terça-feira, 12 de janeiro de 2021

2 anos sem postar nada + A série da Neftlix: POSE

 

Meus queridos leitores,

Exatos 2 anos, 1 mês e 9 dias após meu último post neste blog querido onde tantas coisas boas vivi, aprendi, conheci, retorno em postagem.

O meu prazer ao escrever é quase que sexual...rs...me deixo levar pelas palavras que surgem através dos meus toques no teclado e me desnudam para vocês. Estou poético hoje...rs.

O excesso de trabalho associado ao desinteresse coletivo pelo assunto ‘ser soropositivo’, acabaram me afastando, acho. Ou talvez seja apenas uma desculpa esfarrapada minha, não sei. Na verdade, como dizemos hoje em dia, não rolou e pronto. O importante é que estou aqui, muitos devem ter pensado: Anderson se foi para o outro lado e deixou seu blog online. Não, ainda não fui. Em 13 de março de 2020 completo 33 anos que sei que convivo com esse vírus que apavorou  muitos jovens nos anos 80 e 90, e que muitos fazem de conta não temer ainda nos dias de hoje. Nos anos 80 e 90 era pânico, hoje em dia, no meu modo de ver, é desprezo e falta de entendimento sobre o quão grave isso ainda é. Melhor que antes? Sim, mas não é fácil não. Os anos 80 e 90 foram a pior época, porém, respeito e sei que muitos ainda se abalam muito com a descoberta do HIV em suas veias ainda nos dias de hoje. Não posso dizer com certeza porque infelizmente hoje já não frequento grupos de apoio. O último que frequentei foi o GIV – Grupo de Incentivo à Vida, até meados de 2002. Sim, já faz 18 anos que não apareço por lá, mas sei que continuam ainda fazendo um excelente trabalho.

Há ainda militância para a prevenção, pelo combate ao preconceito etc. Acredito que não mais como o velho GAPA – Grupo de Apoio e Prevenção àAIDS. Me corrijam se eu estiver errado. A falta é minha, bem sei, por ter me afastado. Acabei soltando o livro “a Harte de vIVer” por aqui e deixei que as coisas andassem sozinhas. Vez ou outra respondo a um e-mail de um leitor na minha caixa de mensagens, mas já não posto mais minhas respostas por aqui.

Acho que fiquei velho e ninguém mais está interessado em ouvir as coisas que tenho a dizer, sei lá, será que estou querendo confete? Kkkk....provavelmente sim. Estou carente, deve ser isso...rs.

Vou ser breve ao falar de mim porque quero mesmo é falar de um filme, uma série da Netflix que acabei de assistir às 6 horas da manhã de ontem e me fez refletir sobre muitas coisas. Estou em férias e de licença médica. Nada grave. Meu psiquiatra diagnosticou Síndrome de Burnout. Estou com problemas sérios de memória, falo 2 línguas, mas às vezes esqueço construções básicas na minha língua nativa, português, e na minha segunda língua, inglês. E há uma outra série de fatores referentes à memória recente que têm me afetado, mas não vou falar disso. Tudo isso é resultado de quase 10 meses ininterruptos de trabalho diário que beiravam quase todos os dias, 12, 14, até 16 horas ao dia em home office graças à pandemia...chega uma hora em que a mente e o corpo cobram o prejuízo, isso eu já sabia.

Minha contagem de linfócitos CD4 em dezembro de 2020 estava em 1000 e alguma coisa, ótima contagem já há alguns anos...meu recorde é 1228. E a carga viral para o HIV já faz muito tempo também está indetectável! Wow! Que notícia boa! Então está livre de infecções, Anderson? – muitos podem estar me perguntando aí. Infelizmente não, primeiro porque acho que nossos linfócitos são meio, como diria? Sendo politicamente correto em tempos de hoje? Bem, eu diria que os linfócitos de soropositivos que vivem com HIV há 33 anos como eu, são meio quê, linfócitos com necessidades especiais, se é que me entendem...rs. E para quem leu meu livro e sabe que em 1987 fiz uma cirurgia de retirada de condilomas, no auge da epidemia de Aids, quando ela era ainda fatal caso ficássemos doentes, e depois tive que fazer outra cirurgia em 1994, 7 anos depois, porque eles voltaram, e agora, em 2020, 26 anos após a segunda cirurgia, terei que fazer outra cirurgia, pois eles retornaram. “Mas como assim, doutora? Estou vendendo CD4 e estou indetectável, podem mesmo ter voltado? Por quê? – perguntei à médica há cerca de uma semana. E a resposta dela foi: “stress, provavelmente pelo stress que passou trabalhando sem parar todos estes meses de “isolamento”, seu organismo não aguentou e eles retornaram. Vamos ter que operar você novamente”.

