. É assim que lido com o HIV em meu organismo desde que o descobri há
quase 30 anos. Este ano faz 30 anos em 13/03/2017 que descobri minha sorologia.
Se me visse como vítima disso tudo, acredito que não estaria aqui para contar minha
história. O mesmo digo em relação às desilusões amorosas, se foi traído, como
me aconteceu, é porque você se permitiu isso. A vida nos dá inúmeras dicas do
que nos acontece. E eu não fui traído na verdade, revi minha vida e minhas
atitudes e percebi que lá no passado nesta mesma vida, agi da mesma forma com
outra pessoa.
Em meu
livro, dos capítulos 29 (XXIX) ao 32 (XXXII) há uma narrativa que fala sobre
uma história muito parecida com a que eu vivi em 2016, com a diferença de que
era eu o algoz e o outro, Fernando, foi a vítima. Tudo se inicia na página 84 e
termina na página 97, com direito a muitas lágrimas e um sentimento hoje de arrependimento, mas
não posso mudar minhas ações, não posso mudar meu passado, e acredito que o que
fiz a Fernando lá em 1986, se me recordo bem da data, foi vivido de forma muito
parecida aqui em 2016, 30 anos depois. A diferença é que eu não fui pego,
confessei meus erros, mas me separei de alguém que me amava e me perdoava pelos
meus erros assim como fez meu namorado comigo em 2016.
Mas eu não aceitei o perdão dele, muito parecido com o que
aconteceu agora, resolvi continuar minha vida de descobertas e sexo desvairado
que me levaram a adquirir o vírus HIV talvez meses depois, ou talvez eu até já
o tivesse e sem saber tivesse transmitido ao Fernando, disso não sei, acho que
só saberei disso quando desencarnar e descobrir o que foi feito de Fernando e dos
débitos que provavelmente adquiri em relação a ele, sei lá, ou talvez, ele
também estivesse resgatando coisas da vida em relação a mim, quem sabe? Isso
não importa, o que importa é que como eu disse anteriormente, ninguém é vítima
de nada. Fernando não foi vítima de Anderson, que não foi vítima do namorado de
2016. As coisas acontecem como consequência de nossas ações e escolhas, é isso
que importa. Não cabe a mim desejar mal ao namorado de 2016 nem odiá-lo pelo
sofrimento que nossa situação me trouxe, o que ele fez consta lá na ficha dele
e ele vai ter que responder por suas ações, assim como eu terei que responder por
minhas ações. E também não cabe a mim carregar culpas comigo, pelo contrário,
não sinto culpa de nada do que fiz ou guardo mágoa do que fizeram comigo,
perdoar os outros e a si mesmo é ação-chave para uma vida presente feliz,
acredito eu.
Tudo que eu
fiz de mal aos outros pode ser anulado com meu perdão a mim mesmo e àqueles que
me magoaram no passado. As boas ações anulam as más ações, estamos aqui para
aprender com nossas próprias ações, é assim que vejo e sinto as coisas...e se
estiver errado, vou descobrir depois de desencarnar...tudo a seu tempo. Não
estou dizendo que podemos sair por aí magoando as pessoas que tudo ficará bem,
não é isso, o que eu quero dizer é que acredito que com a maturidade
espiritual, as coisas ruins, os débitos que eu não conseguir sanar aqui nesta existência,
serão por mim sanados através de decisões tomadas por mim, já em espírito, como
forma de ressarcir a pessoa a quem eu fiz mal. Por exemplo, suponhamos que
Fernando não tenha me perdoado pelo mal que eu lhe causei lá em 1986 e no
futuro próximo, sim, vou fazer 50 anos em fevereiro próximo; ao desencarnar, eu
decida que tenho que de alguma forma reparar o mal que eu lhe fiz, o sofrimento
que eu lhe causei, etc. Posso vir na próxima vida como um filho seu, ou um
namorado fiel seu, ou uma esposa, sei lá...o que quero dizer com isso tudo é
que acredito que não há castigo divino pras coisas más que fazemos às pessoas,
mas que nós, dentro do nosso próprio progresso espiritual, escolhemos provas às
quais nos submetemos para reparar o que destruímos lá atrás. É nisso que eu
acredito, e não quero que ninguém acredite nisso porque eu acredito, só estou
dizendo o que eu acredito, somente isso. Pode ser que eu mesmo tenha escolhido
passar por todo esse perrengue com o namorado de 2016 como forma de evoluir,
vai saber?