E lá vamos nós! Depois conto a vocês como correu tudo. Acho que ainda não vai ser desta vez...rs....já deu pra perceberem que sou duro na queda, né?

Tirando isso e o problema mental, estou bem...rs. Bem, só contei a vocês por que depois de 2 anos desaparecido não podia contar só coisas boas, né? Mas tenho certeza de que será só mais um capítulo meio chato nos capítulos por vir na 2ª parte do Harte...rs... afinal de contas parei em 2003 e muita coisa boa aconteceu de lá para cá, mas fica para um segundo livro.

Vamos à razão pela qual eu vim até aqui hoje. Quem já viu a série da Netflix “Pose” e discordar com algo que eu diga aqui nas próximas linhas, por favor, fique à vontade pra discordar nos comentários, ok?

A série é composta de 18 episódios de em média 45 a 60 minutos cada um. E o melhor de tudo: tem fim. Sim, porque eu perco interesse por séries pelas quais tenho que esperar 1 ano para continuar a ver. Me perco na estória e perco interesse, não vejo mais. Foi assim com Lost, Lucífer, A Casa de Papel e até mesmo com How to Get Away with Murder com a diva Viola Davis. Tenho muitos amigos que não assistem por causa dessa descontinuidade, maior ainda agora causada pela pandemia do coronavírus nos estúdios de gravação. Voltando ao assunto; pra mim, a série acaba no último episódio da Temporada 2, 18º episódio. Se os produtores quiserem ainda tem história, mas ficou tudo bem resolvido no último episódio. Exceto por uma curiosidade minha que ficou, mas não vou dar spoiler.

Pose (do verbo “posar” em inglês e uma alusão ao strike a pose de Madonna) conta a história de pessoas que vivem à margem da sociedade americana em 1987. Sim, mesmo ano em que eu, Anderson, descobri que era HIV, mas até aí, pensei, já na primeira cena, quando vi a indicação da época: nada a ver, deve ser um filme chato que me recomendaram só porque fala de Aids naquela época, deve ser um terror só, não vou passar do primeiro episódio, porque não gosto de tragédia, drama tudo bem, mas tragédia não...rs..., mas eu estava errado. A série conta a história dos travestis, do gueto gay na Nova Iorque de 1987 até aproximadamente 1990, 1991, se não me engano.

Blanca é uma travesti de origem latina que does not pass (não passa facilmente por mulher) e que tem dificuldades em se aceitar por isso. A frase “you pass” (você passa por mulher) aparece de quando em vez durante a série como o melhor elogio que uma travesti ou transexual possa receber. Algumas são lindas, perfeitas, they pass, mas Blanca não.

As personagens das travestis Elektra e Angel são bem sucedidas porque elas passam, o mesmo não acontece com Blanca, que luta pela sobrevivência trabalhando como manicure e participando de concursos à noite em uma boate gay onde as pessoas vivem verdadeiros sonhos representando temas da sociedade (categorias de vestimenta) através de carões e roupas e acessórios que as levam a representar pessoas da sociedade à qual elas não pertencem: a executiva, a mulher real, realness (leia-se: o mais próximo que conseguem chegar de uma mulher cisgênero, ou seja, uma mulher que convive perfeitamente satisfeita com sua forma física e gênero com o qual nasceu, algo muito próximo do antigo termo “heterossexual”...rs ), luxo, a madame na casa de chá, o militar, etc, etc, etc...infindáveis categorias que nos deliciam e chegaram até a me cansar depois de alguns episódios, mas não foi isso que me chamou a atenção.