O que ficou de bom com as experiências
de 2016
Bem, eu fui
lá embaixo por causa da desilusão amorosa ocorrida em outubro de 2016. Porém,
contudo, todavia, em vez de ficar chorando fui procurar ajuda. E descobri o Ho’oponopono...vou
colocar o link do vídeo aqui pra vocês. Ele me ajudou a trabalhar a questão do
perdão ao outro e a mim mesmo...fantástico!
Descobri
também a “oração conectada de 4 etapas”, uma oração que me ajudou a ficar
conectado com os seres de luz espirituais, que sofrem, coitados, com nossa falta
de atenção diária. Eles tentam nos ajudar, mas ficamos tão preocupados com
nossos 'sofrimentozinhos' e nosso coitadismo que raramente nos conectamos com
eles.
Esta oração
me fez entrar em contato comigo mesmo e perceber que a chave para muitos dos
meus problemas estava em mim mesmo, pois sou eu também Ser Divino, filho de uma
Energia Maior cujo nome cada um dá à sua maneira, não importa, nada tem a ver
com religião. Graças a esta oração, parei de tomar antidepressivos e disse
adeus à depressão...não sinto mais aquela tristeza desnecessária que me
visitava diariamente. Hoje, graças a Deus, me sinto bem o suficiente pra não
ter mais que tomar aquelas tranqueiras que acabavam com meu fígado. Já me basta
ter que tomar 5 comprimidos diários pra driblar o HIV, né? Não estou dizendo
com isso que todo mundo deve fazer a oração e jogar seus remédios fora...cada
caso é um caso e cada um sabe de si...eu parei e não me arrependo, porque estou
me sentindo bem...mas se tivesse parado e voltado a me sentir mal, teria
calçado as sandálias da humildade, voltado ao médico, e pedido receitinhas
novamente. Espero que não precise mais de antidepressivos tão cedo em minha
vida. E sei que tudo depende de mim, nossa felicidade depende de nós, mas temos
o hábito de colocar nossa felicidade nas mãos de um amor, ou de um cargo, ou de
uma situação financeira, etc, etc, etc. Levei meio século pra perceber isso,
mas graças a Deus e a mim mesmo, consegui. ;-)
O que mais?
Ah...consegui um belo emprego mesmo depois de ter feito força pra perder o
emprego onde estava há 20 anos e onde recebia um ótimo salário. Todo mundo
disse que eu era louco por ter pedido pra ser mandado embora em 2014, depois
disseram que eu não conseguiria emprego cujo salário fosse tão bom quanto
aquele, mas consegui um emprego melhor ainda em 2016. Não estou dizendo com
isso que este emprego vai durar pra sempre, nem tampouco o salário que advém
dele, mas tenho que elencar aqui essa situação como coisa boa que me aconteceu
e sou grato por ela ter acontecido. Trabalho muito, muito mesmo, mal tenho
finais de semana durante o semestre letivo, mas gosto muito do que eu faço e é
isso que importa.
Bem, levei
um pé na bunda de alguém que não era verdadeiro comigo e que não me amava, que
consequentemente não me merecia, acho que isso foi algo bom também!
Minha mãe,
depois de muito doente no final de 2015, finalmente se recuperou do problema de
saúde, ainda está se recuperando, mas já tem 67 anos e não vai mais voltar
mesmo a ser uma menininha saudável, tenho consciência disso...o importante é
que ela recobrou sua mente saudável, já que a doença a tinha deixado além de
fraca fisicamente também confusa mentalmente. Graças a Deus hoje ela está bem
vivendo com dignidade ao meu lado, como sempre.
O que mais
posso dizer? Bem, continuo escrevendo sempre que posso e volta e meia recebo e-mail
de leitores dizendo que estão felizes em suas vidas por uma ou por outra razão
após terem lido o Harte ou um post meu aqui no blog...isto também me deixa
muito feliz!
Sou seguidor
de um canal no Youtube chamado “Luz da Serra”, este canal me ajudou e me ajuda
muito a compreender certas coisas que me acontecem. Sempre indico pros amigos,
nada tem a ver com religião, mas sim com espiritualidade, eu recomendo.
E pra
terminar, vim para o sul, Santa Catarina, dirigindo desde São Paulo. Isto
também foi um feito pra mim, já que não dirijo em estradas e minha depressão
mal me deixava dirigir em São Paulo. Peguei o carro dia 22 de dezembro e por
causa do trânsito intenso na estrada, dirigi por 11 horas até chegar ao destino
final, um trajeto que deveria ter durado pouco mais de 8 horas. Agora ainda tem
a volta, mas estou tranquilo, sei que vai correr tudo bem. E agora que estou
ainda mais espiritualizado do que antes, não acredito mais em tragédias,
qualquer coisa que venha a me acontecer, não será para meu mal, mesmo que aos
olhos dos homens seja. No final, a gente fica sempre bem, porque somos
espíritos eternos e tudo nos serve como aprendizado, até as piores tragédias
que todos veem com pesar e ficam semanas, meses às vezes maldizendo o destino,
podem ser muito boas para nossa evolução espiritual.
E minha dica
pra 2017 é: perdoem, perdoem muito! Perdoem primeiramente a si mesmos. Adquiriu
o HIV em 2016? Que bom! Daqui em diante você vai saber que viver com o HIV não
é o fim da vida, muito pelo contrário, pode significar o início de uma vida e você
pode fazer a diferença como portador desta doença crônica como portadores de
tantas outras doenças crônicas fazem todos os dias mundo afora.
Feliz 2017 a
todos os responsáveis pelos cerca de 15.000 cliques aqui no blog! Fico muito
feliz sempre que recebo e-mail de vocês me contando coisas boas em suas vidas,
ou até mesmo coisas que consideramos “ruins”...sou muito grato por ter a
oportunidade de ter este canal de contato direto com os leitores do Harte e do
blog. Tem gente que nem leu o Harte, mas que vem sempre aqui e sempre me manda
e-mail comentando meus posts...muito obrigado a todos e muita paz na Terra em
2017!
Grande
abraço,
Anderson –
04 de janeiro de 2017.
sábado, 19 de novembro de 2016
E-mail de um leitor - novembro de 2016
Queridos leitores,
Recebi há pouco um e-mail de um leitor e após respondê-lo, decidi dividi-lo com vocês. Vou chamar o leitor de Henrique aqui e espero que a resposta que enviei a ele seja de alguma valia a outras pessoas também. Peço desculpas caso contenha muitos erros, pois já é tarde e não tive tempo de revisá-lo.
Grande abraço!
Anderson
Olá Anderson! Tudo bem?
Sou jovem e descobri ser soropositivo recentemente. Li o seu livro e sua história é inspiradora. Só não entendi uma parte, quando você relata que teve uma pneumonia e falou que viu a imagem da sua falecida avó (se não me engano), você teve uma experiência de quase morte? Outra questão, que fico extremamente angustiado, porque são muitas incertezas com relação ao futuro, o medo é paralisante. Como você lidou/lida com essas ansiedades? É uma sensação de tenho que fazer tudo depressa ou fim da linha. Dá para levar uma vida normal? Você tem muitos efeitos colaterais da medicação? Meu maior receio são os efeitos colaterais a longo prazo que podem provocar outras doenças no organismo. Por ultimo, sei que você não é médico ou cientista, mas você acredita na cura? Te pergunto isso, porque sei que a intuição pisciana não falha, rsrs. Desculpa a quantidade de perguntas, mas é que preciso tc com alguém que lide com esse vírus a mais tempo. Abraços, Henrique!
Recebi há pouco um e-mail de um leitor e após respondê-lo, decidi dividi-lo com vocês. Vou chamar o leitor de Henrique aqui e espero que a resposta que enviei a ele seja de alguma valia a outras pessoas também. Peço desculpas caso contenha muitos erros, pois já é tarde e não tive tempo de revisá-lo.
Grande abraço!
Anderson
Olá Anderson! Tudo bem?