O que mais me chamou a atenção é a maneira como as personagens são tão bem construídas e tão reais, embora estejam tão distantes da vida da maioria de nós. Quantos de nós convivemos no submundo dos travestis? Eu sou um homem gay e o mais próximo que cheguei de uma travesti em meus 53 anos de vida foi observando-as no palco nas boates na época em que eu as frequentava. Ou através da diva Rogéria, que teve acesso às telas da TV porque a rotularam de travesti da família e permitiram que ela entrasse em nossas casas. Se ela fosse desbocada como Dercy Gonçalves, não teria chegado aonde chegou, com certeza. Rogéria não podia ousar além do seu talento artístico, caso contrário, não teria sido “aceita”. Quem aí ouviu Roberta Close dizer alguma barbaridade que chocasse? Não, era uma boa moça, e Roberta passava, passou, porque virou mulher através da dolorosa cirurgia cujas dores só elas mesmas devem ser capazes de narrar. A atual (reprisada) novela “A Força do Querer” explica bem a diferença entre um travesti e uma mulher e um homem trans. Os transexuais não são felizes com o corpo que têm, não o aceitam e sofrem com isso, almejando um dia poderem alcançar a graça de sofrerem uma cirurgia que possa dar-lhes a genitália com que sonharam desde que assim se descobriram. Já os travestis são homens que vivem sua mulher interior de forma às vezes extremamente convincente, mas gostam da genitália que têm, e não a menosprezam nem tampouco a abominam. E os gays (homossexuais), como todos sabem, são homens que gostam de homens e mulheres que gostam de mulheres. Alguns homens gays gostam de homens mais masculinos, outros gostam de homens mais afeminados, mas no final das contas somos todos gays. E há várias categorias criadas, razão pela qual criaram a sigla LGBTQIA+. Em suma, somos todos objetos de preconceito até os dias de hoje. E pasmem, muitos de nós temos preconceito contra nós mesmos, homens gays contra mulheres gays, homens gays contra homens gays passivos, homens gays contra gays afeminados, homens gays contra travestis etc., etc., etc....enfim, somos todos humanos e complicados. Não somos nem melhores nem piores do que outros seres humanos. Somos todos da mesma raça: a raça humana, mas nos dividimos em inúmeras categorias, que me atrevo a dizer, uma mais imperfeita que a outra e todas se acham perfeitas. Não vou nem entrar no tema cor da pele, etnia, classe social, religião e tendências políticas porque não terminaria nunca de escrever e não chegaria à conclusão alguma.

“Pose” nos mostra seres humanos, não nos mostra heróis, mas nos mostra verdadeiros seres humanos. Sim, porque aquela pessoa que eu odeio em minha vida porque é mesquinha, porque é má, porque é traiçoeira, aquela mesma pessoa, é um anjo para outros, nunca os feriu nem os ferirá, porque os ama e precisa deles, porque precisamos das pessoas que amamos, e tentamos dar o troco diariamente às pessoas que nos fazem mal. Ou simplesmente fugimos delas porque não temos forças para enfrentá-las, mas nos esquecemos que em algum lugar elas são amadas, porque merecem também ser amadas. Eu não tenho dúvidas que muitos me odeiam porque mostro a eles o pior de mim, e muitos me amam porque lhes mostro o melhor de mim. Porque sou humano.

Pose me fez pensar que ninguém é vilão/vilã ou herói/heroína. A história me fez odiar e amar a mesma personagem inúmeras vezes. Alguns são capazes de agir da forma mais baixa à qual um ser humano pode chegar para sobreviver, e esta mesma personagem me fez chorar quando demonstrou sua vulnerabilidade e me fez entender que muitas das vezes atacamos no intuito de nos defendermos do sofrimento que tememos sofrer caso nos mostremos vulneráveis. Assim fazem todos os animais, e nada mais somos do que animais, bem sabemos disso, racionais, quase sempre.

Eu mergulhei em minha própria história narrada em meu livro e na história de muitos de nós através da narrativa da série. Recordei o preconceito sofrido por ser soropositivo dezenas de vezes durante a vida. Ainda sofro até os dias de hoje, em 2020. 2021 mal começou, estou em distanciamento social e ainda não deu tempo de ninguém me magoar por ser preconceituoso comigo. Pose me fez lembrar de algumas coisas. Lembrei que tive a sorte, o privilégio, de embora ter nascido pobre, ter nascido branco de olhos azuis em um país extremamente racista. Embora seja gay, ter tido a sorte de conseguir esconder minha feminilidade e assim agradado às pessoas que me dizem: “ah, mas você nem parece”, me fazendo entender que sendo masculino sou mais aceito. Nem sei se sou masculino, mas me fizeram acreditar nisso. O que é uma grande besteira, porque na maioria das vezes estou fingindo, escondendo o que tenho de mais bonito em mim, minha docilidade, minha sensibilidade, em nome de um melhor viver na cruel sociedade na qual vivemos. Em nome de não ter portas fechadas, mas isso muitas vezes na vida me fez sentir um traidor diante daqueles que simplesmente não conseguem ser diferentes, são simplesmente o que são porque não têm o talento que eu tenho pra fingir, fingi tanto que me tornei o que fingia. Mas muitos apanham por isso, são mortos e torturados por serem quem são. E isso é muito errado. É o mundo que tem que mudar, não eles!

Sei que dentre estas 18.000 pessoas que já passaram por aqui nestes anos todos, muitos são soropositivos como eu, ou talvez trans, lésbicas, gays machões, gays afeminados, gays considerados feios, bonitos, de pele branca, de pele preta, asiáticos, não importa, sei que cada um é um, e todos temos o direito de existir e ser feliz, na medida do possível, neste mundo tão lindo e tão cruel no qual vivemos.

Como tenho uma mente matemática, embora seja de Humanas, sei que quando completei 40 anos, em 2007, eu havia vivido metade da minha vida sem o vírus e a outra metade com ele. E acreditem, talvez sem ele eu tivesse sido uma pessoa extremamente fútil e vazia. O vírus me mostrou que eu não era nada aos 20 anos, independente da minha beleza física e inteligência, eu nada era, e ainda nada sou, mas ele me fez tentar ser melhor, lutar contra ele. E não sou super herói por tê-lo vencido até o dia de hoje, só tive a sorte, a benção, de ter um organismo que por alguma razão levou 12 anos para sucumbir à presença dele, e quando sucumbiu pela primeira vez, a ciência já havia feito muito mais do que ter inventado apenas o AZT, que sozinho mais matava do que salvava devido à sua toxicidade. A mesma sorte não tiveram milhões, dentre eles, amigos meus que se foram até pouco tempo atrás, e muitos, muitos famosos: Rock Hudson, Cazuza, Sandra Bréa, Lauro Corona, Fred Mercury, e tantos outros que se eu for escrever aqui nunca terminarei este post.

Matematicamente também sei que quando eu fizer 60, daqui a 7 anos, terei convivido com o vírus da Aids por 2/3 (dois terços) da minha vida. É tanto tempo! E tão pouco tempo. É muito tempo quando temos 20, mas quando temos 53, 60 anos são nada. Nem 70, e talvez nem 80, tudo depende da forma que vivemos, da forma que lidamos com as pessoas, que são a verdadeira razão para estarmos aqui, para aprendermos a lidar com elas e com nós mesmos. O resto é descartável, desaparece.

Pose nos mostra a vida e a morte dentro de uma perspectiva por muitos de nós sequer imaginada. Não estou falando do fantasma que vez ou outra aparece em alguns episódios, embora eu acredite neles e na vida espiritual. A vida é mostrada através do gueto, que a maioria de nós, acredito, não conhece na vida real. A maioria. Acredito que alguns leitores tenham convívio com essa realidade, claro, mas são minorias que acessam um blog, infelizmente. Pra ser sincero, acredito que a maioria de nós viva em uma bolha, e me incluo nisso. Na bolha da Esquerda, do Centro, da Direita, da Classe Média, da Classe B, C, D, enfim, Pose me fez sair um pouco da minha bolha, embora a temática Aids seja comum a muitos de nós, viver à margem da sociedade não é, acredito eu. E foi muito bom conhecer esse mundo, mesmo que cenográfico, porque de agora em diante vou procurar olhar os travestis com mais respeito, com menos medo, lembrando sempre que são seres humanos como nós que não tiverem um terço da chance que nós tivemos. Quando falo de respeito falo mesmo no sentido de admiração, nunca desrespeitei um travesti, mas tive medo deles. E o filme me fez entender que eles têm que se defender diariamente dentro de uma realidade por mim jamais imaginada, ou melhor, já sim imaginada, mas nunca tão bem representada através de uma câmera e um enredo.