Sou jovem e descobri ser soropositivo recentemente. Li o seu livro e sua história é inspiradora. Só não entendi uma parte, quando você relata que teve uma pneumonia e falou que viu a imagem da sua falecida avó (se não me engano), você teve uma experiência de quase morte? Outra questão, que fico extremamente angustiado, porque são muitas incertezas com relação ao futuro, o medo é paralisante. Como você lidou/lida com essas ansiedades? É uma sensação de tenho que fazer tudo depressa ou fim da linha. Dá para levar uma vida normal? Você tem muitos efeitos colaterais da medicação? Meu maior receio são os efeitos colaterais a longo prazo que podem provocar outras doenças no organismo. Por ultimo, sei que você não é médico ou cientista, mas você acredita na cura? Te pergunto isso, porque sei que a intuição pisciana não falha, rsrs. Desculpa a quantidade de perguntas, mas é que preciso tc com alguém que lide com esse vírus a mais tempo. Abraços, Henrique!
Henrique, meu querido! Muito obrigado
pelo seu e-mail! Fico muito feliz quando recebo e-mail de leitores! Me dá a
certeza que uma das coisas mais acertadas que fiz nestes meus quase 30 anos de
soro positividade foi ter escrito o “Harte de vIVer”! Foram quase 3 anos de
trabalho que realmente valeram a pena!
Respondendo à sua primeira pergunta: sim,
o que tive em 1996, há exatos 20 anos, foi uma experiência de quase morte, ou
melhor, pra mim, uma experiência de intensa vida! (risos)...eu me explico, é
porque pra mim a morte não existe, meu querido! A morte é o que vivemos aqui,
nosso espírito está encarcerado pela carne do corpo. E quando tem oportunidade,
ou seja, quando dormimos, se liberta por instantes e vai realmente viver a
vida...no caso da minha narrativa no livro, eu não estava dormindo, estava
prestes, ou ao menos naquele momento acreditava, que estava prestes a morrer, e
pude viver aquela experiência de forma consciente, coisa rara para muitos, como
é pra mim, mas bastante comum para outros que têm a oportunidade de se lembrar
diariamente, quando dormem, das viagens espirituais que fazem. São as chamadas
viagens astrais conscientes. No meu caso, tive poucas das quais me lembro nesta
vida, mas no livro há lá um capítulo que fala de uma experiência que tive
quando estava em Londrina em casa de meu amigo Vítor. Para mim, aquilo me
serviu, lá atrás, pra me conscientizar que a vida ia muito além daquilo tudo,
ou melhor, daquilo tão pouco que a vida se mostrava pra mim. Foi o gatilho pra
minha entrada na conscientização da espiritualidade. Foi a forma, à minha forma
de crer, que o Plano Espiritual encontrou para me fazer consciente de que esta
vida é apenas um minúsculo capítulo no nosso grande livro da vida, a vida
verdadeira, a espiritual, esta sim é a verdadeira e infinita. Esta aqui que
vivemos neste momento, é apenas um pequeno momento de aula escolhido por nós
mesmos, pra exercitarmos nosso aprendizado evolutivo. Estamos aqui para
evoluir, e como o planeta que habitamos é ainda na escala evolutiva, um planeta-escola
de nível intermediário, aqui sofremos e aprendemos, e aqui também somos felizes
e aprendemos. Cabe a nós entendermos as lições como momentos dolorosos nos
quais sofremos e somos vítimas, ou como verdadeiras pérolas existenciais com as
quais somos presenteados e crescemos através das inúmeras provas pelas quais
passamos. Tudo é uma questão de como vemos essas provas. Eu, sempre que posso,
procuro entender as provas como gatilhos de evolução. Acabei de passar por um e
preciso muito escrever sobre ele, mas não será neste e-mail que lhe escrevo.
Ah....e deixo claro aqui que não estou falando de religião, independentemente
da religião que cada um tem, seja ele/a muçulmano/a, católico/a, espírita,
crente, evangélico/a, etc...etc...etc...as provas são as mesmas, são
experiências através das quais nos melhoramos, evoluímos.
E há aqueles que dizem que alguns pioram
com determinadas provas, pois se revoltam, passam a usar drogas, se tornam
pessoas amargas, isso ou aquilo, mas não é verdade. Porque não há na escala
evolutiva coisa tal que se possa chamar de regressão, ou involução, não, meu
amigo, não há. Por mais que achemos que alguém se tornou uma pessoa pior por
causa de uma prova, nos enganamos, pois a revolta não será eterna, e lá na
frente, e quanto a isso cada qual tem o seu tempo, lá na frente, haverá um
momento de reflexão, e aquela prova terá cumprido seu intento...que é de nos
fazer evoluir, pode acreditar!