domingo, 2 de dezembro de 2018

HIV: o que é ser uma pessoa com o vírus indetectável?



Meus queridos amigos e leitores. Já há algum tempo não apareço por aqui. Hoje é domingo, 02/12/2018. Acordei cedo para trabalhar (vida de professor em final de semestre) e dei minha usual passada pelas páginas de notícias.

Me deparei com este interessante artigo que reproduzo abaixo do site UOL. Ele fala da vida de Lucas, rapaz portador do vírus HIV que tem 24 anos. Não sei há quanto tempo ele é portador, mas sei que ele tem 24 anos de vida. Eu tenho 51, como todos já devem ter lido neste blog, adquiri o vírus em 1986, 8 anos antes de Lucas nascer, e desde então convivo com este vírus, há 31 anos, quase 32 anos já. Meu sentimento é de gratidão por viver há tantos anos com este vírus. Vi muitos amigos meus morrerem nestes 31 anos. Vi Cazuza morrer, Sandra Bréa, Betinho, Freddy Mercury e dezenas, centenas de outras pesssoas. Sinto gratidão por poder ler um artigo que diz que os soropositivos indetectáveis (meu caso há mais de 15 anos) não transmitem o vírus. Isso é notícia nova pra mim. Meus médicos não me disseram que eu não transmitia o vírus porque era indetectável, eu só sabia que estava mais seguro, ou seja, que não "corria risco" de desenvolver uma infecção oportunista. Mas as coisas não são assim tão fáceis, nestes anos todos vi muitos indetectáveis desenvolverem doenças como o câncer, morrerem de infarto do miocárdio, sim, as medicações ainda fazem uma bagunça geral no nosso corpo, aumentando drasticamente os níveis de triglicérides e outras cossitas mas.

O que eu quero dizer aos novos portadores, e àqueles que ainda sequer sabem que são portadores, mas que continuam a se expor à probabilidade de adquirirem o HIV via sexual, que esta jornada não é assim tão fácil. Os medicamentos mudam nosso corpo e organismo. Não é algo fácil. Temos que trabalhar, ir ao médico para consultas frequentemente, fazer exames de sangue com frequência também. E não podemos levantar suspeitas no trabalho, pegar atestado médico de Posto de Saúde público, no meu caso, nem pensar. Por que alguém que tem convênio médico vai a um Posto de Saúde? Enfim, 31 anos convivendo com este vírus, sobrevivendo a ele, mas mesmo assim o preconceito ainda é imenso. Não posso simplesmente contar às pessoas que o tenho, como faz o Lucas com direito a foto e tudo no artigo abaixo. Não coloquei aqui sua foto porque acho que é irrelevante, mas quem quiser vê-lo é só acessar o artigo no link que coloquei abaixo, logo após o título da matéria.

Nestes 31 anos não posso mostrar meu rosto, porque colocaria minha vida profissional em risco, isso é muito triste. Queria muito ter colocado minha cara na capa do Harte (livro que escrevi contando minha história, disponível para download aqui neste blog), mas não pude. Eu o registrei na Biblioteca Nacional, mas não pude publicá-lo porque não poderia dar nota de autógrafo, dar entrevistas, enfim, não podia aparecer. Não que eu quisesse aparecer ou ficar famosinho...rs...muito pelo contrário, sou tímido e não tenho a menor intenção de me tornar uma pessoa pública. Até apareci na TV dia destes, mas por motivos que nada têm a ver com o fato de ser portador, por outros talentos que a vida me deu...e mesmo assim, morri de vergonha das câmeras e da platéia.


E outra coisa, o fato de eu não transmitir o vírus não me coloca em posição de transar sem camisinha porque posso adquirir outros vírus, como o da Hepatite C, ou DSTs (doenças sexualmente tranmissíveis) como: sifílis, gonorréia, etc.


O legal de ser indetectável hoje em dia é o fato de não viver aquela neurose do "ai, meu Deus! Será que transmiti o vírus a ele/ela quando a camisinha estourou? Através de um sangramento na gengiva?". Deste mal não sofremos mais, do medo de prejudicar nossos parceiros sexuais sorodiscordantes (parceiros sexuais que temos e são pessoas que não têm o HIV)por acidente. Mas não podemos sair por aí transando sem camisinha porque podemos nos prejudicar, e muito! Ou seja, continua tudo a mesma coisa. A Aids, ou ser portador do HIV, não se transformou em uma simples gripe que se trata com medicamentos. É muito grave, muito sério ainda! O preconceito ainda está aí pra todos nós, ainda há países onde vou e não posso levar meus medicamentos, etc, etc, etc...


Desejo a todos os novos portadores muita sorte nesta jornada. Tenho certeza que muitas coisas boas ainda irão acontecer, em termos de melhoras nos tratamentos, etc, mas ainda não é hora de comemorar, porque ainda não há cura. No dia em que a cura chegar, e não sei se estarei aqui para ver isto, aí sim poderemos abrir mão desta coisa de látex, a camisinha, em nossas vidas. Caso contrário, por favor, continuem usando. Só deixem de usar de comum acordo com sua parceira ou parceiro. Se ambos forem positivos, ou se somente um de vocês for, não importa, o que é importa é que tudo deve ser conversado num relacionamento. Saúde e vida a longo a todos! Grande abraço!


Anderson Ferreira (Domingo, 2 de dezembro de 2018)

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HIV: o que é ser uma pessoa com o vírus indetectável?

Lucas Martins, 24 anos, é um jovem sonhador e cheio de planos para o futuro. Ele é uma das pessoas que vivem com HIV e estão indetectáveis. Ou seja, com o tratamento com medicamentos antirretrovirais, a carga viral (vírus em circulação no sangue) chega a níveis muito baixos, indetectáveis. Além da melhora significativa na qualidade de vida, essa condição impede a transmissão do HIV por via sexual.

Mas quando recebeu o diagnóstico de infecção de HIV, há quatro anos, Lucas não conhecia nada sobre a possibilidade de se tornar indetectável. "A primeira coisa que passa pela nossa cabeça é a morte. Só vamos procurar informação quando descobrimos que está acontecendo com a gente", conta.
Na semana em que se celebra os 30 anos do Dia Mundial de Luta Contra a Aids (01/12), Lucas aconselha que todas as pessoas procurem conhecer o assunto. "Eu peço que as pessoas que não têm o vírus também busquem entender mais sobre o que é o HIV e o que é a Aids. É preciso que as pessoas abram a mente sobre essas questões, para diminuir todo o preconceito existente", sugere.

Atingir carga viral indetectável

Atingir a carga viral indetectável é um caminho que depende de vários aspectos. A pessoa que vive com HIV deve seguir o tratamento com todos os cuidados necessários, fazendo o uso correto dos medicamentos antirretrovirais.
Para Lucas, o acolhimento foi essencial. "É preciso procurar tratamento e que a família, os amigos e a sociedade apoiem essas pessoas. Eu senti a necessidade de uma mão amiga quando comecei o meu tratamento. Além disso, eu gosto de frisar que o acolhimento do profissional da saúde também é essencial nesse momento. Eles são parte fundamental para que a gente tenha uma ótima adesão ao tratamento", conta.
Para as pessoas que receberam o diagnóstico de HIV e ainda relutam quanto ao tratamento, ele deixa um recado. "Peço que essas pessoas não desistam de viver. Fazendo uso dos medicamentos você tem qualidade de vida, você vive bem, você pode sonhar, você pode fazer planos. É importante entender que somos pessoas normais, como qualquer um. Em tratamento, podemos viver algumas vezes até mais que pessoas que não são portadoras. Meu recado é esse: não tenham medo!", reflete.