Vou escrever mais sobre isto em breve,
estou saindo de um momento difícil, de uma prova, mas já estou quase bem, e em
breve poderei fazer dela um momento de reflexão e transformar, transmutar, toda
a energia que acreditei ser negativa, em algo extremamente positivo, em puro
amor, que é o final de todas as coisas nesta vida, e é para isso que aqui
estamos, Henrique.
Bem, Henrique, respondendo à sua segunda
pergunta, sobre se dá para levar uma vida normal...acho que sou prova viva
disso, né? A ansiedade é algo que mina nossos pensamentos e ações, é o mal do
século, independente de a pessoa ser soropositiva para o HIV ou soronegativa,
isso não importa. O número de pessoas que sofrem de ansiedade hoje em dia é
colossal! E não pense você que eu sou um super-herói que não sofre de
ansiedade! Bem que eu gostaria, o que eu posso lhe dizer em relação a isso é:
você não é o HIV, você não pode deixar que “ele” seja você, ou que seja
responsável por sua vida. Ele é algo hoje muito, muito, imensamente menor do
que ele era em 1987, acredite! Hoje ele é um vírus que pode ser controlado
pelas medicações e principalmente por você, não no sentido que ele tenha
perdido sua importância no que tange os cuidados que temos que ter com nossa
saúde, etc, mas no sentido que ele é apenas um detalhe na sua vida, como
inúmeras mazelas que atingem as pessoas em suas histórias de vida: a leucemia,
o diabetes, as bactérias cada vez mais poderosas e resistentes, etc. Eu acabei
de sair de uma internação de 6 dias por ter sido atingido pelo vírus rotavirus.
Saí do meu trabalho no sábado, 05/11, estava me sentindo a pessoa mais normal
do mundo, e quando vi estava internado em um hospital com a vida se esvaindo de
mim em águas intestinais e provocando o mal funcionamento dos meus rins, que
ficaram sobrecarregados com a desidratação. Pois bem, passei por mais esta, mas
ainda estou aqui, 6kg mais magro e ainda um pouco enfraquecido, mas consciente
de que a vida continua e que foi só um recadinho que meu corpo me enviou, do
tipo: você não é um super-herói, passou por poucas e boas nos últimos dias e
gostaríamos de lembrá-lo que caso não se cuide, não se alimente, não se
fortifique, os vírus e as bactérias estão de olho em você para trazê-lo de
volta à realidade ou levá-lo dela por pura falta de cuidado de sua parte!!!
O que eu quero dizer com isso tudo,
Henrique, é que vivemos melhor nossas vidas quando vivemos cada dia como se
fosse o último. Não por causa do HIV, mas porque simplesmente é assim que a
vida é. Você acha que Domingos Montagner estava preocupado com o HIV quando
entrou no rio para nadar? Ou que aquela moça da Vila Mariana cujo ex-marido, ou
ex-namorado, sei lá quem era aquele indivíduo, lhe ceifou a vida com um tiro e
deixou seu amigo talvez paraplégico; estava preocupada com o HIV? Todos os
dias, todos os dias, Henrique, bebês, crianças, jovens, adolescentes, senhores
de idade, pessoas em todas as partes do mundo, se despedem desta vida por um
motivo ou por outro. O fato de termos HIV não deve ser um problema pra nós,
pelo contrário, deve sim ser algo que nos impulsione à frente, sem pressa, no
sentido da ansiedade, mas com pressa sim, no sentido de vivermos nossas vidas
intensamente.
O que atrapalha a vida do ser humano não
é o HIV ou qualquer outra doença, o que nos atrapalha é o medo, meu amigo. Medo
de perder o emprego, medo de perder o grande amor de nossas vidas, medo de ser
traído, e pra nos livrarmos deste último, muitos de nós trai antes, sem nos
apercebermos que estamos traindo a nós mesmos, a ninguém mais.
É o medo que nos torna falíveis, não as
dificuldades que vivemos. Eu tenho HIV, o outro tem câncer, aquele outro sofre
de transtornos psicóticos, aquela outra sofre de ansiedade e pânico, e mais
outros, e mais outros, cada um com seu “fardo”, Henrique. Ah...mas e aquele
outro lá que é rico e não tem problemas financeiros, tem um grande amor, é
famoso e é feliz? Por que com ele tudo dá certo?
E quem foi que disse que ele está feliz?
Talvez ele seja mais infeliz do que eu e você e todos os outros juntos. Como eu
disse anteriormente, isso aqui é uma escola, não existe ninguém extremamente
feliz cuja vida é um conto de fadas. Isso só existe no facebook e todo mundo
sabe que é mentira, não é mesmo?
A chave pra mim é o espiritualismo, não a
religião, mas a consciência de que estamos aqui por algum motivo e temos
obrigação de fazemos o nosso melhor com HIV ou sem HIV, com desgraça ou sem
desgraça. Tudo se resume em uma só palavra: Amor. Estamos aqui para amarmos uns
aos outros, cada um sendo útil à sua maneira. Não importa como, não há receita
infalível, mas o que não podemos e não devemos fazer, é perder tempo olhando só
pra nossos problemas e medos e nos esquecendo que fora da caridade não há
salvação. Não temos que descobrir a cura da Aids para sermos úteis, ou inventar
o Whatsapp, ou uma startup milionária! Se assim fizermos, parabéns para nós,
mas sendo bom profissional, bom filho, bom irmão, bom amante, bom cidadão, bom
aluno, bom professor, bom cozinheiro, bom faxineiro, bom cientista, etc, já
estamos fazendo nossa parte.
Hoje eu entrei numa loja de doces
variados na Vila Mariana e havia lá uma pedinte. Ela tinha uma criança de seus
7, 8 anos consigo. Ela era negra e jovem, talvez fosse usuária de drogas, não
sei. A caixa chamou sua atenção e pediu que se retirasse, que ali não era
permitido abordar as pessoas. Ela ficou na porta da loja. Em minha sacola havia
um pacote de bolachas e uma garrafa de suco. Ela me pediu que lhe pagasse um
suco, eu respondi que não tinha dinheiro. Na verdade eu tinha dinheiro, mas não
ia me expor ali na frente da loja tirando minha carteira do bolso. Ela não
hesitou e respondeu: então me dá este suco que você comprou aí e que está na
sua sacola.
Eu me vi prestes a responder: o que lhe
faz pensar que eu tenho a obrigação moral de me sentir culpado por poder
comprar uma garrafa de suco, menina? – mas eu nada disse, só lancei um olhar de
desaprovação a ela, que ela vai entender como descaso, e me retirei daquele
local.
O que eu estou tentando ilustrar com esse
caso, Henrique, é que a pobreza, a cor da pele, as injustiças sociais, a
orfandade, o uso de drogas, portar o HIV, trair, ser traído, enganar, mentir,
dizer a verdade, engordar, emagrecer, fumar, beber, ser abstêmio, isso tudo são
escolhas que fazemos, escolhas cujas trajetórias nos levarão a algum lugar.
Tudo nesta vida é experiência, a forma como as vemos e vivemos, as
experiências, fica a cargo de cada um de nós.
Um adolescente de classe média que não
consegue fazer uma viagem ao exterior com os amigos do colégio, pode, ser, se
sentir, estar, muito mais infeliz do que uma pessoa pobre que vê um chocolate e
não pode compra-lo, entende? Pois não são as situações que são terríveis, mas a
forma como as vemos. Nós nos vitimamos demais diante das dificuldades, e eu não
sou diferente dos outros, só me sinto em vantagem às vezes porque minha ficha
costuma cair mais rápido do que da maioria das pessoas que conheço....rs...mas
não sei se isso é vantagem ou desvantagem....rs
Eu fui ao fundo do poço porque me
apaixonei por alguém que dizia que era o tipo de pessoa que se estava com
alguém, estava somente com este alguém. Eu acreditei naquilo, quis acreditar
naquilo. Ele me dizia que nos imaginava envelhecendo juntos num futuro próximo,
que me amava, me mandava mensagens todos os dias impreterivelmente todos os
dias às 6 da manhã, me ligava várias vezes ao dia, eu comprei inúmeras
passagens de avião antecipadas que agora são somente faturas de cartão de
crédito, enfim, pra resumir, eu parei de comer, parei de produzir, parei de
escrever, parei de amar o ser humano e até a mim mesmo por causa disso tudo.