Tratamento no SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza teste rápidos para a detecção do vírus nas unidades de saúde do país. Em 2018, foram distribuídos 12,5 milhões de unidades. Como a detecção do vírus impacta no início precoce do tratamento, a partir de janeiro também haverá na rede pública a oferta do autoteste de HIV para populações-chave e pessoas/parceiros em uso de medicamento de pré-exposição ao vírus.
No ano que vem, serão distribuídas 400 mil unidades, inicialmente como um projeto piloto nas cidades de São Paulo, Santos, Piracicaba, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e São Bernardo do Campo, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus.
O autoteste de HIV já é vendido nas farmácias privadas do país, mas os resultados não podem ser utilizados para o diagnóstico definitivo. Em caso de resultado positivo, o Ministério da Saúde orienta que o usuário busque o serviço de saúde para testes complementares. Nas caixas de autoteste de HIV, distribuído pelo SUS, haverá um número 0800 do fabricante para tirar dúvidas e dar orientações aos usuários. Este serviço funcionará 24 horas e 7 dias por semana. Além disso, o usuário pode tirar dúvidas pelo Disque Saúde 136 e no site aids.gov.br/autoteste.
Além da testagem, o Governo Federal também financia o tratamento para o HIV/Aids no país. Desde 2013, os medicamentos (antirretrovirais) podem ser acessados nas unidades de saúde pelos soropositivos independente da quantidade de vírus que eles apresentarem no corpo. Desde a introdução do tratamento para todos, até setembro deste ano, 585 mil pessoas com HIV/aids estavam em tratamento no país. A maioria, 87%, fazem uso do dolutegravir, um dos melhores medicamentos do mundo que está disponível gratuitamente no SUS.
O medicamento aumenta em 42% a chance de supressão viral (que é diminuição da carga viral do HIV no sangue) entre adultos, quando comparado ao tratamento anterior, usando o efavirenz. Além disso, a resposta virológica com o dolutegravir é mais rápida: no terceiro mês de uso mais de 87% os usuários já apresentam supressão viral, segundo estudos realizados pelo Ministério da Saúde.
Como se transmite o HIV
Assim pega:
·         Sexo vaginal, anal e oral sem camisinha;
·          Uso de seringa por mais de uma pessoa;
·         Transfusão de sangue contaminado;
·          Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação;
·         Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

Assim não pega:
·         Sexo desde que se use corretamente a camisinha;
·         Masturbação a dois;
·         Beijo no rosto ou na boca;
·         Suor e lágrima;
·         Picada de inseto;
·         Aperto de mão ou abraço;
·         Sabonete, toalha e lençóis;
·         Talheres e copos;
·         Assento de ônibus;
·         Piscina;
·         Banheiro;
·         Doação de sangue;
·         Pelo ar.
Dia Mundial de Luta contra a Aids

Há 30 anos, no dia 27 de outubro de 1988, a Assembleia Geral da ONU e a Organização Mundial de Saúde instituíram o dia 1º de dezembro como o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Cinco anos após a descoberta do vírus causador da aids, o HIV, 65,7 mil pessoas já tinham sido diagnosticadas com o vírus e 38 mil já tinham falecido.
Como parte das comemorações do dia 1º de dezembro, o Ministério da Saúde resgatou a confecção de colchas de retalhos, os chamados quilts, com mensagens de otimismo para quem vive com o vírus. E estendeu um mosaico, formado por essas colchas, em um dos gramados da Esplanada dos Ministérios. O material foi produzido por milhares de pessoas em várias partes do país que utilizaram uma plataforma digital para produzir a sua mensagem de apoio à causa.
Além disso, para marcar a data e relembrar as lutas e todas as conquistas na resposta global ao HIV, o Ministério da Saúde, lançou uma nova campanha publicitária contra a aids que tem sido veiculada desde o dia 28 de novembro.

* Por: Janaina  Bolonezi, para o Blog da Saúde