Porque quando eu descobri que ele me “traiu”, meu mundo caiu. Ele sumiu,
simplesmente disse que não estava pronto pra amar ninguém e não respondeu mais
minhas mensagens, não me imaginou mais envelhecendo ao lado dele, não me mandou
mais mensagem alguma, não se preocupou mais em saber se eu estava seguro ao dirigir
pra casa à noite, sumiu, desapareceu, deve ter até se sentido aliviado por não
ter mais que falar comigo.
Enfim, a culpa é dele? Ele é o mau e eu
sou o bom? Não, se estou passando por isso, se passei por isso, foi porque por
algum motivo isso me serviu como experiência, entende? É claro que como não sou
super-herói, aquilo tudo me provocou muita tristeza e sofrimento, mas já estou
melhor e hoje posso ver isso tudo como mais uma experiência. Eu não tenho mais
raiva dele nem sequer visualizo nesta vida uma relação com ele, mas não sei o
que o futuro nos reserva. Talvez eu o reencontre ainda nesta vida e possa um
dia conversar sobre tudo que vivemos, talvez ainda venha a viver com ele uma
linda e verdadeira história de amor nesta ou em uma vida próxima, ou talvez
nunca mais o reveja nem nesta vida nem em outra, mas a experiência que vivi com
ele daqui, de mim, nunca mais sairá, isso não há como negar.
Eu vivi uma relação de 15 anos que
terminou há pouco mais de 2 anos, achava que nunca mais iria amar ninguém na
vida, que isto era algo que não me dizia mais respeito. E olha o que eu vivi? E
quem sou eu pra achar que só porque vou fazer 50 anos em fevereiro nunca mais
vou amar ninguém? Este é o grande barato da vida, Henrique! A própria vida,
suas surpresas, suas provas, suas quedas e levantes, o mais importante não é eu
ter o HIV, ou ter sido bonito, ou ter um bom emprego, ou já ter passado fome, o
importante é a vida até o dia em que ela durar, meu amigo. E ela nunca acaba,
haverá um dia em que ela vai terminar pra mim aqui neste mundo, mas comigo, com
meu espírito, ela sempre estará, e é isso que importa para mim, entende?
Respondendo sua última pergunta: sim, eu
acredito que a “cura” para o HIV está próxima e acontecerá, mas virão outros
vírus e outras doenças, porque é pra isso que estamos aqui, pra sobreviver a
todos eles. E de alguma coisa eu vou morrer, até porque não sou mais nenhuma
criança. Devo viver mais, 10, 15, 20 anos? Não importa, viverei até quando
tiver que viver. Perdi amigos pro HIV quando eles tinham 20 e poucos anos, 30,
40, 50, 60 anos, cada um teve sua história. Não morreram por causa do HIV,
morreram porque estava na hora de continuarem suas vidas do outro lado de onde
todos viemos. Eu não morri por causa do HIV nestes quase 30 anos mas perdi
muita gente por causa dele. Por que não morri? Não sei, acho que um dia vou
saber, ou melhor, tenho certeza que um dia vou saber, mas no momento isto não
tem a menor importância, porque o HIV faz parte da minha experiência de vida.
Não me fez nem melhor nem pior, mas não posso negar que teve e tem grande
influencia em minha vida, não fosse por ele não seria o que sou hoje, não teria
escrito o “Harte” e não estaria aqui te escrevendo, né? E pra terminar, não
sofro de nenhum mal grave por causa dos medicamentos, meu querido, meu corpo
está mudando, não por causa dos medicamentos, mas por que vou fazer 50 anos e
tudo cai, é a lei da vida, da gravidade....rs...não posso reclamar de nada não.
Bem, preciso terminar porque amanhã cedo
vou fazer uma viagem pro interior e quero estar bem pra dirigir...voltei a
dirigir esta semana depois de quase duas semanas de cama.
Um grande abraço pra você, Henrique!
Espero que meu enorme texto tenha lhe ajudado de alguma forma, ok? Escreva
sempre que quiser, é sempre um prazer escrever às pessoas que têm sede de
algumas palavras baseadas em minha experiência neste assunto. Não sou o único
soropositivo da face da terra, infelizmente, mas tento dar aqui minha pequena
contribuição contando um pouco das minhas experiências. 😉
Fica com Deus!
Grande abraço!
Anderson
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